quinta-feira, 30 de agosto de 2007
A poesia que me veio num sonho.
No teatro...
Mas já fiz e gosto muito de teatro, gosto do clima mambembe de ser, gosto dos exercicios de voz, respiração, é como uma terapia.
Então, no meu primeiro dia de aula, eu fui com Bel, eu tava fumado, e acabei indo assim mesmo, não é que eu rir muito? e achei tudo muito chato tambem, o elenco é bastante fraco. O professor de teatro me perguntou o que eu queria no teatro.
"Me divertir. Só isso."
O que você espera do teatro?
"Nada. Só me divertir."
Você quer se divertir, ou quer que os outros se divirtam com você?
"As duas coisas. É que eu sou meio hedonista."
Ahhhn... hedonista... alguem sabe o que hedonista?
Ninguem sabia, e ele explicou, e me deu um papel_ quando todos já tinham o seu personagem fixo, até mesmo Bel que entrou no mesmo dia que eu._ de um personagem hedonista. Oquei. Fácil. eu pensei.
Uma peça sobre pessoas, uma peça sobre pessoas... Você gosta de pessoas? Eu as vezes odeio as pessoas, se isso tudo tivesse sangue a gente iria dar mais valor, acrescento o dinheiro e tudo fica par e redondo, na verdade; verdadeiro.
Do risinho vem o esporro lá no fundo: "Ria dos outros quando você estiver fazendo algo certo!"
O elenco desconcentrado, abatido, artificial, uma peça triste sobre escola publica, personagens clichês, o que me faz lembrar das minhas peças de escola, que não sei porquê, eu era sempre o maconheiro.
O Deus de Gabo é gay, e quem come ele é aquele personagem negro, revoltado. Cheguei apostar com os meus botões que Ronaldo Braga, o diretor, toma uns comprimidos depois dos ensaios, ou vai para o bar mais próximo.
Vou falar sobre teatro, não fique tão sério Gabo, alivie os musculos do seu rosto e sorria.
"É que eu tô entrando num personagem que dar um show no inicio, e desanda no final, quando as lágrimas secam, eu tenho que falar dessa escola publica, e tudo fica parecendo uma emenda, uma obrigação de falar sobre escola publica."
Meu nome é Bel, e vim para botar pra fuder!
Meu nome é Rafael, gostaria muito de ser o diretor corrupto, mas acho que hoje eu vou ser um Deus honesto... (aemeodeos...)
Meu nome é Tiago e vou fazer um aluno rebelde sem causa.
Ei de novo! Meu nome todo é Rafael Cruz, mas não moro em Cruz, mas eu nasci lá... Bem... eu não vou ser o aluno rebelde, nem a mártir, nem o diretor cuzão, muito menos a estudante que fez sexo na biblioteca consultando as posições de Kama-Sutra... (Que idéia fabulosa!) Me desculpem, mas hoje, eu vou ser um critico de teatro.
Estavamos todos posicionados, foi o primeiro ato, o segundo, o terceiro, bem.. foi a peça inteira. E no fim, o professor me convidou para eu apresentar meu papel, o tal do personagem hedonista.
"Errr... Eu vou ficar aqui no meio, e quero me sentar no chão tambem porque eu gosto do frio e fui um hippie na vida passada..."
Bora Bora Rafael! Sem muita lenga-lenga! apresenta logo seu personagem! Não temos muito tempo não!
Brochei, e tudo ficou com a nitidez de que eu não fui bem quisto.
"Posso fazer o critico de teatro agora?"
É o primeiro grupo de teatro em que as pessoas parecem todas infelizes, como num encontro corajoso de alcolatras anônimos.
Antes de começar a falar, eu queria pedir pra vocês não trocarem as bolas, por favor garotos, folguem os parafusos, está bem? Se você faz um personagem mal, me faça lhe odiar, mas hoje eu senti tesão pela maldade, eu, que fui a plateia durante todo tempo, deu-me vontade de estrangular o diretor da escola, o que prova meu querido, que você é um ótimo vilão, já que o seu lado bom me dava repugnância.
Acho mesmo que vocês são ruins porque tem medo, tem medo do novo, tem medo de correr riscos no divã do teatro, porque o teatro é o analista que bate na tua cara quando você chora. O teatro ta cagando pra sua dor, por isso, controle seu choro, e estrangule seu riso. O teatro foi feito para agradar a sí mesmo, e não o diretor.
Trilhões de pessoas moram no universo, e são quase todas tristes.
A peça ta no começo ainda, ta em constante transformação, e deixo claro aqui, que nem temos um roteiro, só um enrredo, estamos improvisando, ensaiando, colocando as coisas no lugar, por enquanto.
O diretor da escola: (falando ao telefone, "com certeza com um homem") Oi meu amor... Pode pegar sim, chego mais cedo hoje, até mais, tchau. (desliga o telefone, depois de uns minutos o telefone toca novamente e ele atende. dar uma tossida para engrossar a voz antes de falar.) Pois não? Sim dona Judith! Pode mandar entrar!
Aí nessa cena os alunos vândalos entram na sala do diretor, e como todo personagem marginal, senta na cadeira de qualquer jeito, todo largado.
O diretor da escola: Novamente vocês por aqui! Sentem-se direito! Vocês não estão na sua casa!
O aluno 3: Escola! Como vocês dizem, sua segunda casa!
O diretor da escola: É... Bem... Não sei... Hãn?! Ei você! Menina com cara de santa! Você foi pega fazendo sexo na biblioteca, ao lado de um livro de kama-sutra.
A aluna: E daí diretor? Estava transando com os livros, achei lá calmo, poético, envolvente, cheio de aventura e palavras de amor...
O diretor: Não pode! Não pode! Não é lugar!
A aluna: O senhor diz isso porque não é mulher! Eu tenho meus desejo! Eu tenho nes-ces-si-da-des! O que há com você?
O diretor: O que há comigo?
A aluna: É. Só foi uma foda diretor, e usamos camisinha. "Você sabia que a mulher tem um apetite sexual dez vezes maior que o seu, amigo meu?" Quando ela quer, não tem hora, nem lugar não.
O diretor: Não sou seu amigo. Sou seu diretor!
A aluna: E o que o senhor quer que eu diga?
O diretor: O que eu quero ouvir.
A aluna: O senhor não gostaria de saber o que eu tenho pra falar.
O diretor: O quê?!
A aluna: Ta legal! A escola inteira acha que o senhor é gay, e pelo aspecto de hoje, que não faz sexo há anos tambem!
O diretor: O quê ?!??!
Saia da minha sala! Saia da minha sala agora! 15 dias de suspenção! Por que você ta me olhando assim? Me acha com cara de idiota?
A aluna: Acho. Um idiota que não faz sexo há muito tempo. Quanto tempo mesmo?
O diretor: 9 meses, acho.
A aluna: Então, come angustia frita, pari abstinência assada. O seu pau lateja diretor, quer me suspender da escola porque no fundo queria estar no meu lugar, o senhor gostaria de estar praticando as posições do kama-sutra na biblioteca, com o meu homem. Você é infeliz e a escola é mal pintada, você não sabe lidar com o seus demônios, é uma daquelas pessoas que sabe uma piada fantástica, mas é mudo. Gosta de escrever, mas vive no escuro. É como aquele garoto que ganhou um computador, mas não sabe mecher. Embora amor o senhor tenha, o senhor não sabe usa-lo.
O diretor dar uma bofetada na cara da aluna, e a escurraça da sala dele, nos gritos. O namorado da menina, covarde, parado está, parado se encontra. O diretor; suco de laranja podre, não mais sentia a saliva, andava de um lado para o outro, com uma dureza no olhar, um silêncio denso tomava conta da sala e do palco durante uns bons minutos.
O diretor: Tire a roupa.
O aluno 3: ...
O diretor: Não ouviu? Tire a roupa!
O aluno 3: Como?
O diretor: É surdo? Eu mandei tirar a roupa! Tire a roupa!
As roupas do garoto parecem sair com medo e por vontade própria, ninguem pensava mais ali, nu ele se encontra, nu ele está. Dois passos diante de um corpo e o diretor balbucia as seguintes palavras...
"No seu falo minha boca se encontra, na minha fala; adormeço."
Quem quiser aplaudir aplauda, quem quiser vaiar, vaia.
(Continua...)
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
Stern
No ônibus.
Bete balanço, Darcí Conselhos.
Um beijo.
de sua mãe.
A fama.
Maria Depressiva reencontra uma antiga paixão.
Tambem não estava meditando, estava num café da esquina. suas mãos em volta da chícara quente, a fumaça do café saindo e tocando sua face, tudo aquilo aliviava a dor de Maria, não era mais eficiente que seu vocodin ilegal, mas era uma brisa natural, o que era bem melhor. Podia sentir o tempo passar, podia sentir tudo, a brisa, os instantes do que ela já viveu e do que ainda tem para viver, um misto disso tudo num tom bem aurora boreal de começo da manhã, vê as pessoas de outra forma, de outro ângulo, um pouco distorcido, e a verdade das pessoas não é tudo aquilo que se mostra, nem toda verdade é relevante, nem as pessoas só ficam juntas para serem felizes. O que te faz pensar isso? existe a tranquilidade, a estabilidade. O amor brando nesses tempos de cólera, em tempo de lágrimas, chorar miséria é bobagem. Era ainda muito cedo, e algumas pessoas ainda dormiam, mas a rua estava movimentada.
Ah! Seria tudo tão mais fácil se Maria se assistisse de vez em quando! Ela iria notar o que as pessoas notam quando ela está distraída, o seu sorriso sincero que se exibe na janela sem o seu consentimento, os seus olhos de neon, a simplicidade, como uma máscara de barro que se flagela, e ela não nota, não nota porque está olhando as graças do mundo, as bicicletas e os andantes.
Ela até sabe o caminho, ela até tem a chave, mas tem medo de se encontrar, ta sempre adiando esse encontro, apelidou a vida recém-nascida que está do outro lado de, "muro da paúra". Tem medo de perder o charme.
Quando Maria se encontrar, ela vai ser mãe de sí mesma, porque nada se apaga, ela vai se encontrando, se esbarrando em paredes, andando por linhas amarguradas, o que eu chamo de linhaço. José viu a alma dela no dia em que ela usava o seu melhor disfarce, mas isso não é para todos, Bahia.
Maria abre os olhos, olha ao redor, olha para fora da janela, vê um rapaz bonito passando pela calçada em frente ao café, pensa:
"E se eu ficasse aqui, debruçada nessa janela, e ele me visse do alto... Será que ele se apaixonaria por mim? Estou aqui e faz uma manhã inspiradora para a Maria Bethania um pouco mais decadente."
-Maria?!
O seu olhar se desfez de qualquer explicação pesada, quem tinha aqueles olhos não precisava explicar porque guardava bostas debaixo da cama desforrada, é tão triste e tão intimista, sabe um monte de piada, mas é muda. "Muda é arcada dentária do animal, pela qual se deduz a idade."
Dalí a pintaria hoje se tivesse tintas. Salvador, terra de quase todos os santos, cidade segura onde crianças cheiram cola, deprimindo que raramente os nota. Bahia tranquila que rouba poucos pobres, terra da tarde de Itapuã, que tambem fica triste. Itapuã é como aquelas estrelas de cinema, mulher bonita e sorridente, porém, todos os seus sorrisos são falsos. Ensaia sempre quando sai de casa, e fecha aspas.
-Sou o Lourival, nos conhecemos na escola de olhares da arte, era uma noite estrelada de Boas Graças, lembra?
-Me desculpe, não lembro. O acido roubou minhas lembranças, boas e ruins, graças a Deus. Foi um risco, não tenho memória e posso gozar em paz, mas tambem posso perder o amor da minha vida por não me lembrar dele na manhã seguinte, vai ver você na minha viagem era um demônio, e eu, uma princesa maia. é um risco em folhas limpas para ser feliz, e eu estava afim de correr, de pular a cerca farpada dos meus limites.
-Eu sou livre porque penso.
-Já leu Admirável Mundo Novo?
-Não gosto de Aldols Huxley.
-Por quê?
-Ele me negou uma perna.
-Livre porque penso...
-A liberdade é a ditadura do corpo, a liberdade não existe exteriormente, a liberdade mora na casa de mente, a ética se tranca entre musculos. Mas você me falava de seus sentimentos...
-Tomei algo para morrer essa manhã, só estou esperando fazer o efeito.
-Quer mesmo morrer na rua?
-Quero morrer vivendo. Descobri que choro todas as noites sem saber, acnes, aids, amor, ta tudo escondido dentro de mim, eu só posso revelar uma verdade de cada vez, sou sensivel e morro com devaneios, overdose de devaneios peculiares.
-Você sempre bebeu muito, por isso não lembra de mim.
-Alcool e direção não combinam, já dizia o slogam.
-Você é triste. Dizia o outtdoor.
-E o que você vê?
-Tudo que eu ainda não vi.
-É o meu grito!
-Gorda chulada, a gente não sabe de nada. Somos autoramas tirados da pista.
-Eu perdi de escrever tanta coisa boa por ser uma só... por só ter duas mãos.
-Há gente pior, que vive com fome e não pode pensar.
-Não vou desistir de ser melhor por causa deles.
-Você não perdeu sua maldade.
-Nem posso. Ela é orgânica.
-Cigarros?
-Sim. Ei! Peraí! Eu me lembro de você! Você é o cara que eu ouvia jazz internos quando eu te via passar... Nunca entendi porque Billie Holiday povoava minha cabeça quando eu te via.
-Isso eu não sabia.
-A gente não sabe de nada, gorda chulada. Fomos abortados pelo tempo, tem tanta coisa morta pra gente conversar, erámos um seriado ruim que passava na tevê aberta nos resquicios da noite, demos um intervalo e esqueceram de pôr a gente no ar novamente, porque ninguem nos assistia, enquanto a gente se amava todo mundo dormia.
-Eu... Eu preciso ir Maria. Foi bom te reencontrar.
-Mas já? Fique mais um pouco. Tome um café comigo, pelo menos. Vamos ver a cidade se desenvolvendo com o céu.
-A qualidade do céu, é o sol se pondo. É um sol cicerone. Quem ganha pouco, tem que ter esperança, pelo menos. Minha vida não anda facil, eu tô correndo contra o vento senil, na onda jovem, no meio da praia me chapando de pinã colada.
-Hum... Que interessante sua vida!
-Ganho pouco, um salário de merda, não sou filho de Deus, não sou filho de Gandhi, sou uma manchete de jornal, aquelas que você dorme onde não tem onde dormir.
-Prefiro o abraço do ACDC. *subliminar*
-Até mais Maria, tenha uma boa morte.
-Eu vou morrer?
-Você não tomou cicuta para se transformar no que te agrada? Um sonho ruim, é isso que você é, o que não é defeito, de fato.
-Artigo 1999, morrer, morrer, morrer, não resistir ao minado pensamento. Eu quero transar com você.
-Gostaria de morrer nos meus braços?
-Entre suas pernas tambem.
Foram logo alí, numa casa logo alí, se amaram logo alí. Lourival morreu nos braços de Maria Depressiva,entre suas pernas tambem.
Ingeriu cicuta bem antes dela pensar em nascer.
sábado, 25 de agosto de 2007
Ei Renata! Sua gorda chulada!
Horóscopos, tragédia e diskputas.
Joana trai Xavier.
sexta-feira, 24 de agosto de 2007
Dom: Carta para a morte.
Você, minha querida morte, santissima puta dos burgueses, é boa para se apreciar de longe, suas pulgas me assustam quando você passa.
Elas vem me avisar da sua presença que se faz constante; do seu tabaco cubano, e do seu olhar pevertido, sempre sorrindo com um canto da boca.
Morte querida, com cheiro de cerveja adormecida, permanece em mim sempre um pouco bêbada, como os versos de Leminski.
Eu
e
meus
versos
Eu
versus
o
mundo.
Andando na praia, pisando nos buracos do universo, escalando as estrelas da alma.
Você que está aí, fritando um ovo, deixando a gema pro final. Se fartando de comida gordurosa num domingo tedioso, pizzas e centenas de latinhas de cervejas espalhadas em cima da mesa, já não levanta muito, nem pensa demais, tirou a tomada do telefone, não tem pra quem ligar. Você come e fica bêbado, licor de graviola.
Pois bem. Saia do seu mundo, mas não fique no meu, eu fui despejado do meu mundo, por ser bastante ausente, autista. A angustia mora no quarto dos fundos no bairro do meu corpo, e foi tu, querida morte, que foi a corretora, o impulso do meu fracassado.
Nos dentes de quem está perdendo os dentes você irá se encontrar, tu que é, eu que sou.
Os meus sentimentos são todos escondidos, e isso não é poesia, é desabafo etílico, é blues, céu azul. A morte é um homem jovem e bem conservado, a vida é uma preta gorda de turbante rosa na cabeça. A morte fode com a vida. E eu tô falando de sexo, oquei?
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
Moacir quer morrer
Admirava Frank Zappa, não pela pessoa que ele era, mas pela música que ele fazia. Inrrotulável, pelo menos foi isso que ele leu num artigo de uma revista de musica.
“Frank Zappa... Eu acho que eu tenho um disco desse cara lá em casa. Inrrotulável. Taí gostei!”
Não Meireles, não Bandeira, não Bukowski, nem Dostoievski.
Nem santo nem louco.
Nem marginal e nem insosso.
Criou no seu subconsciente uma espécie de trauma pela literatura, principalmente livros indicados por professores, indicados não, forçados mesmos.
Tentou ler “As Palavras” de Sartre, mas não entendia nada, tropeçava a cada palavra que consultava ao dicionário, desistiu, como que se desiste de se aborrecer, e deixar pra lá, era assim mesmo, não iria mudar.
É domingo, e noite também.
Num canto da casa esquecido, deitado no tapete sujo da sala, compartilhando com pequenas formigas restos de Crame Cracker que leva nas costas... Passando os seus olhos mórbidos e vagarosos nas formiguinhas indefesas que vão caminhando não sei pra onde, levando o alimento não sei pra quê.
