quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

GULA



Eu quero comer de tudo um muito.

Eu quero comer o que me engorda.

O que mata.

E o que me fortalece.

Meter os quatros dedos na boca, vomitar e me sentir bem.

Eu queria ter uma banheira

Eu queria ter uma banheira.
Dessas grandes, alvas, de uma brancura celestial.
Eu queria poder afogar-me numa dessas banheiras brancas com água térmica e aromatizada, completamente nú.
Por um segundo queria me sentir no bico de um pelicano, ou novamente no pelico de minha mãe.
Sentindo intimamente o vapor barato dessa água perfumada tocar meu rosto.
Com a cara pra cima, olhando para o teto encardido que ameaça cair sobre mim.
Como o céu vulnerável que ameaça cair todos os dias sob nossas cabeças.
Eu queria olhar além do teto, além das nuvens e das estrelas, eu queria ver a face de deus, se é que ele tem mesmo face.
Será que deus tem espinhas?(!)
Como é deliciosa a sensação de não pensar em nada!
Mais deliciosa ainda é se pegar subitamente não pensando em coisa alguma, o susto pregado na conciência depois da apátia.
É bom estar só nessas manhãs de inverno, acordar sentindo o hálito doce do ontem bom, numa cama espaçosa e vazia.

Sentir o corpo amolecer devagar, destravar, abstrar, levantar bandeira branca.

Olhando o azul anil pela janela, ouvindo blues sujão, Trixie Smith travando batalha com a pornofonia do vizinho do lado, as crianças brincando na rua, aproveitando o recesso da chuva que ameaça desabar São Paulo...

Ouvir o inaudível, sentir a presença do invisivel, da alegria repentina, da tristeza matutina, da serpentina, do confete, da vontade da falta do que fazer.

Inventar frases feitas e rimas de amor.

Imaginar Judy Garland cheirando uma carreirinha com o mágico de Oz, enquanto eu sigo os tijolos amarelos já sabendo onde vai dar.

Brincar de esconde-esconde com a felicidade é procurar deus na multidão.

Mais tarde sair protegido por uma dessas ruas desertas, encontrar pessoas turvas e pedir cigarros.

Respirar fundo o cheiro singular da madrugada. Bater na tua porta e te receber sorrindo com um cigarro acesso entre os dedos.

Dizer que fiz um poema novo.

Você me oferecer fumo e eu recusar, você me xingar de careta burguês... E eu rir.

Logo mais voltar pra casa, tomar um café, afanar um cão, ler Pessoa e ser alegre.

(Este poema é dedicado a estranha flor do meu jardim. Bia.)

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Palavras Cruzadas Parte I


Os viciados procuram palavras heroínas, palavras que os salvem do vício da solidão e do pó.
Como aspira dor, eleva dor, congela dor.
As vagabundas procuram classificar dor, entre Gregos e Troianos.
Os condenados e os medíocres preferem liquidificar dor, picar em pedacinhos, dividi-las em partes.
Os otimistas preferem a ilusão de modelar dor, tranquilizar dor.
Já os suicidas preferem a covardia de anular dor, matar dor.
Os caretas e suas filosófias copiadas de Best sellers enfadonhos preferem bajular dor.
As madames com os seus passados estranhos preferem prender dor, cortar e barbear dor.
Os modernos acham mais fácil computa dor, mais prático.
Os heróis só vão para Salva dor.
Os covardes dispensam escadas, preferem eleva dor.
E assim vamos vivendo...
Ora ou outra cuspindo o fel dos comentários maldosos misturado com a cachaça no bar.
Na capela do banheiro, como um Narciso bêbado.
Vendo a minha cara de babaca refletida na agua sanitária, mais enjôo se me dá.

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Boca do diabo


Em breve mermo, agora tô com preguiça de finalizar rascunhos...
Mas em breve irei postar aqui os meus poemas infames e o conto real do
"A pupila preferida do Velho safado"

É só aguardar... Por enquanto ficaremos com o primeiro 'poemeto' feito por minha autoria.
__BOCA DO DIABO__

Lave sua boca com água ardente antes de me julgar.
pois o sangue que agora escorre do meu corpo mórbido,
é o mesmo que saia das tuas pernas
naquela noite suja...

Dom Quixote__ O Cavaleiro da Triste Figura

Em meados do século XXI, um triste rapaz procurava se entender, vivia muito entre os seus livros, não tinha muitos amigos, poucos de zoação, era dono de uma triste figura. Esguio, maltrapilho, all star sujo e rasgado de diversas batalhas, cabelos crespos desgrenhados, e um casaco preto, velho de guerra, em que muitos companheiros vinham disputar por meia hora de quentura, disputando a rabugem de um cão sarnento.
Era um menino diferente dos outros meninos do seu tempo, ele lia, e (lendo procurava aprender.) Escrevia mal... Porém alguns erros de ortografia e garranchos, (escrevendo procurava se entender). Escrevia coisas cruas e verdadeiras, que nem parede descascada. Não via sentido em futebol, mas gostava de escutar rock.
Gostava das poesias de Morrison e Dylan, tinha por Lou Reed um eterno carinho, em tudo via psicodélia, até mesmo numa folha seca caindo duma arvore. Bebia até cair, gostava de absinto e dançava rock a sua maneira... Ele se chamava Rafael, o burguês.
Apelido dado pelos grazzers. Mas ele não gostava...
Assistia os clássicos do cinema torcendo pelos vilões, ele achava a vilania de um charme preciso, em todos os contos que escrevia sempre matava os mocinhos, não tinha saco para mesmices!
Sempre andava com um livro debaixo do braço. Dom Quixote. E era motivo de chacota entre os amigos por andar assim, mas ele se identificava, queria lutar em prol de alguma coisa, nem que seja pelas causas perdidas... Queria vestir uma armadura e sair por aí enfrentando moinhos de vento, procurava alguém que falasse a sua língua, a língua da loucura do amor e do ódio, meteu na sua cabeça como quem mete a fumaça de um morrão, que iria encontrar o seu yang, a sua outra parte de uma língua desconhecida.
E foi, vestiu seu velho casaco de guerra, e partiu para a terra do nunca com os seus dois fiéis escudeiros. O homem de lata que almejava um coração, e creio eu que já encontrou. E um espantalho sem cérebro, que procurava encontrar o seu lar, e que andas cansado de ser pinico de pombos.
A cidade era morta como seus habitantes...
Ouve-se um som, vinham de um estádio, guerreiros de pretos gladiando como loucos. Nos drogamos para criar forças e lutar como igual, daí vem o apelido dele.
Dom Quixote_ por ler Dom Quixote.
E O Cavaleiro da Triste Figura_ por ter nóias tristes.
As pessoas eram mortas, menos três belas plebéias, que respiravam fundo, sentadas juntas, de preto. O leão covarde oferece maconha.

-Quer?
-Quero!!!

Eu vi quando ela me viu, seus olhos não tiravam dos meus, eram olhos claros, de uma lucidez absurda. Corpo e alma toda fumada, mas olhos belos e lúcidos. Olhos de bruxa. Ela se chamava Dulcinéia, mas tinha áurea de Brida. Suas amigas chamavam-se Cristiane F. e Crisnóia.
Eram junkies legais, mas não bebiam, fumava até a bagana, mas não bebiam. Queria ter o poder de estar por cima de nós ébrios.
Ducinéia ria da forma que eu gladiava com os loucos pseudo-inimigos meus. Todos se matando, e eu entre solavancos e sopapos, quedas e suplícios, gladiava singularmente, de uma forma só minha, estupidamente engraçada.

-Sabe o que é ótimo para lubrificar a boca depois de um basy?
-O quê?
-Um beijo de língua!

Foi a partir daí que eu conseguir entender a língua da loucura-amor-ódio, todas por uma, reza a lenda que a única pessoa que tentou separa-la suicidou-se num outdoor de olhos, que mantinha o seguinte anuncio: Social-eyes witch Dark Eyes Vodka.

Foi um beijo demorado a procura de saliva, como que se tivesse descido ao um poço fundo para buscar água e ter voltado de lá com a verdade.
Ela sentiu frio, e pediu a minha armadura emprestada. Eu dei. Era bela e vulgar, como as vilãs do meu conto. Conduzia o meu dedo a sua xana...
Ducinéia me convida para gladiar no meio do inferno, onde os loucos gladiavam com a sombra, entre guitarras distorcidas e gritos estridentes de uma catarse agressiva.
Fomos. Ela dizia que sempre me esperou que me amava e que queria seguir comigo. Eu nunca acreditei. Talvez um dia eu acredite.

