quarta-feira, 16 de maio de 2007

A lingua analfabeta.

-Você é brasileiro?
-Sou.
-E fala português porque?
-Porque o Brasil ainda não aprendeu a andar com as próprias pernas.
-Fala a lingua mãe?
-É analfabeta.
-A lingua?
-Não. Minha mãe.
-Como se chama?
-Minha mãe?
-Não. O senhor.
-Sem nome da vida de Saudade e filho.
-Pai?
-Morreu.
-Nome?
-Esqueci.
-Do nome?
-Do meu pai. Mas o nome dele é "Em nome do filho"
-Tem espirito?
-Sim. É santo.
-Quantos anos o senhor tem?
-Conservo o meu brechó de 1960.
-Sexo?
-Os anjos não tem sexo.
-Do que gosta?
-Eu só sei do que não gosto.
-E do que não gosta?
-De gente.
-Gente como a gente?
-E de pessoas que me fazem perguntas.
-Gosta de mim?
-Gosto.
-Já mentiu hoje?
-Já.

O canto da pomba gira.

Crescia como sua sombra que se escondia entre minhas costas, por causa da força da luz, nem tanto, nem tanto, é porque pelas costas se observa melhor.
Sombra é gato e enxerga no escuro.
Que suplicio gostoso que é escrever, dessa vez meus dedos doem e "eu quero parar". A carne me castiga Castilho, não fale tanto casteliano, alivie meus dedos.
O grito dela aprisionado em sua boca suja de porra e palavrão, e batom vermelho da pesada, a pomba girava e gritava, fino timbre refinado, tinha o som de uma guitarra...
Chegara perto da menina que caminhava cantando pelo céu e fumando o seu cigarro púrpero. Eu explico. Não havia fumaça uma vez fugida da sua boca limpa para falar algum comentário inteligente, era purpurina que saía da boca das mulheres puras. Purpurinas que ficavam pairando na sala e à alguns centimetros do seu rosto.
Sermão, sermão, vou ser cauteloso. Dos rapazes bons, saiam vaga-lumes.

A negra grita pela setença, indignada por tambem ser púrpura e ter mais melanina nos olhos do que no corpo, o que era seu pecado. Ela chora lágrimas negras e nesse momento me dar vontade de tambem chorar e borrar minhas folhas com minha dor.
Escrever não é bastante?
Não. Lágrimas são puras e valem mais do que qualquer palavra. A santa fala a minha lingua, se aproxima a pomba com o seu corpo sinuoso e o seu batom escarlate, altivamente puta.

Sermão, sermão... Vou explicar a lágrima que não foi caída por que Gabo me desconcentrou, chorara por todas as pessoas caídas e mortas de fome, pessoas pobres de espiritos e sem nenhuma caspa, sem nenhuma boca rachada, sem nenhum teor alcolico. Pessoas café frio, pessoas pão dormindo, pessoas cigarro frio.
Choro a lágrima não caída por vocês, limpos depravados que não sabem siquer que existem, e quiçá se vive e do que gosta.

A pomba, a pomba, o chicote na mão, a paz no peito, o pó no porão e nas minhas narinas. Narinha, não se importe com a rima tacanha.
Vou direto ao ponto: Meus ouvidos e seus olhos leitor.
Vou direto em direito ao grito: Sua boca e minha mente que desfalece.
A pomba gritou alto no altar sagrado!

Blasfêmia! Putana! Acorrentem as putas! (trombone dos infernos!)

Um batalhão de anjos de Zenite azuis carregaram a pomba que não mais gira, já presa em suas asas de cera.
As senhoras tapam a boca horrorizadas, os homens bons põe traves nos olhos para não verem a nudez feminina do pecado, meu pescoço dói, ela grita e eu sinto sua dor, porque sou ela, a dor da pomba tambem é minha. Os anjos de Zenite estupram a pomba, todos ao mesmo tempo, como urubus não expantados, o velho entra-e-sai de amores, como se fosse becos.

Escrotos!

O ultimo canto da pomba na minha lembrança ficou até amanhã.

Pileque.