Há seis dias não sai de casa, há seis dias o telefone não toca, tomou banho ontem, veio comer hoje, dorme sempre de meia, calça e luz acesa. Vai ao banheiro quando dá vontade, quase nunca, mas sempre volta para o seu estado de decomposição analógica, esperando alguém que nunca vai chegar, ou algo que nunca vai acontecer.
Esperando, sempre esperando...
Talvez se mate hoje, ou amanhã quem sabe, tanto faz. Pensa numa morte rápida e sem muito sangue, pois tem pavor a sangue. Veneno! Perfeito! “Acho que eu não tenho veneno aqui tenho? Merda, eu vou ter que comprar...” Vou me matar como se mata um rato, sem pena e com um leve toque de sordidez.
Levanta, fuma um cigarro olhando da janela as pessoas que parecem felizes.
Dramático encontro de Lola e Peixoto.
quarta-feira, 8 de agosto de 2007
Dos ultimos devaneios.
Uma vez, numa dessas bebedeiras, escrevi essa frase, e dei tanta importância, que as prendi entre aspas, e as aspas são o que deixa as frases sujeitas a algo especial, ou um tanto enfática. Noutro dia, um dia depois daquele em que eu certamente não lembro mais, porque estava bêbado, foi um susto; eu me assusto com o que eu escrevo, porque na maioria das vezes, eu não lembro porque eu escrevi aquilo.
Era segredo. Eu, às vezes não tenho concepção nenhuma para um texto meu. Alguns não querem me dizer nada. Daí, as pessoas que lêem e se identificam, fala pra mim; "Pô, gostei mesmo, me passou uma mensagem legal...” “Foi mesmo? Que mensagem?” “Tal e tal e tal...” Dependendo da mensagem, ela fica.
É, eu roubo os sentidos que as pessoas dão para os meus esforços, e fica como sendo meu. Não ando lá muito bem da cabeça, a sensação de morte anda iminente... há uma frase assim, em algum livro, assim, nesse sentido... acho que é no livro "Cem anos de solidão".
É, achei, é no livro "Cem anos de solidão". Fala sobre Melquíades, um cigano esperto, amigo de José Arcádio Buendia, não sei se era por ser um cigano misterioso e alquimista, que ele havia se tornado um rato de laboratório, um alvo de mal tenaz. Melquíades, hora ou outra com a sua velhice assombrosa, carregava nas costas uma pá de doença, pragas, catástrofes, tudo no gênero humano da coisa. A pelagra na Pérsia, o escorbuto no arquipélago da Malásia, a lepra em Alexandria, o beriberi no Japão, a peste bubônica em Madagascar, fora os terremotos e os naufrágios. Não que eu seja um cumulo de doenças, talvez uma orquite e uma sífilis, mas nada demais. mas comparo a sensação de morte que ele_como eu_ tem de vez em quando.
"... A morte o seguia por todas as partes, farejando-lhe as calças, mas sem se decidir a dar o bote final.”
É quase uma síndrome de pânico, diria, decorrente. Tudo isso desde minha primeira convulsão no meio da rua... Eu, as vezes não tenho Gabo o tempo inteiro, e ele nem gosta de me deixar só, mas ele gosta de dormir e eu gosto de amanhecer na rua, por isso, por teimosia, quase sempre, volta em meia eu tô sozinho.volta e meia eu tô de volta.E por falar nessa crise de epilepsia súbita e vaga, vamos rir dela, com elegância.Sem perder o sentido, e só para saberem. foi exatamente assim que tudo aconteceu, assim mesmo, como nesse video do youtube . Sendo que eu seja o Chicó da estória, tudo bem, Gabo é João Grilo, e o cangaceiro é a morte. Até a mentira de depois é igual, a minha volta.
"Ipse Dixie? Apertem os parafusos!"
Apresentando os pseudônimos.
Joaquim, Quincas, Mateus.
A bussola de Ursula.
Como era um domingo chato, daqueles domingos dispostos a aguar qualquer coração, Úrsula resolveu pintar, dar expressão a um rosto vazio numa tela mal acabada, ela nunca soube o que é a perfeição, é como um conto que nunca vai acabar, é uma tela nunca pronta, pois nunca está satisfeita, assemelha isso como o orgasmo tambem.
Úrsula gosta de comparar as coisas e se surpreender, as vezes. As vezes, eu gosto.