Até lá dançamos conforme a musica da insânia.
Entre algumas goladas homeopáticas de vodka, e entre umas e outras batalhas da agonia, suportaremos até o fim.
Dom Quixote, o cavaleiro tropegante não venceu a batalha do Nunca, mas conquistou Dulcinéia e suas amigas.
Hoje ele pretende conquistar o mundo com os seus garranchos e verdades.

domingo, 10 de dezembro de 2006

The dark side of the Moon e o Mágico de Oz


Um dos meu filmes favoritos.
O mágico de Oz teve quatro diretores. Richard Thorp que filmou por algumas semanas, mas que foi demitido pelos produtores, George Cukor como diretor temporário. Victor Fleming assumiu logo em seguida, mas teve que abandonar as gravações porque foi contratado para filmar o filme E o vento levou... Após a saída de Fleming, King Vidor foi contratado para assumir o posto, sendo que ele só gravou as filmagens em preto e branco, situada no Kansas.

Eu achava que o livro de L. Frank Baum era toda essa fantasia única, que apesar de infantil passava uma mensagem bacana para o leitor, mas me enganei. O filme é muito mais louco! Dá de dez a zero na porcaria do Harry Potter!
O livro meche com as suas fantasias, a forma psicodélica que você ver o mundo.
A trilha sonora do filme ainda por cima é toda do Pink Floyd.
Na minha opnião não poderia ser outra, existem coisas que nascem para ser, sem hesitar, tava premeditado.
O filme conta a história de Dorothy, uma menina que vai parar no mundo magico de Oz depois de um ciclone, pelos caminhos ela encontra fadas e bruxas, uma fada diz para ela nunca tirar os sapatos e que o magico de Oz pode resolver a questão dela voltar para casa.
Nessa jornada ao encontro do mágico de Oz, Dorothy e os seus amigos feitos por essas andanças enfrentam diversos perigos e surpresas...
Houve alguns incidentes também nas filmagens, o filme apesar de ser fantasioso, tem um quê de obscuro.
Um dos tecnicos de luz morreu acidentalmente durante as gravações, ele caiu de um local elevado quando mexia na luz e foi enforcado pelos fios. No começo do filme Dorothy anda por uma árvore que tem um triangulo pendurado por um fio, parece assustadoramente com o triangulo da capa do disco The Dark side of the Moon.
Esse triangulo pode simbolizar o homem que morreu durante as filmagens, o fundo do albúm pode ser preto para simbolizar a morte. É também uma boa insinuação que a primeira musica do albúm , Breathe, seja uma homenagem a ele.
Eu me indentifico pra caralho com os personagens do filme, os meus amigos. Bem mais do que isso, os meus irmãos tortos também.

  • Bel_ O espantalho que quer um cérebro.
  • Dinho_ O homem de lata que procura um coração.
  • Eu_ O leão covarde que almeja ser corajoso apesar da aparência.
  • Dorothy_ O deus que se faz de bobo.

Como no filme descobrimos que não precisamos de nada daquilo, pois as virtudes que temos é muito mais do que imaginávamos.

É uma pena que a atriz que representava Dorothy, a linda Judy Garland morreu prematuramente com uso excessivo de drogas.
Ela era muito talentosa.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Vomitando no pau duro.

SOFIA

Um dia eu conheci um cara e resolvir dá pra ele, só por causa do nome dele, ele se chamava Torquamada. Adoro nomes exóticos, dei. Mas no segundo dia, porque aprendir com a minha pura e casta mãe, que mulher que dá de primeira é puta.

-Mas puta não é aquela que cobra? E que mal há dá na primeira noite ou na segunda, a buceta é minha, dou quando eu quiser.

Ele mentia, se dizia rico, mas quem pagou a conta fui eu, conheço bem esses tipos... Mas eu gostei do falso cinismo dele. Já estava saturada de playboys frescos que tomam Long Necks em clubes burgueses.
No fim da noite, já um pouco bebados, cervejas tapando nossas visões e apurando nossos instintos, ele, aquele homem bonito de nome feio, já metia a mão pela minha saia, examinando minha gruta suada, seu dedo avulso e impertinente depois de um bom tempo na minha xana, foi levado a sua deliciosa boca e chupado com esmero e tesão, como se chupasse um doce.
Cínico. Um cheiro acre doce de sexo pairou no ar, seu pau já duro, querendo sair pelas calças... A barriguilha e os bons sensos o empediam.
Não aguentava fingir mais um minuto de charme púdico. Queria ser devassa como Bérangere, contos que eu lia quando menina...
Paguei a conta e saimos desconcertados.
Eu o levei até o meu apartamento e trepamos a noite inteira. Hesitei, confesso. Torquamada? Isso lá é nome de gente?! Mas fui, gosto do perigo, na quarta foda eu resolvir variar um pouco a situação, eu batir um boquete pra ele, só pra recompensar o mesmo que ele tinha feito na terceira, e tambem pq eu estava exausta e bêbada, toda vez que eu mexia a minha bunda com algumas celulites em cima do pau dele, me dava uma náusea... Efeito das Caipiroscas, foi melhor parar.