Na terça, choveu uísque de segunda.
Descia pelas vidraças, inundava cidade, fazia lama.
Os homens bêbados dançavam na chuva.
Dançavam bêbados
Todos bêbados
dançavam.
As rosas morriam de cirrose.
E eu. Que não sou bobo, nem bêbado.
fiquei em casa, no quarto de pileque.
Lendo Assimov e fumando um baseado de quinta.

Do outro lado deve ser bonito.



Ela está morrendo numa cama de hospital, seca e pálida. Não tão branca quanto os lençóis sujos, tem fino trato nas retinas e o seu coração está avacalhando, mas a mente insiste em bater, bater nas portas do que chamam de passados felizes.

A morte é bonita e nem dói, é uma piedade dada por Ele, é o estágio mais bonito da vida, e mais significativo tambem, porque só lembramos dos momentos felizes.

E quem não tem?

E como eu sei?

Julgo ser assim, é assim porque quero que seja, é assim porque eu análiso e penso, é assim porque existe destinos em minhas palmas, tão frias... como os pensamentos superaquecidos pela musica que toca e me toca.

Não há quem exista que nunca foi alegre!

Se há, que se apresente até a mim!

E se me provar que sempre foi infeliz, tiro da minha amarga manga a alegria clandestina, aquela que é dada para poucos. Para poucos...

Ela está morrendo, não mais fala... Nela é tudo muito simples e grande, nariz, boca, olhos, palmas... mas são apagados, é caneta falhando em lençóis de cetim.

Ela está morrendo, não mais enxerga... E eu posso ver.

Ela está morrendo, não mais respira... E isso me desespera letalmente. Começo a quebrar palavras e desviar frases para chegar ao desfeixo que tanto me atormenta, a beleza e a simplicidade das coisas é um tesão oculto meu, que me atormenta.

Ela está morrendo... Vê? Você pode sentir as palavras murchando? Pode sentir o esvair da matéria? O cenário tem cheiro de terra molhada e só me sufoca porque eu estou vivo.

Que danação que me é escrever...

Ela morreu e não houve desfeixo, na verdade, ela já havia morrido... Porque eu quis, porque eu matei todas as senhoras cor de rosa com a minha foice.

Ela está morta e enquanto isso Deus pinta o céu de tons muito abóboras e envelhece o dia que é moça.

Amoral

A nove passos de mim, duas loucuras e uma sandice.
Eu, no meio, à nove passos de mim. Atrás, a um passo, a moralidade.

A Sandice grita: Bora Garfo! Se apreça!

Eu não sei, mas eu sentir a sensação de que nunca vai chegar, andava... andava... andava, e uma dose de limão para aliviar meus pensamentos... Gina tem cara de mangá e olhar perdido... Perdido caminho enlamacento.

Gabo, Gabo, Gabo, tô chegando, mas parece que a moralidade se encrostou em mim, roubou o lugar da minha sombra que tambem está "murmurada", vida própria tinha.
Tinha pernas grandes, era falsa e andava com ligeira impreção.

-Por que te vás com tanta pressa?
-Ultrapaçar você e a loucura.

Parecia vinha na metade do meu livro, tinha um cheiro rosado inebriante.
A moral chegou na moral, alcançou a loucura e andamos juntos, em calçadas diferentes.

-Estão de boa né?
-É. Cabeça feita, chapa.
-Bom. Mas tudo é relativo... Cuidado com os comedores de ideias, é desse petisco que eles gostam.
-Você é um?
-Sou apenas o aviso.
-Você é falso.
-E que certeza você tem que tambem não é? Que certeza você tem que existe?
-Eu sei que...
-Quê?
-Sei porque eu sei que...
-Quê?
-Mas sei porque eu sei que...
-Que?
-Que sabe o quê?
-Nada.

O velho falso é moralista, ele tinha ideias de usuário tratado e cheirava a um pano de chão, ele sabia, mas castigava para sobreviver o padrão.
A moral conhece o adeus do amor, porque já se apaixonou pelo que é imoral.

As janelas da alma.