Seu pupilo bate a porta, amigos chegam e palpites palpitam. Eu tentei pintar tentando mostrar que não me importo com os outros, mas é tudo mentira. Úrsula se irrita e abandona a sala. Tatuagens hedonistas em cerejinhas no seio esquerdo. Eu fico pintando, tentando não pensar, mas aqueles que não tinham perdão e nada para fazer, borraram as cores da tela e tudo ficou com um peso tramontina, porque tudo o que eu faço tem um peso tramontina. No meu sangue não pulsa a leveza das coisas, a sutileza dos sonhadores convictos e compactos. Minha mente; area ventosa, onde a poesia passa longe, por outro caminho. Longe do coração e mais perto da casa do caralho.
Úrsula ainda emburrada, prepara um drink. De Medeiros Maderite Brotas, vizinho de longe, se ocupa com o gelo, três cubas de gelo para Úrsula, e dois para De Medeiros Maderite Brotas.
Saúde!
Oh! Por favor Úrsula, volte para a sala, aquele seu pupilo está destruindo toda a sua tela.
A tela é dele!
Mas o nome é seu! E se ele começar a desenhar uma buceta fumegante? Você tem um nome a zelar!
Que se foda essa porra toda! Meu tripé é meu sobrenome.
Ursula bebe o drink num só gole, e chupa o gelo numa sacada de noite fria.
Joana e Xavier.
Olha como é a arte didática. Eu começo desenhando numa tela cara, e com medo de ser suja, vou fazendo uma pira domenical, misturando os bolos, os glacês. Todos deram palpites, pitacos de coisa nenhuma:
"Não entorte o pincel, seu torto."
"Não firme a cor preta numa peça branca, vão pensar que você tem depressão."
Era tanto palpite que eu perdia a identidade, que é a lua, é a tristeza, o carnaval e o medo em confetes, a paúra em serpentinas.
E a baiana mulata dança, eu vejo a sua nudez-carvão em corpo delgado, onde os homens a noite tentam andar em movimentos retilínios; Todos os bêbados caem!
Xavier, antes de tudo, eu quero falar com você. Você pode se trancar no banheiro comigo?
Dois metros quadrados de azulejo branco e liso. Uma conversa franca tentava ser ouvida entre um punk rock na sala.
Ela chorou, até pelo que eu lembre, nem tanto, é que os olhos dela são grandes e molhados, um mangá desanimado desenhado por alguem triste. Juh, não se tranque a tarde inteira. Não vale a pena se livrar do sol, ele está em todo lugar, e a todos acolhe, e irrita faz décadas a fio.
A ninfomaníaca_Digo assim porque estou com ódio dela._ chorou porque não aguentava mais, seu nome era Joana, o meu é Xavier, já dito.
Muitas mulheres queriam beijar a minha boca bêbada, e acariciar a minha barba cansada, enquanto eu estou preso num banheiro de um bar.
Ela dizia que estava sem alma sem mim, que chorava de barriga vazial, que o seu feto morria de fome, Joana e o filho dela precisava me comer urgente. Mas, eu gozava com a minha puta, e limpava a minha porra com folhas brancas para não deixar vestigios de algo meu.
Seca rápido, amarelo fica.
Um viscoço fiasco. Um fiasco em pó.
Olha Joana...
Não vá embora, me deixe falar!
Isso ta tão Nelson Rodrigues... Um dia, Deus vai me dar um gravador, para eu não perder nenhum momento da minha vida, e poupar os meus dedos.
Seria muito bom. Você daria atenção a mim.
...
Porque você é assim hein, Xavier?
Eu preciso sair daqui, eu tenho claustrofobia.
Eu só quero ser um pouco você.
Não se sinta a mártir privilegiada, eu sou assim com todas, o detalhe rasgado não é só seu.
Eu só quero que você faça...
Eu chupei a lingua de Joana, depois eu desci, passei pelos mamilos rugosos e friorentos, umbigo de mim ao lado do caminho da perdição, passando pelo Cabo das tormentas, chegando na mata desmatada, eu tirei um cochilo jóia, numa gruta suada, em que a minha ligua, com sede, se sacia.
Não suporto mais te suportar!
Use a saída de emergência.
Você gosta das marcas do meu pulso, são como nuvens pra você, você vê desenhos se formando nelas e fica lindo.
Uma nova versão de uma velha música.
Você está pedindo para eu ir embora?
Só para que destranque a porta do banheiro, tenho fobia ao quadrado.
Quer papel higiênico?
As vezes.
Ai meu Deus, você me droga, me controla o tempo inteiro, eu me sinto vulnerável dentro dessa caixa branca!
Então abra a porta! Aqui é tão pequeno para nós dois! Estamos nos estapiando!
Vespa solitária!
Ninfomâniaca casta!
Abre essa porra Xavier!
Eu estou tentando! Mas parece que estamos trancados um no outro, como aquele presente que você deu para minha mãe, como as minhas pinturas, putas-tristes.
Arrombe os meus sentimentos agora! Eu quero sair daqui!
Se afasta beibe!
O reto pé de Xavier veio fundo no estômago onde Joana escondia um bebê.
Dele.
Geruza Cardoso.
Foi assim: Numa rodada de fumo. Um espirito se manifestou. Não sei de quem, não sei quem escreveu.
Num certo dia, no outro depois daquele, é claro. Fui ler os textos na minha puta, e encontrei uma folha escrita, era uma letra feia e torta, vulgo, garrancho. Era uma letra de bêbado, eu sei porque passo por isso, você tenta se concentrar ali, para não vazar coisas que não tem nada haver, por isso acaba firmando a caneta no papel, deixando uma cor muito amarga de se ver. Pior foi a assinatura dela, era um Geruza Cardoso redondo, cheio. O 'G' parecia um 'S', o 'E' parecia um 'A', as letras não eram juntas. O Cardoso no final, ela puxou um tração no o, que ficou parecendo um u.
De fato, vamos ao fato, que é apenas um desabafo etílico:
Não sei, não sei tentar sentir novo espirito.
prestes a rodar no triangulo amarelo e preto.
afastando-se das dimensões do corpo.
Você tem nojo de mim? É isso?
Não. Não é isso.
Então me troque por uma frase bonita sua.
As minhas ultimas palavras foi um sorriso.
*Desculpe Gerusa, mas a puta é minha, e eu sou egoísta. Eu sou burguês, como macarrão. Não vou te dar uma folha inteira, um papel higiênico limpo para limpar a sua preciosa bunda, pois mal lhe conheço.
Deus lhe dê juízo. Tomare que ele lembre de você, por que eu tô na fila do juízo já tem uma cara.
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Ai meu Deus_Rique me disse_ Já ta escrevendo na folha da Geruza Cardoso? A dama-analfabeta do universo popular?
O que é que tem? _Eu perguntei_ Escrevi algo forte tambem, com punhais nos olhos. _Afirmei._
Sei lá. _Ele disse_ Parece que você usa os dois lados do papel higiênico com a sua bosta enlatada.
Essa bosta toda né? Já tomei purgante e nada chapa.
Que coisa, não? Porque não experimenta cagar, apenas?
Ode, Ódio, Ode.
O velho Peixoto e Lola. Lola e Renata.
Pick up, pin up, beck up, acende, puxa, prende, passa.
Passa o beck Lola! Pule fora!
Ei! Pra onde a Lola vai correndo assim, em direção ao pasto?
Essa menina é maluca, que viagem crazy pra xuxu.
Ei pessoal! A Lola ta fugindo com o nosso beck!
Vamos pegá-la!
Vamos!
Não pessoal! Para né! Correr gasta noventa e nove virgula nove porcento da viagem.
E o que faremos?
Deixa essa filadapulta pra lá, vamos rezar para ela começar a se sentir sertão, e morrer de sede, tomara que ela tenha uma bad trip, um teto preto, uma sala branca.
Lola! Lola! Lolinha! Gritava na casa grande, subindo as escadas apressada, deixando a sua saia sambando, e suas gorduras sacolejando. Seu nome era Renata, era gorda e bochechuda, era uma dessas meninas sem rumo por ser feia e gorda, Renata é uma dessas meninas que sonha em ser popular, mas ninguem a ama, tentou o grupo dos cdf´s, mas num certo dia, errou uma conta aritimética, e foi expulsa do grupo. Tentou ser do grupo dos capachos dos populares, é o grupo mais acessivel para chegar mais rápido no topo, alguns, os mais espertos, conseguia passar de fase, conseguia deixar de ser capacho e virar popular. E esperta ela não era. Mas era capaz de se humilhar, isso Renata sabia fazer bem, e com esmero.
Sabia de uma coisa, que eu julgo verdadeira e tambem nescessária.
É nescessário se humilhar para chegar lá no cume, e humilhar quem está em baixo. Pois é. cuspir na cabeça das pessoas lá do alto. o hobby de Lola Lo Lo. L. J.lo. jota eli ó. o ó. Renata ta lendo o livro. "Os prazeres que só os bonitos podem ter." atrás do livro tem escrito. "Desculpe as feias."
Ta desculpado, porque eu gostei da sacada!