Confesso que eu já estava com sono, mas o Torquamada era todo gás, não se saciava nunca, e eu não queria ficar por baixo de um ralé, um pseu do espertalhão como ele, e fui, abrindo a minha boca carnuda e chupando todo aquele sexo viril, e ele gemia, e balançava a minha cabeça, pra cima e pra baixo, pra cima e pra baixo, e nisso, nesse nicho foi acelerando...

-Ai! Cuidado com os dentes sua vaca!

Vaca?! Deixa só eu me livrar dessa chupeta pra vc ver...

-Hummmm... Slapt... Hãnnnnn.... Hum, hãnnnn!

Eu queria de verdade falar pra ele que eu estava sufocando...

-Cala a boca e continua chupando... ah! eu tô quase gozando.

E num movimento desrritimado e ligeiro, pra cima e pra baixo, sentindo a boca quente e cheia de saliva o engolindo todo, com algumas arranhaduras de alguns caninos, tudo bem, mas como ninguem é perfeito, fez-se tirar algum proveito.
Pelo menos ela chupou fundo.

Tão fundo que a cabeça do pênis tocou na sua guela fazendo explodir uma demasiada mistura de vômito e orgasmo.

-Ai merda, você vomitou no meu pau...

-Ai... foi mal...

-Caramba, caramba...

-Hey! Na minha cortina não! É nova!

-E você quer que eu limpe essa porra com porcaria aonde?

-O banheiro fica à esquerda do corredor, lá tem pia e papel higiênico.

-Ai... merda!

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

E Deus criou a mulher e o tempo


Taí uma mulher que põe a diva de muitos, Marilyn Monroe no chinelo.

A atriz francesa Brigitte Bardot, leviana e ingênua, cabelos loiros e dessarrumados, cor de cerveja gelada, boca carnuda, olhos grandes e muito claros...

A Monalisa debochada que Da Vince não pintou.

Hoje, é uma velha que cuida de animais.

O tempo é crucial...
... E a juventude manda lembranças em fotos em branco e preto.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Servindo carne crua.


Telma chega da redação onde trabalha como free lancer, esgotada.

No ônibus sonhava em ser atraente, queria ter a beleza inovadora da Brigitte Bardot e quem sabe ser convidada para tomar um drink num barzinho em Copacabana ao som de Chopin, entre idas e vindas das ondas barulhentas, de uma imensidão assustadora que chamamos de mar...

Mas não era atraente. Era feia e má.

A maldade era a sua aliada, as pequenas vilanias do dia a dia lhe davam um brilho superior, um brilho que não ofuscava, mas que fazia sombras.
O movimento brusco e troculento do ônibus não lhe deixava sonhar em paz. Ônibus puro ônibus.

A escassez mora aqui, passeia por essas horas, pega buzu, não tem dinheiro para taxi. É pobre como ela.
Apenas ela e o cobrador, um mulato que cantarolava inconcientes canções de Hermeto Pascoal...

As imagens e as pessoas passam rapido pela velocidade que foge dos seus olhos, se distrai com o FF da vida, tudo muito agil, sem respostas nem tempo para perguntas.
Menina criada em berço de madeira, casa pau à pique, suburbio da cidade.

Gorda, feia e má.
Vestia chambre para dormir, bobs na cabeça, e tomava coca-cola com tranquilizantes.
Sofria de insônia.
Vestida de trapo bonito aos olhos dos mais pobres que ela, era vaidosa, pintava a boca, voltava com a boca pintada para casa, beijada e borrada por um papel higiênico limpo.
Não tem namorados, transa regularmente com o ex marido que ela odeia.
Nescessidades femininas.

-Ele é um pulha, mas com ele é mais fácil. Eu sou gorda e preguiçosa, com ele eu não preciso pedir para passar a lingua no meus grandes lábios, ele sabe que é lá que eu sinto prazer... E também ele não liga para as minhas varizes tão verdes e inchadas... Depois ele vira as costas, solta peidos e dorme. E eu vou pra casa, antes que eu me arrependa e comece a chorar.

Ao chegar em casa, depois de tolas quimeras, toma um banho quente, se masturba pensando no pedreiro da obra da esquina...
Ao sair do banho, prepara um macarrão instantâneo, enquanto o macarrão esta no forno, ela liga o computador, limpa o cocô do seu cachorro pequeno e raquítico, pega umas velas no armário, arruma tudo bonitinho no castiçal de prata, herança do ex marido rico.

Lembrança de uma família aparentemente feliz. Guarda o porta retrato numa gaveta do biombo da sala. Lembrança de uma viagem que fez a China...
Pensa, suas memórias são uma cobrança de tudo que poderia ser e não foi.
Poderia ter casado com um homem da nata social, rico e famoso, ter aquarianos tristes e revoltados e passar o resto da sua vida privada pagando o IPTU, para assim tornar a viver e viver, e depois morrer e morrer por algo certo e bonito.

Mas não era isso que ela queria, queria uma coisa importante, talvez andasse pela deserto feito louca até ver Deus...
Acende as velas, vai até a cozinha, trás o prato de macarrão instantâneo, põe na mesa cuidadosamente decorada por ela mesmo, abre o vinho, põe numa taça de cristal, põe uma música romântica, e janta sozinha...

Após o jantar, acende um cigarro, senta em frente ao computador e descreve a sua rotina, como esse fiel e sincero escritor o fez agora.


(Trecho do meu engavetado livro Maria Antonieta)

Domingo

Domingo.
Nada de novo para fazer.
Dois amigos disponivel e eu quis ficar só.
No boteco mais próximo, bêbados e loucos proferiam absurdos que eu não conheço.
E eu lia Dom Casmurro, ele me explicava que a vida é uma ópera e que o tempo são como fotografias instântaneas da felicidade...

domingo, 3 de dezembro de 2006

Dias Noturnos

Sábado à noite. Nada pra fazer.
Pelo menos no necrotério de cidade onde eu moro.
Não tenho muitos amigos, bem poucos, apenas dois.
Nenhum disponível.
Fui à casa do meu bálsamo, mas ela estava muito bêbada... Papo de sóbrio com ébrio não me atrai, não tem graça. Meu outro amigo não estava em casa, foi para Engenheiros (Enjoy the trip véi!).

Comprei uma carteira de cigarros e fui dar um kesh na rua, gastar o pouco de dinheiro que me restou em brejas, mas não consegui ficar nos botecos da praça, o barulho pornofônico do arrocha e pagode me irritava, fui para um bar mais calmo, onde umas pessoas de bem bebiam e sorriam constantemente... Só que a filha da marafona da garçonete não podia vender cervejas para de menor.

-Então me vê uma dose de licor de café e menta.
-Mas vc vai ter que beber na rua.
-Tudo bem.
-75 centavos.
-Obrigado. Me arranja o fósforo?

Acendo meu cigarro e vou para uma praça vazia mais próxima, me embrulhava o estômago o clima natalino e seus pisca-piscas, um velho no orelhão ligava para uma das suas putas sociais... E eu aqui sozinho, nenhum imbecil para eu consumir o tempo, nem um cão sarnento, só as baratas...

Faço a casca de laranja de cinzeiro, a policia passa e repassa. Nenhum baculejo (graças a deus) não suportaria tanta pressão desperdiçada.
Quem me dera 18 kaisers e vê tudo rodando, nenhum cigarro proibido, tbm já parei, e não sinto falta.
Uma vontade fodida de escutar The Doors... Acendo outro cigarro com a brasa do antecedente para não correr o risco de pedir para qualquer babaca.

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Puxando e comendo algumas sardinhas.


Mr. Scareclown na versão mais comercial do que nunca!!!

-Chegou o meu novo Blog, uma esponja de aço muito boa, não, não, verdade seja dita... Não é tão boa assim, é feia, e fede a ferrugem...

jesusnaotemdrogas.blogspot.com

Acesse e deixe o seu comentário. " Seja Bem vindo ao mundo dos Caretas!"
-Corta! Perfeito!
-Aff, já não aguentava mais sorrir para as câmeras, merda, bando de imbecis, cadê a porra do meu cigarro negrinha? Cadê caráleo?! Foi vc que roubou não foi sua puta desalmada?! Bando de incompetentes... O que é? Que luzinha é essa? Tá gravando?! Estamos no ar?!

(Mr. Scareclown escancara o seu melhor e mais falso sorriso cor de bufa, e exibe os seus 32 dentes amarelados de cigarro e vinha para o publico alvo)

-Sem Dáblios, dáblios, nem ponto br, por favor...

sábado, 25 de novembro de 2006

Zéfiro


São três e trinta e cinco. Madrugada. Noite e dia.
Não choro mais...
Acendo um cigarro e tomo um café fraco para misturar com o meu estado.
Visto negro para combinar com o meu humor, estou de óculos escuros para me acostumar com essa cor cinza, névoa que se apoia nas minhas pálpebras cansadas.

