quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Joana e Xavier.



Olha como é a arte didática. Eu começo desenhando numa tela cara, e com medo de ser suja, vou fazendo uma pira domenical, misturando os bolos, os glacês. Todos deram palpites, pitacos de coisa nenhuma:



"Não entorte o pincel, seu torto."

"Não firme a cor preta numa peça branca, vão pensar que você tem depressão."

Era tanto palpite que eu perdia a identidade, que é a lua, é a tristeza, o carnaval e o medo em confetes, a paúra em serpentinas.

E a baiana mulata dança, eu vejo a sua nudez-carvão em corpo delgado, onde os homens a noite tentam andar em movimentos retilínios; Todos os bêbados caem!



Xavier, antes de tudo, eu quero falar com você. Você pode se trancar no banheiro comigo?

Dois metros quadrados de azulejo branco e liso. Uma conversa franca tentava ser ouvida entre um punk rock na sala.

Ela chorou, até pelo que eu lembre, nem tanto, é que os olhos dela são grandes e molhados, um mangá desanimado desenhado por alguem triste. Juh, não se tranque a tarde inteira. Não vale a pena se livrar do sol, ele está em todo lugar, e a todos acolhe, e irrita faz décadas a fio.



A ninfomaníaca_Digo assim porque estou com ódio dela._ chorou porque não aguentava mais, seu nome era Joana, o meu é Xavier, já dito.

Muitas mulheres queriam beijar a minha boca bêbada, e acariciar a minha barba cansada, enquanto eu estou preso num banheiro de um bar.

Ela dizia que estava sem alma sem mim, que chorava de barriga vazial, que o seu feto morria de fome, Joana e o filho dela precisava me comer urgente. Mas, eu gozava com a minha puta, e limpava a minha porra com folhas brancas para não deixar vestigios de algo meu.

Seca rápido, amarelo fica.

Um viscoço fiasco. Um fiasco em pó.


Olha Joana...

Não vá embora, me deixe falar!

Isso ta tão Nelson Rodrigues... Um dia, Deus vai me dar um gravador, para eu não perder nenhum momento da minha vida, e poupar os meus dedos.

Seria muito bom. Você daria atenção a mim.

...

Porque você é assim hein, Xavier?

Eu preciso sair daqui, eu tenho claustrofobia.

Eu só quero ser um pouco você.

Não se sinta a mártir privilegiada, eu sou assim com todas, o detalhe rasgado não é só seu.

Eu só quero que você faça...



Eu chupei a lingua de Joana, depois eu desci, passei pelos mamilos rugosos e friorentos, umbigo de mim ao lado do caminho da perdição, passando pelo Cabo das tormentas, chegando na mata desmatada, eu tirei um cochilo jóia, numa gruta suada, em que a minha ligua, com sede, se sacia.



Não suporto mais te suportar!

Use a saída de emergência.

Você gosta das marcas do meu pulso, são como nuvens pra você, você vê desenhos se formando nelas e fica lindo.

Uma nova versão de uma velha música.

Você está pedindo para eu ir embora?

Só para que destranque a porta do banheiro, tenho fobia ao quadrado.

Quer papel higiênico?

As vezes.

Ai meu Deus, você me droga, me controla o tempo inteiro, eu me sinto vulnerável dentro dessa caixa branca!

Então abra a porta! Aqui é tão pequeno para nós dois! Estamos nos estapiando!

Vespa solitária!

Ninfomâniaca casta!

Abre essa porra Xavier!

Eu estou tentando! Mas parece que estamos trancados um no outro, como aquele presente que você deu para minha mãe, como as minhas pinturas, putas-tristes.

Arrombe os meus sentimentos agora! Eu quero sair daqui!

Se afasta beibe!



O reto pé de Xavier veio fundo no estômago onde Joana escondia um bebê.

Dele.

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