terça-feira, 7 de agosto de 2007

Bete Balanço.

Filho.
Na Escócia, o céu é cinza. e aqui, não saber para onde ir é pura trivialidade, mas eu gosto de quatro paredes, e sou uma marginal por isso. Você ainda não me conhece filho, mas eu já te conheço bem, porque sempre estive com você, você não sabe que tudo o que eu faço se torna marginal, um dia saberá?
Aqui na Escócia, a cidade nasce bonita, e só os que acordam para vida cedo tem esse privilégio, menos os peixes, eles não tem honras.
A noite, a cidade mostra as suas garras ao som de uma fábrica em serviço, com o seu método pavloviano, e tudo fica cinza.
Nasci aí, no Brasil, numa igreja onde houve um casamento. O padre Neiva me dava sonhos para comer, e me escondia, usando um disfarce que Dom Quixote usou, e que Dom Casmurro copiou. É, depois, talvez você se pergunte filho, por que a minha sina é o dom.
Tenho muitos medos, assim como você Dom, não sou inatingivel só porque leio o futuro, os ciganos tambem morre, você sabia disso?
Eu sou uma cigana, espero que você não tenha medo de ciganas. Quando criança, me escondia atrás da porta, onde dobram os sinos, dentro do guarda-roupa, me escondia tambem embaixo da cama, onde ventava e fazia frio.
Quando mais jovem, assim da sua idade, aquela idade em que lhe ensinam a mentir, a enganar, a nunca falar a verdade, e a usar uma máscara cara. Eu não tinha dinheiro, e usava uma máscara de lixo que trouxe da rua e hospedei no meu quarto.
Dom, hoje estou velha demais, tenho um corpo delgado, um cabelo vermelho, e uns olhos bêbados, eu já estou perto do fim, e eu ainda tenho tempo para escrever. Atrás da porta, me guardo e me preservo.
Mas para quem?
Quem são essas pessoas tristes que não se olham, mas dizem bom dia toda manhã? Se você olhasse para dentro uma vez só, veria a cigana em você, veria a mim, que dançava junto com a folha enquanto o padre encenava no confessionário, e o leão de Judah ouve a tudo, submisso, em cima do muro alto.
E Deivide decora os ideias que ninguem costuma ouvir, nasceu do pó. Ninguem vai olha-lo. Olhem-no decorando, lendo Freud, Cipriano, e segue mundo lendo Proust, Aldols Huxley, Stendhal...
Mais tarde, aquele banquete filosófico será digerido, e só vai restar ele, vomitando asneiras num bar.
Como é bonito agora a lembrança que tenho da minha avó costurando as meias, é como se ela estivesse costurando a própria vida. A sua vida seria imunda e fedorenta Dom.
Mas olhe ele manipulando as pessoas, tentando entrar na sua mente, porque onde ele está, é frio.
Como as cobras, a noite, Deivide tira o seu casco e troca o seu veneno, pois não há mais ninguem na rua, e ele não está nem aí, nem mesmo por aqui;;;;;;;
Corte as cartas.
Com a mão esquerda, querido.
Um punhado de cartas na mão esquerda pára numa mesa com tecidos de seda. três cartas viradas, havia um destino ali, pão de ló.
A Papisa, O Diabo e O louco.
O Diabo joga sozinho, ele comando os dois times em campo, ele que já começou a executar o plano de lhe destruir. O que é amor vai virar ódio em seu peito, tome cuidado.
A Roda da Fortuna. Você será enterrado no chão que ele pisa, junto com a tua puta. E ninguem virá.
Porque hoje você ta gozando de boca aberta, mas amanhã você vai parir milhares de monstros, tão parecidos com você...
Você não pode copular Dom, você não pode pró-criar, ninguem irá aguentar mais um dos seus céus, seu sangue correndo nos pulsos de outras crianças, irão te matar antes disso.
Velho débil mental brincando com o cachorro, quem o pariu?
Gabo estará no teu enterro e será o unico, mas ele estará escondido para que ninguem o veja, e depois da ultima pá de terra em teu corpo morto, ele irá chorar escondido de todos, num canto esquerdo. As lágrimas dele, no rosto mesmo irão secar. Daí, ele te virá passar menino criança, ingênuo e nu, sem olhar pra ele, apartir daquele momento, ele saberá que você sempre disse a verdade enquanto todos se ocupavam em te odiar. Gabo que estará no teu enterro fantasiado de você, de olhos hippies e chapéu de orelhas caídas.
Carta 13. O enforcado. e por falar em ninguem, Deivide Zangado enxuga o suor do rosto e mistura tudo com o sangue e terra de suas mãos, e fica tudo embrulhado, e alguem pega para presentiar alguem.
Doroteia, essa que você gosta, de negro fica escondida na noite escura. tudo o que vê, são os seus olhos. Como gatos na rua. Numa noite em que ninguem ta salvo.
Até onde eu vejo, todos estão vestido de preto, com os seus guarda-chuvas preto, com os seus rancores preto, com o seu pulmão.
E Deus irá assistir a tudo isso entediado com o mundo daqui pra frente, e vai levar lambadas de serpentes nas costas por ter tomado a atitude errada, por ter te levado para o exterior, eu tô na Escócia.
O céu se partirá em dois com o seu peso. E esses dois mundos irão brigar compulsivamente, você tomará o lugar do Capiroto.
Nessa cidade, sempre parece que vai chover, porque sempre quando você resolve entrar por uma porta, as janelas da percepção fazem loucuras e você não vê. Os teus amigos não são teus ídolos, não são seus super-heróis, você está numa loja de brinquedos e poderia levar o Batman, mas prefere levar os seus amigos, não há buracos em tua alma.
O governador do tempo passou pelas minhas cartas de tarô, e eu perguntei as horas, ele me disse:
"Não tenho tempo, graças a Deus."
Ninguem é tão quieto quando está só e quando você esta bêbado embaixo de um viaduto. Ele fala relativamente que o tempo está em greve, que o tempo sempre fodeu com o relógio, e hoje ele faz seca na cama. O velho era tão velho, que quando regressou, não virou criança, ficou mais moço, o tempo é o meu pai, o meu mano velho, eu li num livro roubado que se seguirmos nesse rumo vamos virar orgasmo, até virar inocência, embrião, ultero, feto, nada, até passar pela criação e chegar na ideia indecente de fazer o mundo, eu quero correr ao contrário para não entrar na mente de Deus.
"Empurre os ponteiros para a frente, rapaz inteligente." E foi engatinhando nu, pelo fio da navalha, com sorte não se cortou. Mais tarde, a navalha corta a noite e sangra tambem, a velhice me acena Dom.
Não pense que quando morremos, o outro lado é o paraíso e só. É um mundo novo e arrumado, as pessoas vão morrendo e poucos nascem, porque o mundo ta cansado, o paraíso é o novo mundo onde todos irão, crentes e bandidos, uma nova vida sufocada.
Tu serás sovina em outra vida, DemOnstrate, não tenha medo de mim, quando tudo estiver no escuro, compre um fusível.
E se você que está aí, me lendo sem ter a certeza do meu rosto, chegou agora da rua, e acha que está bêbado, mas não está. Não importa a cor da caneta que eu escrevo, se minha letra é turva ou não... Não se aproxime demais das coisas que reluzem Dom.
Vamos sorrir e desconstruir um caminho pela frente. Porque quando eu fôr milionária, eu vou te comprar para mim, para os meus dias de insônia e solidão.

Nenhum comentário: