quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Maria Depressiva reencontra uma antiga paixão.

Primeiro; o silêncio. Fechou os olhos durantes alguns minutos, estava numa rua movimentada, mas não ouvia nada.
Tambem não estava meditando, estava num café da esquina. suas mãos em volta da chícara quente, a fumaça do café saindo e tocando sua face, tudo aquilo aliviava a dor de Maria, não era mais eficiente que seu vocodin ilegal, mas era uma brisa natural, o que era bem melhor. Podia sentir o tempo passar, podia sentir tudo, a brisa, os instantes do que ela já viveu e do que ainda tem para viver, um misto disso tudo num tom bem aurora boreal de começo da manhã, vê as pessoas de outra forma, de outro ângulo, um pouco distorcido, e a verdade das pessoas não é tudo aquilo que se mostra, nem toda verdade é relevante, nem as pessoas só ficam juntas para serem felizes. O que te faz pensar isso? existe a tranquilidade, a estabilidade. O amor brando nesses tempos de cólera, em tempo de lágrimas, chorar miséria é bobagem. Era ainda muito cedo, e algumas pessoas ainda dormiam, mas a rua estava movimentada.
Ah! Seria tudo tão mais fácil se Maria se assistisse de vez em quando! Ela iria notar o que as pessoas notam quando ela está distraída, o seu sorriso sincero que se exibe na janela sem o seu consentimento, os seus olhos de neon, a simplicidade, como uma máscara de barro que se flagela, e ela não nota, não nota porque está olhando as graças do mundo, as bicicletas e os andantes.
Ela até sabe o caminho, ela até tem a chave, mas tem medo de se encontrar, ta sempre adiando esse encontro, apelidou a vida recém-nascida que está do outro lado de, "muro da paúra". Tem medo de perder o charme.
Quando Maria se encontrar, ela vai ser mãe de sí mesma, porque nada se apaga, ela vai se encontrando, se esbarrando em paredes, andando por linhas amarguradas, o que eu chamo de linhaço. José viu a alma dela no dia em que ela usava o seu melhor disfarce, mas isso não é para todos, Bahia.
Maria abre os olhos, olha ao redor, olha para fora da janela, vê um rapaz bonito passando pela calçada em frente ao café, pensa:
"E se eu ficasse aqui, debruçada nessa janela, e ele me visse do alto... Será que ele se apaixonaria por mim? Estou aqui e faz uma manhã inspiradora para a Maria Bethania um pouco mais decadente."
-Maria?!

O seu olhar se desfez de qualquer explicação pesada, quem tinha aqueles olhos não precisava explicar porque guardava bostas debaixo da cama desforrada, é tão triste e tão intimista, sabe um monte de piada, mas é muda. "Muda é arcada dentária do animal, pela qual se deduz a idade."
Dalí a pintaria hoje se tivesse tintas. Salvador, terra de quase todos os santos, cidade segura onde crianças cheiram cola, deprimindo que raramente os nota. Bahia tranquila que rouba poucos pobres, terra da tarde de Itapuã, que tambem fica triste. Itapuã é como aquelas estrelas de cinema, mulher bonita e sorridente, porém, todos os seus sorrisos são falsos. Ensaia sempre quando sai de casa, e fecha aspas.

-Sou o Lourival, nos conhecemos na escola de olhares da arte, era uma noite estrelada de Boas Graças, lembra?
-Me desculpe, não lembro. O acido roubou minhas lembranças, boas e ruins, graças a Deus. Foi um risco, não tenho memória e posso gozar em paz, mas tambem posso perder o amor da minha vida por não me lembrar dele na manhã seguinte, vai ver você na minha viagem era um demônio, e eu, uma princesa maia. é um risco em folhas limpas para ser feliz, e eu estava afim de correr, de pular a cerca farpada dos meus limites.
-Eu sou livre porque penso.
-Já leu Admirável Mundo Novo?
-Não gosto de Aldols Huxley.
-Por quê?
-Ele me negou uma perna.
-Livre porque penso...
-A liberdade é a ditadura do corpo, a liberdade não existe exteriormente, a liberdade mora na casa de mente, a ética se tranca entre musculos. Mas você me falava de seus sentimentos...
-Tomei algo para morrer essa manhã, só estou esperando fazer o efeito.
-Quer mesmo morrer na rua?
-Quero morrer vivendo. Descobri que choro todas as noites sem saber, acnes, aids, amor, ta tudo escondido dentro de mim, eu só posso revelar uma verdade de cada vez, sou sensivel e morro com devaneios, overdose de devaneios peculiares.
-Você sempre bebeu muito, por isso não lembra de mim.
-Alcool e direção não combinam, já dizia o slogam.
-Você é triste. Dizia o outtdoor.
-E o que você vê?
-Tudo que eu ainda não vi.
-É o meu grito!
-Gorda chulada, a gente não sabe de nada. Somos autoramas tirados da pista.
-Eu perdi de escrever tanta coisa boa por ser uma só... por só ter duas mãos.
-Há gente pior, que vive com fome e não pode pensar.
-Não vou desistir de ser melhor por causa deles.
-Você não perdeu sua maldade.
-Nem posso. Ela é orgânica.
-Cigarros?
-Sim. Ei! Peraí! Eu me lembro de você! Você é o cara que eu ouvia jazz internos quando eu te via passar... Nunca entendi porque Billie Holiday povoava minha cabeça quando eu te via.
-Isso eu não sabia.
-A gente não sabe de nada, gorda chulada. Fomos abortados pelo tempo, tem tanta coisa morta pra gente conversar, erámos um seriado ruim que passava na tevê aberta nos resquicios da noite, demos um intervalo e esqueceram de pôr a gente no ar novamente, porque ninguem nos assistia, enquanto a gente se amava todo mundo dormia.
-Eu... Eu preciso ir Maria. Foi bom te reencontrar.
-Mas já? Fique mais um pouco. Tome um café comigo, pelo menos. Vamos ver a cidade se desenvolvendo com o céu.
-A qualidade do céu, é o sol se pondo. É um sol cicerone. Quem ganha pouco, tem que ter esperança, pelo menos. Minha vida não anda facil, eu tô correndo contra o vento senil, na onda jovem, no meio da praia me chapando de pinã colada.
-Hum... Que interessante sua vida!
-Ganho pouco, um salário de merda, não sou filho de Deus, não sou filho de Gandhi, sou uma manchete de jornal, aquelas que você dorme onde não tem onde dormir.
-Prefiro o abraço do ACDC. *subliminar*
-Até mais Maria, tenha uma boa morte.
-Eu vou morrer?
-Você não tomou cicuta para se transformar no que te agrada? Um sonho ruim, é isso que você é, o que não é defeito, de fato.
-Artigo 1999, morrer, morrer, morrer, não resistir ao minado pensamento. Eu quero transar com você.
-Gostaria de morrer nos meus braços?
-Entre suas pernas tambem.

Foram logo alí, numa casa logo alí, se amaram logo alí. Lourival morreu nos braços de Maria Depressiva,entre suas pernas tambem.
Ingeriu cicuta bem antes dela pensar em nascer.

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