quinta-feira, 30 de agosto de 2007

No teatro...

Que eu entrei para distrair minha alma perva, somente por isso. Não quero ser ator, não tenho o drama que corre nos pulsos de Bel, esse sim tem talento!
Mas já fiz e gosto muito de teatro, gosto do clima mambembe de ser, gosto dos exercicios de voz, respiração, é como uma terapia.

Então, no meu primeiro dia de aula, eu fui com Bel, eu tava fumado, e acabei indo assim mesmo, não é que eu rir muito? e achei tudo muito chato tambem, o elenco é bastante fraco. O professor de teatro me perguntou o que eu queria no teatro.

"Me divertir. Só isso."

O que você espera do teatro?

"Nada. Só me divertir."

Você quer se divertir, ou quer que os outros se divirtam com você?

"As duas coisas. É que eu sou meio hedonista."

Ahhhn... hedonista... alguem sabe o que hedonista?

Ninguem sabia, e ele explicou, e me deu um papel_ quando todos já tinham o seu personagem fixo, até mesmo Bel que entrou no mesmo dia que eu._ de um personagem hedonista. Oquei. Fácil. eu pensei.

Uma peça sobre pessoas, uma peça sobre pessoas... Você gosta de pessoas? Eu as vezes odeio as pessoas, se isso tudo tivesse sangue a gente iria dar mais valor, acrescento o dinheiro e tudo fica par e redondo, na verdade; verdadeiro.
Do risinho vem o esporro lá no fundo: "Ria dos outros quando você estiver fazendo algo certo!"
O elenco desconcentrado, abatido, artificial, uma peça triste sobre escola publica, personagens clichês, o que me faz lembrar das minhas peças de escola, que não sei porquê, eu era sempre o maconheiro.
O Deus de Gabo é gay, e quem come ele é aquele personagem negro, revoltado. Cheguei apostar com os meus botões que Ronaldo Braga, o diretor, toma uns comprimidos depois dos ensaios, ou vai para o bar mais próximo.

Vou falar sobre teatro, não fique tão sério Gabo, alivie os musculos do seu rosto e sorria.

"É que eu tô entrando num personagem que dar um show no inicio, e desanda no final, quando as lágrimas secam, eu tenho que falar dessa escola publica, e tudo fica parecendo uma emenda, uma obrigação de falar sobre escola publica."

Meu nome é Bel, e vim para botar pra fuder!

Meu nome é Rafael, gostaria muito de ser o diretor corrupto, mas acho que hoje eu vou ser um Deus honesto... (aemeodeos...)

Meu nome é Tiago e vou fazer um aluno rebelde sem causa.

Ei de novo! Meu nome todo é Rafael Cruz, mas não moro em Cruz, mas eu nasci lá... Bem... eu não vou ser o aluno rebelde, nem a mártir, nem o diretor cuzão, muito menos a estudante que fez sexo na biblioteca consultando as posições de Kama-Sutra... (Que idéia fabulosa!) Me desculpem, mas hoje, eu vou ser um critico de teatro.
Estavamos todos posicionados, foi o primeiro ato, o segundo, o terceiro, bem.. foi a peça inteira. E no fim, o professor me convidou para eu apresentar meu papel, o tal do personagem hedonista.

"Errr... Eu vou ficar aqui no meio, e quero me sentar no chão tambem porque eu gosto do frio e fui um hippie na vida passada..."

Bora Bora Rafael! Sem muita lenga-lenga! apresenta logo seu personagem! Não temos muito tempo não!

Brochei, e tudo ficou com a nitidez de que eu não fui bem quisto.

"Posso fazer o critico de teatro agora?"

É o primeiro grupo de teatro em que as pessoas parecem todas infelizes, como num encontro corajoso de alcolatras anônimos.
Antes de começar a falar, eu queria pedir pra vocês não trocarem as bolas, por favor garotos, folguem os parafusos, está bem? Se você faz um personagem mal, me faça lhe odiar, mas hoje eu senti tesão pela maldade, eu, que fui a plateia durante todo tempo, deu-me vontade de estrangular o diretor da escola, o que prova meu querido, que você é um ótimo vilão, já que o seu lado bom me dava repugnância.
Acho mesmo que vocês são ruins porque tem medo, tem medo do novo, tem medo de correr riscos no divã do teatro, porque o teatro é o analista que bate na tua cara quando você chora. O teatro ta cagando pra sua dor, por isso, controle seu choro, e estrangule seu riso. O teatro foi feito para agradar a sí mesmo, e não o diretor.
Trilhões de pessoas moram no universo, e são quase todas tristes.
A peça ta no começo ainda, ta em constante transformação, e deixo claro aqui, que nem temos um roteiro, só um enrredo, estamos improvisando, ensaiando, colocando as coisas no lugar, por enquanto.