O prédio era tão alto, mas tão alto que podia arranhar o céu, de vez em quando o céu sangrava e descia dele um liquido muito rubro, se então escarlate, era muito raro, e quando tal fenômeno acontecia, as pessoas eram mais felizes e se comportavam como idiotas... Bons idiotas!
No prédio havia dezessete janelas, das que eu pude e tive tempo de contar. Dezessete desconhecidos escondiam suas vidas lá, imigravam, eu era apenas o êxodo.
Na janela 75 mora Judith, ela não tinha saco para inimigos, nem familiares, nem gente com medo, veste chambre para dormir, e come cocada depois de cada refeição.
Na janela 60 mora o padre Ludovico, nos dias de domingo, logo após a missa acolhia suas crianças debaixo da batina.
Na janela 51 mora um cafetão, um cafetão que eu não sei o nome, mas se chama Osório, porque tem cara de Osório e porque eu inventei agora.
Na janela 53 mora Odair, casado com José, mas vive de olho no Osório.
Na janela 49 mora Carolina, sofre de sindrome do pânico, toma prozac com fanta-uva, não sai na rua, nem passeia pelo bosque, tem medo de sentir medo e dar vexame.
Na janela 45 mora Violeta Damasceno, mãe solteira, passiva e poeta, vive tentando escrever um romance eloquente, seus textos todos foram recusados em várias editoras, sempre alegando a mesma desculpa, ele não sabia emoldurar a vida.
Na janela 69 mora seu Firmino e Ana Cláudia, casados a vinte cinco anos, são felizes e isso é tudo que eu sei e quero contar.
Na janela 66 mora Jesus, vive fantasiado esperando o Carnaval chegar.
Na janela 70 existe com e como sua mãe, a menina Carlota, ela era tão sem graça quanto o morfo, um biscoito sem sal, uma agua misturada com vinho, ela não embriagava nem a sí propria.
Na janela 54 mora um homem de conciência formada, acreditava que não se podia tocar o céu, nem comer a lua.
Na janela 72 sobrevive Renato, trabalhava numa lojinha da cidade, mas foi despedido porque o patrão descobriu um desfalque na caixa de big-big de hortelã.
Na janela 64 mora com os avós o jovem e mal vestido André, ele tem 17 anos e repete a sexta série pela sexta vez. Mas sabe escrever o seu nome, ao menos.
Na janela 58 mora a gostosa da Lu, ela é cover da Björk na era Sugarcubes, usa perucas e faz tatuagens no seu corpo com sua bic preta.
Na janela 43 morria seu Andágio, pela porta Helena saía com sangue ainda vivo nas mãos...
Na janela 44 vivia dona Clenilda e seus gatos, uma mulher rica e pomposa, mas pobre de espirito, assistia aos filmes B dos anos 50.
Na janela 76 morava Emanuel, pintor, ator e sábio, mas se comportava mal e por isso ficava sem sextas-feiras.
Na janela 52 morava Arlinda, ela se tranca no quarto e chora para Deus ter pena.
E na janela 80 do prédio da frente que não arranhava céu nenhum, não tão alto, nem tão baixo assim, morava um aspirante a escritor, ele tem na lira de seus 17 anos, e escreve sobre a vida dos outros, com a justificativa de torná-las mais interessantes.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Poema roto.

Eu encontrei um poema roto no meio do caminho.
No meio do caminho havia um poema roto.
Havia um poema roto no meio do caminho onde eu encontrei um poema roto.
No meio do caminho.
Eu peguei-o, e o vesti.
E no meio do caminho não mais havia um poema roto.
Havia um caminho.
Havia um homem bom,
mas mal vestido
de seus poemas rotos.
E seguiu seu caminho.
E encontrou
a sua
paz.

A Saga de Maria Depressiva em busca do seu espirito de porco.


Maria Depressiva era toda dadivosa. Meninota loira cheia de sardinhas em volta do nariz, colada naquele vestido vermelho, roubado da loja Feminis, exibia com opulência suas coxas grossas, seios pequenos durinhos, mamilos rosados, chumbinhos aromáticos. Não usava calcinhas.

Me disse no primeiro encontro.