Estou na sacada do meu prédio, lá embaixo as pessoas parecem felizes, se divertem, estão todas fantasiadas em cúpulas populares... Velhas Convenções.
No rádio toca uma antiga canção do Bob Dylan e sua voz esganiçada, querendo chamar a atenção da cidade.

Mas ninguem liga, ninguem me liga, o telefone não toca.
Eu não sinto ninguem me sentir, estou estático, impuro, sujo, pesado.
Me equilibrando em fios de nylon.
Queria sentir tua mão gelada esquentando a minha, a tua pele, a textura, teu corpo franzino e doce do perfume que eu não sei o nome, o hálito fresco da tua boca milimetricamente perto da minha.

Tua boca cheira a cigarro, e as vezes a maconha, e eu gosto. Gosto do teu olhar sonolento e vermelho, gosto da lingua em que nossas almas se comunicam, gosto das tuas nóias e tú gosta dos meus segredos.

Não responda. Não precisamos saber a pergunta que eu não fiz.

-Falta de coragem? Quer um pouco?
-Me dá um gole disso aí?
-Sabe? Quando eu morrer, eu quero voltar em forma de tranquilizantes...
-Perto de mim. Sempre.

Há coisas que precisam apenas ser sentidas, degustadas, ingeridas. Dou uma tragada profunda no cigarro vaporoso, vejo a fumaça esvair-se no ar, como num dia em que nós dois nos eclipsaremos.
Eu que sempre fui um homem sem intervalos, mas cheios de espaços vazios...
Depois voltaremos em outra vida como gatos, espertos e rebeldes, em plena era de aquário.

Tú estas entre os meus dedos, teu cheiro impregmina minha roupa, meu corpo. Red Holliwood.
Tua lingua descobrindo a minha, causando tentações em meu corpo.
"O Cabo das Tormentas"
Um leve Zéfiro me estremece, me arrepia. Meu sexo viril lateja em meu corpo patético.
Pelo menos consta que há algo vivo, Bob Dylan grita em meus ouvidos, meu corpo renuncia, se aquece, parece que eu fui tomado por uma sucessão de demônios, nem uma puta por aqui.

Assim começo a me beijar, a me acariciar, me arranhar. Sentia um prazer mutuo, continuo...
Como se um outro tivesse me sentindo.

Não era você, não era ninguem.
Era eu.
Sentia uma espécie de narcisismo mórbido, sentia prazer comigo mesmo, pela minha carne fresca e vermelha.
"O Calcanhar de Áquiles"
Antes do gozo, subitamente minha vista embaçou, sentia tudo como se fosse a primeira vez, como se não estivesse ali, surreal. O som parou de tocar. Gozei.
Lá fora os burburinhos, o som escaldante.

Fui para o quarto, acendi a luz. Vi uma barata. Apaguei a luz, deitei, cochilei, acordei, andei pelo quarto, nada fazia sentido, proferia absurdos... O que está acontecendo?
No ar sinto cheiro de auto comiseração, essa cidade e suas pessoas, sempre perdoando suas falhas, ou será que sou eu?
Me sinto podre... Envergonhado... Enrrubecido pelo ato.

Ahnhhhhhhh!!! Minhas Costas! Ahnnnhhh! São elas, são elas!!!! Minhas asas estão nascendo!!!! Por deus, estou nascendo!!!!! Ahnnhhhh!!

Tudo muda.
Tudo ficou mudo. Não consigo mais ouvir os burburinhos, o gemido sangrento da cidade.
Pois ela dorme cansada, você dorme, a insônia dorme, e eu vôo.
Vou até a sacada, olho o céu, vejo à alvorada.
Sentia uma formidável necessidade de me atirar ao abismo, ao desconhecido.
Meus olhos exauridos aos poucos se fecham, e eu pulo no ocaso.
Até hoje ninguem sabe, creio também que ninguem viu
mas eu voei, voei para bem longe, espaços Siderais.
"A Era de Aquárius"...

Quando eu morrer, não quero ser mais uma estrela no céu, o olhar dos mortos.
Quero ser o Zéfiro.
Um vento bom em noite de lua cheia.
Quero tocar seu rosto, assanhar o teu cabelo e beijar a tua face.