O diretor da escola: (falando ao telefone, "com certeza com um homem") Oi meu amor... Pode pegar sim, chego mais cedo hoje, até mais, tchau. (desliga o telefone, depois de uns minutos o telefone toca novamente e ele atende. dar uma tossida para engrossar a voz antes de falar.) Pois não? Sim dona Judith! Pode mandar entrar!

Aí nessa cena os alunos vândalos entram na sala do diretor, e como todo personagem marginal, senta na cadeira de qualquer jeito, todo largado.
O diretor da escola: Novamente vocês por aqui! Sentem-se direito! Vocês não estão na sua casa!
O aluno 3: Escola! Como vocês dizem, sua segunda casa!
O diretor da escola: É... Bem... Não sei... Hãn?! Ei você! Menina com cara de santa! Você foi pega fazendo sexo na biblioteca, ao lado de um livro de kama-sutra.
A aluna: E daí diretor? Estava transando com os livros, achei lá calmo, poético, envolvente, cheio de aventura e palavras de amor...
O diretor: Não pode! Não pode! Não é lugar!
A aluna: O senhor diz isso porque não é mulher! Eu tenho meus desejo! Eu tenho nes-ces-si-da-des! O que há com você?
O diretor: O que há comigo?
A aluna: É. Só foi uma foda diretor, e usamos camisinha. "Você sabia que a mulher tem um apetite sexual dez vezes maior que o seu, amigo meu?" Quando ela quer, não tem hora, nem lugar não.
O diretor: Não sou seu amigo. Sou seu diretor!
A aluna: E o que o senhor quer que eu diga?
O diretor: O que eu quero ouvir.
A aluna: O senhor não gostaria de saber o que eu tenho pra falar.
O diretor: O quê?!
A aluna: Ta legal! A escola inteira acha que o senhor é gay, e pelo aspecto de hoje, que não faz sexo há anos tambem!
O diretor: O quê ?!??!
Saia da minha sala! Saia da minha sala agora! 15 dias de suspenção! Por que você ta me olhando assim? Me acha com cara de idiota?
A aluna: Acho. Um idiota que não faz sexo há muito tempo. Quanto tempo mesmo?
O diretor: 9 meses, acho.
A aluna: Então, come angustia frita, pari abstinência assada. O seu pau lateja diretor, quer me suspender da escola porque no fundo queria estar no meu lugar, o senhor gostaria de estar praticando as posições do kama-sutra na biblioteca, com o meu homem. Você é infeliz e a escola é mal pintada, você não sabe lidar com o seus demônios, é uma daquelas pessoas que sabe uma piada fantástica, mas é mudo. Gosta de escrever, mas vive no escuro. É como aquele garoto que ganhou um computador, mas não sabe mecher. Embora amor o senhor tenha, o senhor não sabe usa-lo.

O diretor dar uma bofetada na cara da aluna, e a escurraça da sala dele, nos gritos. O namorado da menina, covarde, parado está, parado se encontra. O diretor; suco de laranja podre, não mais sentia a saliva, andava de um lado para o outro, com uma dureza no olhar, um silêncio denso tomava conta da sala e do palco durante uns bons minutos.

O diretor: Tire a roupa.

O aluno 3: ...

O diretor: Não ouviu? Tire a roupa!

O aluno 3: Como?

O diretor: É surdo? Eu mandei tirar a roupa! Tire a roupa!

As roupas do garoto parecem sair com medo e por vontade própria, ninguem pensava mais ali, nu ele se encontra, nu ele está. Dois passos diante de um corpo e o diretor balbucia as seguintes palavras...

"No seu falo minha boca se encontra, na minha fala; adormeço."

Quem quiser aplaudir aplauda, quem quiser vaiar, vaia.

(Continua...)






2 comentários:

Isa Dora disse...

HAahahaha. Eu achei muito bom.

Guilherme N. M. Muzulon disse...

Eu quero vaiar e lhe entregar todas as minhas forças, pois é só gritando com a garganta a arrebentar que sou capaz de atribuir valores. Cara, congratulations!