terça-feira, 7 de agosto de 2007

Maria Depressiva e José.

-Uma buceta triste faz jus aos olhos da dona.

-Ta me chamando de triste? Me poupe.

-Não, não é isso. ah! não é todo mundo que goza no paraíso minha linda... Aliás, quem goza no paraíso é Geová!

-Você já me convenceu que é um psicopata.

-Como será que um crente fervoroso goza? "Ai senhor! Oh senhor! Eu vou gozar senhor! Posso? Gozei Deus! Gozei! Oh pai! Oh pastor!



Ô meu Deus, eu não tô rindo disso numa multidão de risos, eu estou rindo numa platéia de palhaços, que são todos tristes e fazem piadas usando a desgraça em pó.



-Para com isso José! Não fala assim de Deus! Olha, eu sou louca por Deus, eu sou paga-pau de Jesus! Puxo o saco dele mesmo... Ô meu Deus, me dá um celular igual ao de Luly... Ó José, se tu fosse um filho meu, eu não ia gostar de tu...

-As vezes eu acho que vou ficar louco de tanto rir.

-Eu as vezes vejo umas luzes emboladas assim, acho que é uma fonte, eu tô jogada a loucura, só Cristo que ta no nucleo de minha mente que sabe.



Ai meu Deus, eu só tô escrevendo besteira hoje... hoje que é um dia bom para esquecer, quando eu terminar de escrever, eu vou dormir o sono dos justos, porque eu mereço.



-E tu acreditou?

-Em quem?

-Nele.

-Não posso mais acreditar no namorado do meu namorado? Ele sofreu comigo!

-Ele só queria te comer Maria!



Maria Depressiva esconde sua liberdade com maquiagem e rimel.



-Eu ia bater numa professora. E eu já fiz o esquema de matar a minha mãe, eu, que sou um monstro, vou matá-la com o veneno mais cruel, o sofrimento. Vou alimenta-la com tristeza e leite quente, minha mãe vai morrer de tanto chorar, e eu não vou mudar isso, porque a quero morta. Depois, eu vou me morder inteira, vou cortar os meus braços e vou entrar em eclipse, eu bati na professora, bati mesmo. Esqueci o que eu tava falando... O que eu iria escrever depois disso? Como faço para pagar o pato? Achar o porco. Eu sou agressiva, cheia de maquiagem e vernis, por isso você não nota, meu caro.

-Qual é a sua maior dor?

-Tive o desprazer de criar uma letra de pagode. Eu sempre faço isso, desconstruo artes e desconcerto poesias que me dão.

-Me poupe.

-Errrr... O que eu ia falar mesmo?

-Sei lá. Esqueci.

-Ah! Não quero mais casar com você! Não tenho vocação para Zélia Gatai.

-É a mulher de Jorge Amado, não é?

-Já pensou se todo mundo enxergasse como eu enxergo? Eu nunca iria saber que isso era uma estante.

-É um livro.

-Um livro?

-É Nina. Um livro.

-Que curioso! A namorada do meu amigo é lésbica. Foi a minha namorada que me contou. Você dorme sempre de roupa?

-As vezes.

-Não durma. Faz mal.

-É?

-É.

-Então não durmo.

-... E vai dormir nu?

-Tenho outra opção?

-Não.

-Então.

-Acho que não. Você não me trairia.

-Aham.

-Não.

-Não o quê?

-Nada.

-Então me deixe escrever.

-Ai, eu queria tanto dizer agora "Eu gosto tanto de parafuso e prego...". Mas a Macabéa já disse, não quero imitá-la. Ta rindo de quê? Ta lendo os meus pensamentos?

-Por quê? Está pensando algo engraçado? Ta rindo de quê?

-Dos seus olhos.

-São engraçados?

-Não. São tão tristes...

-E por que você ta rindo?

-Para não chorar, não quero chorar. Eu destruir um bar inteiro antes de vim pra sua casa, eu estou bêbada, e não tem mais nada de mim membro amor, eu estou com você por coiecidência, um rolo de qualquer coisa, uma massa estragada. Eu não era pequena há oito anos atrás, eu dava tanta risada há oito anos atrás... Eu era campeã nas competições de risadas.

-Eu só me lembro de você ter sido miss Caipirinha.

-Fui vodka na quinta série, miss trip na oitava, para os maconheiros do recôncavo baiano.

-Que prudente Nina!

-Deus que o diga, meu caro! Ah! Chega de comboios! Eu vou embora, depois de chegar em casa, eu vou beijar a boca de quem não amo, e vou dormir com a faca entre os dentes escondidos de você.

-Você veio do lixo da Xuxa.

-Ora! Não seja promiscuo!

-Não seja prolixa Nina.

-Comboios, simulacros, parcos, heterossexuais, que se foda essa porra toda! Mas não quebre minha makete!

-Ta Maria, me deixe escrever.

-Eu acho tão bonito você escrevendo.

-Escrevo em pé. Como o Pessoa.

-O chato é que você fica parado.

-Eu tenho tanto medo de dor de barriga em dias errados.

-Um medo de merda! Tenho mais medo é da dor de cabeça! Isso sim! De conciência pesada.

-Ora! Me deixe! Me parta!

-E essa tela?

-Eu como pintor, sou um ótimo escritor, sabia?

-Você não presta nem para ser o meu inimigo, inhaca, uma mistura de cheiros.

-Posso saber por quê?

-Porque você se apaixona com qualquer verdade que sai da minha boca. Tem que me odiar, seu otário.

-Mas eu lhe odeio, você que não nota. Um dos melhores ódios são os ódios aveludados, os ódios escondidos, ódio safra meia oito. Aquele que te mata e você não percebe.

-Espera aí. Quer dizer que ele me cega?

-Oh! Tolinha... Todo ódio cega.

-Não me trate como uma criança capaz de lhe odiar! Eu sou uma velha esquisitona, sou inteligente, e manejo bem as palavras, posso te detonar.

-Ah Maria, chega de terrorismos por hoje!



José levantou da cama, encostando a maquina de escrever ao lado, vestiu-se. e foi no banheiro escovar os dentes. Maria faz o mesmo, levanta e vai nua até o espelho, se olha, repara nas lagrimas inundando um olhar. Vai até o banheiro onde José lava os dentes, ele logo percebe sua presença sinuosa, o seu corpo bem feito, mas é só. O seu desejo não se alterou entre suas calças, José estava bastante envolvido em escrever a matéria que, dizem por aí, sairá na primeira Folha do jornal importante.

-Sabe Nina, as pessoas perguntam porque eu ainda uso maquina de escrever, ta, eu sei que é como patinar na lama, mas...

-É um presente do seu pai, e é como se ele escrevesse pra você!

-É.

-Já parou para pensar que é por isso que as pessoas não gostam das sua matérias?

-Por que você ficou assim, tão amarga de uma hora pra outra?

-Eu tô chafurdada na lama, olhe para o chão que pisa. Passo anos sem vim aqui, e quando te reencontro, trago lama para a sua casa, com as minhas botas tristes.

-Adoro-te Doroth. Mas não suje o meu carpete importado com as suas botas tristes e o seu nariz interiormente branco.

-Ta. Eu já entendi.

-Volte amanhã menina. Descalça.



Maria Depressiva foi vista andando nua pelas ruas do Pelourinho, em plena madrugada que não é dela, a procura do seu espirito de porco, hoje, tão parco.

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