Eleanor Rigbh


Conhaque e Rivotril

Eleanor Rigbh morreu com uma dose demasiada de rivotril e do auxílio luxuoso de um bom conhaque.
Morta em sua cama, num quarto abafado e com luz lúgubre, o ventilador ligado espalhando frescor instantâneo, ora direita, ora esquerda...
O som alto toca repetidamente uma canção de Roberto Carlos, uma em que ele dizia ser feliz e que a tristeza nunca mais voltaria...
Pelo quarto, garrafas vazias de cervejas e bitucas de cigarros espalhadas pelo chão, e algumas peças de roupas, poucas, porque a maioria ela ateou fogo num ataque de loucura e desespero.

Seu corpo inerte e ainda quente pesa na cama desforrada. Se arrumara antes de morrer.
Vestira um um vestido negro, maquiagem cor de queijo palmira, jasmim e batom escarlate.
E uma jóia das mais bonitas de sua coleção na época gloriosa de Miss cidade alguma.

Seus olhos inchados e vermelhos de tanto chorar na noite passada, que não dormira um sono, nem aqueles dos malditos, cheios de pesadelos, que ela tanto queria...
Nada, nem um bocejo.
Apenas a insônia e a solidão.

Seus olhos cansados e insanos que muito lembra duas gudes pretas, estão parados numa folha de papel cravado com um punhal no guarda roupa de madeira.
Assim estava escrito de caneta Compactor azul: "Eis aqui a seita satânica da feiticeira"

Eleanor Rigbh morreu com 82 anos porque não tinha mais nada de pior para fazer.

Conhaque e Rivotril

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Da vez em que o meu amigo virou burguês


- Realmente, a burguesia lhe caiu como uma luva!

Eu falo isso pra ele sentado numa poltrona black estolfada, pondo em um copo bonito e detalhado uma dose de Jack Daniel´s.

-Você acha isso mesmo?!
-Claro! Você sempre teve uma pose de rico, mesmo sendo um proletário sofrido! Eu acho que é porque você lia boas coisas...

Passo os meus olhos invejosos ao redor da mansão, procurando um defeito se quer na vida que poderia ser minha, nada, nem uma meleca velha grudada na parede.
James foi o meu professor de teatro, dava aulas de português e matemática, ele amava o paradoxo!
Eu achava um saco ter que ser uma pessoa só, gostava de manifestar o meu pior lado, e fazia isso com as crianças da minha rua, passava com roupas pretas e cabelos desgrenhados, espinha na cara e falava sozinho.

O maluco da Vila.
Poucas que não corriam para dentro das suas casas quando eu passava, vinha receosas e cabreras me observar passar, alterando seus ouvidos para escutar o que eu tanto susurrava....
-Can you feel my love buzz... can you fell my love buzz...
-Psiu! Ele deve tá falando com o demo!
-Que lingua é essa?
-Alô!!! Demonista né idiota?!
-Ahnnn...
-Careta!!! Cadê a greta?!
-Tá no cú da mãe! Eu devia dizer isso.
Mas não. Prefiro sorrir pra eles.Não gosto de crianças, mas gosto da imaginação infantil. Eles se soltam, proliferam absurdos, é tudo a mais completa fantasia...
Ou não.

-Can you fell my love buzz...
-O quê?!
-Hãn? Nada. Tava aqui pensando...
-Uma hora dessas se o meu filho estivesse vivo, ele estaria voltando da faculdade.
-Eu sinto muito pelo o seu filho.
-Todos sentem não é mesmo?

Eu queria escutar alguma coisa alegre, não o silencio brutal daquela mansão que me parecia triste, taí. Triseza é o que tem de ruim nessa casa.Mas a tristeza é nescessária, nada que alguns goles de absinto não resolva.
Mas James não bebe, esse é o problema. Apenas ora.

-Porque você tem um bar se você não bebe?
-E quem disse que eu não bebo? Bebo sim, só que não como você... E também porque a minha mãe disse que era elegante.
-Se você tivesse casado com a crente, sua vida seria completamente diferente.
-Minha vida seria completamente diferente se eu não fizesse muita coisa...
-O crime por exemplo.
-Eu não quero falar sobre isso. Vamos ouvir algum som?
-Posso escolher?
-Claro.

Fui a procura de The Velvet Underground, mas só o que eu achei foi Jazz e Blues.

-Porra bicho, você não esculta mais rock n´roll?!
-Não. Rock n´roll é pra garoto como você... Agora só B.B King, Billie Roliday, Etta James... Esculte, você vai gostar.

