quarta-feira, 29 de agosto de 2007

No ônibus.


-Hey Gabo! Vamos comigo, só para me dar aquela força!
-Bicho. Tu sabe que eu te amo, que eu sou o teu irmão que devia te dar uma lição por ser tão ousado, você sabe que minha mente não admite ver você na rua sozinho, uma hora dessas, briga com o corpo conspirado, como vodca pirada. Mas tô bodiado, e um abração meu velho, vale por mil passos alados.
Bem, é um ônibus, buzu, cuzão, besta dos infernos. Gabo não foi até lá, mas mandou eu gritar ele logo ali, adiante ao futuro eminente. Era como num sonho de brincar de ser presente, eu já fui pássaro, já fugir, já menti, me sinto muito bem por só eu acreditar nas mentiras que eu conto. Desconto dez porcento. Diz conto não se diz, dom é do tamanho da minha dose. Tu não é dose, hein chapa?
Me sentia como um espião russo, ou como um comunista disfarçado, encolhido entre os ombros, sombrancelhas escondendo os olhos esmaltados de vermelho, passando por um corredor do sistema, desbravando as entranhas do inimigo, da censura.
Aproveitei a oportunidade que uma passageira estava tentando estrangular o motorista e entrei, logo ele não me viu.
O inicio é apenas o céu, um lugar comum e seguro, as cadeiras do inicio estavam todas ocupadas, poderia ficar em pé se não tivesse nada a perder, mas prefiro me sentar, para ninguem me notar.
O fundão do buzão era onde habitava qualquer tipo de excremento de qualquer espécie de rato, um esgoto cheio de baratas bêbadas. Eles despediçavam gritos, palhaçadas, soluções, gargalhavam e gozavam de boca aberta enquanto o mundo todo tava em guerra. Os rebeldes eram eles, mas é tudo fake, como vocês podem ver, eu não matei nenhuma onça pintada, oquei?
Pois bem. Não fiz bem em dizer que te queria, duraria mais o céu. Mas o céu, você cola com cola. ComCola.
De que eles estão rindo? Do que estão falando? A lembrança de hoje é o pesadelo de amanhã, pão com paixão, estrelas no céu a confundir dois olhares, rugas no dedo, por causa da inquietação. Juro que eu tentei me concentrar de todas as formas me concentrar no que eles falavam, já que eu não podia escrever, mas eu não entendia nada, porque nada eles me acrescentavam. Se eu estudasse para passa por aqui, eu iria roubar uma cadeira lá no inicio do céu, que assiste o mundo cão pela tevê, onde o paraíso é blindado. Eu queria bodiar, mas tava com pena de apodrecer, e as escolhas que passam num segundo...
No segundo carregava os passos do ditador, andando num corredor barulhento em direção a mim, eu me encolhia e segurava meu saco, pedia a noite que em escondesse essa noite em seus véus. Do meu lado ele parou e disse:
-Hello boy! Como vai rapaz?
-Eu vou bem, e o senhor?
-Muito bemtambem.
-Massa.
-Você tem?
-O quê?
-Horas, em massa?
-Desculpe, mas não tenho horas, nem massa. Se você quiser sentar ao meu lado, pode se sentar, eu respiro baixo.
-E quem vai comandar a direção?
-O povo! (Gritei)
-Jamais! Não seria tão inocente ao ponto de falar a verdade!
Medo, como o companheiro Edgar Macedo, que não tinha medo, e por não ter, tambem foi pro céu mais cedo. Amanhã é cedo, amanhã é cedo, amanhã é cedo, amanhã de manhã... eu vou fazer um café pra nós dois..
-Pra viajar tem que ter a carteirinha, chapa!
-É que é o meu primeiro dia no cursinho, me disseram para eu entrar nesse ônibus. O senhor não me viu lá não?
-Não. Talvez e seja o motorista.
-Quem sabe.
-Precisamos da sua identidade, do seu ticket refeição, da sua cabeleira, do se rock n´roll!
-Só um minuto. Eu tenho essa carteirinha aqui, em algum lugar... (procurando na sacola) Conhece minha puta? Não, isso aqui não, isso aqui é minha cueca, escova de dentes, fio dental... etc, reticências, não, isso aqui é o que eu não quero que você saiba.
-Lamento muito. Mas não poderá viajar conosco.
-Só por hoje, por favor. Enrrolo minhas cintura no cadarço da mamãe, me enforco nos cordões umbilicais.
-Não tenho tempo para music.
-Que pena. Ta, ta. Tudo bem, já entendi, você quer que eu desça, eu desço, porque sou espião, mas leio Carlos Castanhëdas, e ele disse que um guerreiro tem que aceitar o seu destino seja ele qual for, ele tem que aceitar com muita humildade.
-Tambem não precisa ser babaca como o Carlos Castanhëdas. Pode ficar aqui, mas que o amor não se repita, para não haver traições.
Assim ele foi, sendo assado, deu as costas e voltou pro céu. Eu bodiei, estava de saco cheio, não gosto do fundo das coisas, nem da Fundação Roberto Marinho, não gosto de foundi, nem de confundir Confuncio com Rajneesh. É que desde criança me dar vontade de cagar quando ouço e falo bobagens, quando estou no fundo, porque eles nada me acrescentam, a não ser essa inevitável vontade de cagar mariposas da minha barriga.
Um aspirante a engraçado gritou: Imigrante a bordo, infeliz!
Lá no fundo tão próximo. O putêro toca massa no céu, com os santos que masturbam uns aos outros com medo de serem descobertos, faz sexo em silêncio. Mas para quê precisamos de palavras, não é mesmo minha gente?
Um dia eu viro doutor, médico-doutor, como meu pai. Troco a poesia por pescrições médicas, assim como eu, hiponcondríaco que sou.
Em resumo: Eu morri, naquele janeiro que você não deu nada.

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