-Eu tenho alergia à calcinha.
-Alergia?
-É. Eu fico todo me coçando, minha xana fica empolada... Você já viu uma buceta empolada?
-Nunca.
-Nem queira ver meu amigo...

Ainda me lembro da vez em que dormia-mos num quarto de hotel mais vagabundo do que nossas almas. Dormia já exaurido de tanto sexo da noite passada, entre baratas e goteiras, gritos algozes de putas sendo espancadas por seus cafetões na rua Augusta.

-Deve ser chato ter dono.

Ainda roncava, e nem percebi quando o meu pau fora posto pra fora do short, a não ser quando batia um vento encanado de uma vidraça quebrada fazendo assim arrepiar os meus pentelhos, logo, o choque térmico. A mão fina e quente afagava o meu mole pau, como se estivesse pegando uma massa, as idéias se organizavam em fila indiana, meus olhos tão remelentos e preguiçosos abriam-se miúdos, a boca seca, a língua com gosto ruim... Despedia-me da letargia, enquanto via meu caralho crescer e se tornar vivo e retumbante na boca de Maria Deprê, era como a chamava carinhosamente, ela me olhava com olhos sucintos, nua por completo, corpo de Vênus, Boticcele lesado.

Os gemidos caíram bem, sentia meu pau inundado em saliva e lembrei de São Paulo, não, não. A buceta de Maria inundada era mais triste.

Ó buceta triste, como estás? Não vai me convidar para entrar?
Gozos remanescentes de boca aberta e gemido alto.
Maria limpa a boca esporreada com o lençol sujo.

-Desculpa. É que eu estava com insônia.

Quando Maria ficava ansiosa fumava os filtros e as baganas, desfilava nua e descalça pelo quarto exibindo sua pele branca como cera, seios pequenos como já havia dito, cabelos loiros e cumpridos onde ela deixava cair na testa uma franja que a fazia ficar mais menina ainda, sardas, cintura fina, esguia, enormes e opulentas pernas escondidas por meias calças 7/8 cor púrpura até o joelho. Seus pêlos pubianos eram ruivos e tinha um aspecto hiponga, seu dedo indicador vivia lá dentro, é mania, me disse uma vez.

-Mamãe falava que fazendo isso eu nunca mais sentiria aquelas dores que toda menina sente quando derrama sangue. Depois eu descobrir que era tudo mentira, mamãe me masturbava com prazer. Gozei em seus dedos, uma ou duas vezes.

Quando não fodiamos, nem fumávamos um baseado, nem saiamos para pichações e concertos de poesia, Maria ficava nua em cima da cama de casal, janela aberta, o sol entrava clariando intensamente seu corpo, e sua pele branca e o seu cabelo cor de fogo se misturava com o sol e virava uma única luz.

Perna cruzada para cima, de bruços, mordiscava a canetinha bic azul enquanto decidia o que botar em suas fantásticas e intermináveis siglas criativas.
Depois de foder, seu passatempo preferido.

C aso
A rrombe
A rrume
R egras
A morosas e
L ibidinosas causadoras de
H orriveis
O verdoses

-Toma. Sua vez.

A sigla é B. U. C. E. T. A. S.

B ela ... U nião ... C aralho ... E ntra... Toda ... A... S aliente.

-Hum, deixa eu ver. Faltou o A.

-É. Eu sei. Deixa eu pensar...

-Não pensa, o seu mal é pensar demais. Desarruma e faz.

-Certo.

Não direi aqui minhas inúmeras tentativas para uma sigla perto do obvio, até porque nem lembro mais. Mas ainda me recordo dessa porque ainda guardo esse papel no bolso da minha calça surrada como um prêmio de consolação.

B elaU niãoC aralhoE jaculadoT rásA mor eS orte
O sorte ficou por conta dela.

-Vou andar bicho...
-Ué. Pra onde você vai?
-Vou procurar o meu espírito de porco que anda perdido por aí.
-Ahnh Maria, ultimamente você anda tão esquesita. Vem cá vem, suspende essa saia, deixa eu te foder.
-Não.
-Então deixa eu te chupar, vem...
-Ta. Mas só uma chupadinha. Eu preciso mesmo procurar o meu espírito de porco.

Eu iria falar para ela que ela estava lendo muito o livro dos vampiros de Sistinas, mas me faltaram palavras quando ela suspendeu sua saia indiana amarela escura amostrando-me sua coxa e sua cona, sua buceta raspada...
-Gostou? Fiz hoje de manhã.
Apenas disse; linda.
Sua buça era rosada e tinha um aspecto triste, eu sei que vocês leitores que me lêem em casa esparramado no sofá, no ônibus, na escola, ou na privada cagando, devem me achar um insano, ou no mínimo um imbecil.
Pensam, buceta é buceta.
Não, não é. Pelo menos não a da Maria.
Era uma buceta que me olhava e me dizia tímida;
-Se não for pedir muito, passe a língua antes de comer. É que eu era estupidamente frigida até os dezesseis anos.
Uma buceta jovem velho banguela que me ler com os olhos miúpes, daquelas que nunca mais verá, há não ser a tua neta ainda impúbere que de vez em vez, quando consegue andar, espia pela fechadura do banheiro.
Uma buceta triste faz jus aos olhos da dona.

Cartas para Clarice.

Era para ser uma carta simples, conotativa, pequena em papel grande, pequenos erros ortográficos em grande papel.

Papel amarelo triste pelo tempo, palavras mal traçadas em linha reta.

Ninguem esperava que uma inofensiva carta fosse trazer grande confusão, não no mundo, mas no pequeno mundo de Clarice que não lhe cabia ser humano, aquelas palavras escrita por pena, pena de escrever, pena e tinteiro poeta!

Dizia assim:

"Aguardo ansiosamente a sua vida, Clarice."

Quando na verdade, deveria ser assim:

"Aguardo ansiosamente a sua vinda, Clarice."

Era o diabo do seu pai.

Dia C

O gato leão tomava chá de cogumelo e usava crack. Um dia antes do dia D, ou seja, no dia C, ele arrumara sua arma estopim, pôs a munição de lado, do lado da arma deitada no seu criado-mudo. E saiu para o chá das cinco.

DIA D.

O gato leão andava doido por aí, havia se empanturrado no chá das cinco, reunião sociável das pessoas degustadas.

Com sete passos chegou no seu quarto, conversou com o criado-mudo, pegou a sua arma entre as mãos e foi até a porta conquistar o seu amor, como que se estivesse indo para guerra...

Dizem que ele dissera para irmã:

-Eu vou te matar Isa.

Ela brigou, contestou, fez relia, mandou parar com a bobagem.

-Então eu vou ter que te matar Dora.

Elas brigaram, contestaram, fizeram relia, mandaram parar com a sandice.

-Então... Eu vou matar a menina mais linda da cidade, o meu grande amor verdadeiro, minha flor corajosa... Eu vou te matar Liz.

E ela, em desdém de sí e dele, disse:

-Por mim. Atira.

Um tiro na cabeça não perpassa só o crânio, mas toda uma vida. Uma vida que agora pouco falava da vida dos outros e respirava. Agora é face assustada, poças de sangue e cabelo.

Gato leão não queria, ele não fez pelo mal, as balas não eram para estar na arma, nem para ter atravessado o crânio de Liz, balas são para adoçar a boca.

Amor doce amor, flor de finada Liz, Liz fina flor, flor de Liz morta, assustada e sangrenta.

Morre uma flor.

Foge um gato.

E nasce uma tragédia.

O inebriante livro de João.


Em cima do céu há um corpo ainda vivo dele, com algumas moléculas e vírus incuráveis, pegou a doença naquela noite que já não ia tarde.
É noite, e ele se encontra no cemitério, mas não está morto.
No cemitério há muitas vidas acabadas pelo mesmo fim, todas se conservavam póstumas.
Nomes, tumulos, filiações e datas... Nada disso era importante para João que comia verdade com grande esforço.
Lamentava-se por não ter conhecido a dona da lápide onde apenas está escrito santa.
Lamentava-se pelas santas, pelas putas e pelos outros mortos que não o conhecia.
Seria um deles e gostaria de ficar perto da plantação de gerundios.
O cemitério é como uma lista telefônica que ele levou para a ilha deserta em maio de 1930, com tantos nomes ele poderia criar uma humanidade mais interessante, sem precisar de livros.