Ponho o disco no mega som, e já vou logo me abtuando com as sonoridades lúdicas de Billie Roliday. James cantava e chorava olhando para o retrato do seu filho, aquela nostágia impiedosa dele já estava me dando asco, eu nuca vi James chorar, há não ser no enterro do filho, que morreu com quinze anos atropelado por um opala azul, aquilo tudo não fazia sentido pra mim, ele estava rico! O que mais ele queria?
Eu sei, ele é pai, mas ele sabe o que é perder e tirar alguem querido de outro alguem.

James e eu fomos abordados uma vez por dois homens magros e albinos, eles eram alemões. O mais alto, chamado Tevoawski, convida James para tomar um café.

-Você conhece esse cara?
-Sim. Vai pra casa, depois a gente se fala.

A noite eu encontro James numa praça, desolado, bebendo horrores, falava coisas desconexas, e dizia que o inferno lhe esperava, eu pergunto porque, e ele me responde com um beijo no rosto.
-Eu matei... eu matei... ninguem nunca vai me perdoar, nunca...
-Quem você matou?
-O seu Elizeu, o dono da fabrica de papel... eu matei por dinheiro... eu sou um monstro... eu sou um monstro!
E dizia essas palavras batendo em seu peito com força e pedindo piedade para o seu deus.
Uma semana depois sem ver James, eu tenho nóticia que ele estava rico, negócios...
Bem vestido, de carro, James não trabalhava mais como professor de teatro, nem namorava mais a sua namorada crente, havia abandonado a igreja com a desculpa de estar muito oculpado, mas para mim, que James confiava tanto, ele dizia que não podia ser tão hipócrita, o assassinato já pesava demais na suas costas, e eu perguntava fingindo esquecer.

-Que assassinato?
-Assassinato? Eu falei assassinato?

E riamos da nossa inapreciável hipocrisia.

-Quando eu morrer, você e o meu filho, seram meus herdeiros
-Não brinca.
-Não estou brincando, você é o meu unico e verdadeiro amigo.

E hoje, golando doses de Wisky e vendo uma cena patética de um ser humano rancoroso e triste beijando constantemente o porta retrato do filho morto, eu começo a chorar também, o meu pior lado quer se manifestar e eu não consigo segurá-lo, o aperto contra o meu peito.
As cenas do crime manifestam-se em minha mente numa forma psicodélica.

-Quer ficar rico também não quer? Você tem inveja dele.
-O que você tá falando? Não enche o saco.
-Tá esperando ele morrer pra ficar com a herança?
-Eu não sou o filho dele!
-Vai esperando então...

A ex namorada de James era todo cinismo, alma decrépita presa em um corpo sinuoso e lascivo, maquiagem bem feita, batom vermelho borrado.

-Eu sei de tudo, do crime, da cena, de cada detalhe.
-Como sabe?
-Seria um crime perfeito se o assassino não revelasse tudo no seu diário. É, um idiota, você pode se sair melhor do que ele, eu confio no teu potêncial.
-O que você quer de mim?
-Eu quero a cabeça dele, numa bandeja.
-Você quer eu mate o James?
-Não. Eu quero que você mate o filho dele. O sofrimento as vezes é pior do que a morte... Eu pago muito bem.

Era um dia bonito e fazia sol, o filho de James saía da escola com as outras crianças, acabara de lanchar um cachorro quente numa barraquinha da esquina, eu o observava de longe no opala azul emprestado, eu o matei, passei por cima da sua inofensiva cabeça, e os seus ossos despedaçaram-se.
Eu estraguei o garoto que tinha o futuro pela frente por um destino burguês.

E hoje aqui estou, com uma arma escondida na minha cintura, olhando pra James chorar pelo seu filho morto, pobre de espirito e financeiramente por baixo, cometi o crime que James cometeu e não fiquei rico, a vagabunda fugiu e me deixou com um crime nas costas e uma conciência pesada.

-Porra James, para de chorar caralho! Será que você só sabe chorar? Foda-se seu sofrimento! Acaso você pensou no sofrimento da filha do seu Elizeu?
E James chorava de soluçar...
-Eu não queria... Eu não queria...
-Tarde demais não?

Cinco tiros no peito, James cai no carpete importado ainda vivo e sangrando muito.
Hoje, voltando pra casa sozinho, eu penso em que vou comer quando chegar em casa, preparo um macarrão instantaneo, esculto The Velvet Undergroud e leio Rimbaud.
"Temos fé no veneno. Sabemos dar nossa vida inteira, todos os dias.Eis o tempo dos Assassinos"
Hoje eu sou um burguês, herança do meu velho e bom amigo James.