O fabuloso destino de Mariline Fiore.


Ela chegara nua e limpida, era longa e esbelta, dona de uma face branca como papel. Sua alma era um corvo sujo que sobrevoava a entrada do céu, todo azul puro, os anjos na esquina, não a notaram, era apenas mais uma militante.
De longe, de muito longe, ela sentia e via ao mesmo tempo, em versão juntas, a presença do homem taciturno e mal humorado.
E pensava: E agora?
Perguntava aos pés que flutuavam, ninguem sabia a resposta, nem ela mesmo sabia porque estava ali, morrera derrepente, sem aviso prévio, 1o mg de lexotan roubado. Sua alma voava a procura de carniça, aqui é o céu corvo, algodão doce, se quiser...
É desse formato que me olha rabujento quem me fez um bolo?
-E se eu acreditasse em você? Você teria que me possuir, não é mesmo? Não posso ser livre? É nessa condição então? Tenho que acreditar que o senhor escreve o meu destino? Por que não se aproxima? Porque sempre tão distante? Introspectivo?
Tudo era muito neblinado, uma luz ôpaca, um rosto que não havia face, a não ser olhos, sempre tão duros e amáveis...
Mas meu Deus, como pode?
Mas meu Deus, como pôde?
Meu Deus?
Meu?
Havia duas opções de encará-lo face a face, talves duas maneiras de ver, e encarar a situação, e descobrirei mais tarde, que na verdade, são minhas respostas.
O livre arbítrio. As duas maneiras eram simples:
Longe eu fico de você, e me sinto grande.
Ou me imagino perto de ti, e me sinto pequena.
A distancia que tu me destes, o amor em teoria ensinados na escola, "difundia´se" com a com uma imensidão de duvidas. Perto de ti, pareço uma menina, um passarinho em tua palma, que tu senhor, decide se liberta ou prende em tua gaiola.
Mas de toda forma, um senhor irônico, estupido e maleável.
Caíra.
Como um anjo renegado, como a palavra que foi dita na hora errada, como a bebida bebida antes do brinde, caíra e acordou sentindo-se pesada, fechada, batendo em madeira. numa mesa estragada.
Agora Marilini Fiore era uma mão pesada, de um homem furioso, que amassava papéis escritos e jogava-os na cesta do lixo.
Suas ultimas palavras no papel que fora arremessado junto com as outras sortes rabiscadas e posta no lixo, foram:
"Deus é tudo que não se pode tocar com as mãos..."

Podres.


Debaixo de cada batina existe um pau duro...
-Luisa.
-Oi Ruivo.
-Você não está precisando de dinheiro?.
-É claro que eu estou! Por quê?
-Saca o padre Tomás? Aquele da igreja da praça principal.
-O vesgo?
-Esse mesmo.
-O que é que tem?
-Ele ta oferecendo 20 contos para quem fizer uma chupetinha nele.
-20 contos por uma chupetinha?!
-Você acha pouco? Quanto a Augusta fatura numa noite, engolindo meninas com all star de franjolas?
-Consolação me disse que cobra 10 contos... É. ta até bom, para um padre...
-É. Mas você vai ter que engolir tudinho, limpar o pau dele, ele disse que só paga nessa condição.
-Ah! Engolir não! Que nojo!
-Porra! Tu não tá precisando de grana?
-Tô.
-Então, custa engolir a porra?
-Não custa. Mas se eu não consegui, eu cuspo!
-...
-Como será fazer com um padre...?
-Acho que excitante, naquela catedral sem pai, a vista invisivel do "pai nosso"... Bem, a roupa atrapalha um pouco.
-Como sabe garotão? Anda fodendo com freiras?
-Não dá o cu pra ele não ta? Ele tem um pau muuuito grande!
-?!?
Ela rir. E ruivo joga pedras no lago.