Renata nem cogitava tentar ser do grupo das meninas super poderosas, o grupo das loiras lindas que passam brilho na boca para fazer boquetes luminosos nos meninos na hora do recreio. Uma vez, Renata pegou a Luisa Brooklin fazendo um boquete no Mauricio, no vestiário, no intervalo do jogo de futebol, Luisa Brooklin havia prometido as amigas que chuparia aquele que fizessem mais gol.
E Renata viu, quando passeava com a sua polaroid, viu a Brooklin de joelhos dobrados implorando a porra de Mauricio. E suspirou...
Nossa, como ela chupa com elegancia...
Renata é virgem, do signo de virgem, conheceu Lola quando ela estava no patio da escola, sozinha, comendo um enorme sanduiche de frango e salame. Haviam roubado o lanche de Renata para vê-la furiosa, eles descobriram o segredo de Renata, eles agora sabem que Renata é capaz de matar um, quando está com fome, fica parecendo uma personagem dos livros de Steph King. aquela que é estranha.
Lola dividiu o enorme sanduiche de frango e salame, em troca de um segredo.
"Afinal, você é tão gorda, deve esconder muitos segredos entre as pernas."
"Nãaao. Não tenho segredos. E o que isso tem haver, por eu ser gorda?"
"Você não tem fome de comida, você tem fome de amor. Mas como ninguem te ama, isso te tranforma em fome insaciável de comida, isso faz você comer tudo que vê pela frente."
"É verdade, eu sou capaz de devorar. E isso é um segredo."
"Ora! Um segredo que todos já sabem não é mais um segredo!"
"Por Deus, eu estou tremendo de fome..."
"Primeiro, o segredo."
"Ta. Eu vi a Luisa Brooklin chupando o Mauricio no vestiário!" (Explosão)
"Que interessante..."
Foi chamada de burra algumas vezes, por Lola mesmo, por ter tido a chance de registrar o momento do ato devasso da menina rica, e não ter registrado. Mas Renata já sabe que ela é burra.
Tornaram-se amigas. E foi assim que Renata começou a fazer parte do grupo da fumaça, aqueles grupos rosas que nascem em estrume, que não fede, nem cheira. Renata tentava ser todos, só não tentava ser ela mesmo.
Chegando no topo do prédio, na cobertura, avistou Lola de calcinha e sem sutiã, deitada numa cadeira branca, dessas de praia... achando que está na praia. tomando um refrigerante achando que é um martine, lendo a revista Caras, achando que é a Vogue, fumando um lapis, fingindo ser um cigarro. Nos olhos, uns oculos desse de madame protegia contra os efeitos.
"Lola, tu se importaria se eu tivesse uma inveja construtiva de você?" _dizia Renata, sentando ao lado de Lola.
"Eu quero dormir, escrever numa camisa velha, a tua frase na camisa. Gnomos existem, são minha escolta."
"Pede permissão pro Cazuza. É dele."
"Melhor..."
"Melhor por quê?"
"Porque ele está morto."
"Melhor. Ele está perto de Deus, você não ta."
"Eu amo Deus, a minha lingua coça para dizer o que eu quero, mas ela recua."
Eu te queria desde da barriga de sua mãe Lolinha, eu te escolhi no berçário, eu vou te criar até os dez anos, daí em diante, eu vou te amar, como um homem, como a minha ninfeta. A crueldade que eu como toda manhã.
É França, é frio, domingo de setenta e oito. cinco horas da tarde.
Eu, Peixoto. quem vos escreve o relato seguinte.
Eu vi a Lolita de Nabokov, muleca sentada no meio fio, e pernas brancas e lisas saltitando do meu coração, eu tive tesão e gozei roendo as unhas, como um velho débil mental.
Ela me olhou tambem, depois de um tempo de cabeça entre as pernas, ocupada de pensar, só assim eu pude notar a sua franja, suas sardinhas em volta do nariz e dos olhos claros, uma beleza agressiva.
Ela gozou sorrindo. Do verbo debochar.
Pois a mão na cabeça, apoiando seus sentidos, logo, ela se fechou novamente em copas de ouro, em posição fetal.
Eu gozei roendo as unhas, eu tinha 76 anos e parecia que eu tinha 74, era um domingo de tarde, num desses dias que temos a imprenção de que um assassinato está preste a acontecer, ou um suicidio duplo.
Quanto a Lola, eu nunca mais a vi. As vezes, em meus sonhos, nos domingos menos propícios a melancolia.
Meu nome é Peixoto, sou velho e babão. Tenho um olhar desnutrido e morro de fome.
Dom: Carta-padrão para alguem de lugar nenhum.
Não confio em quem me suporta, desconfio de quem não entende minha letra, não confio mais em você.
Na verdade, o mais, é pura gentileza, um reflexo de gentileza. Porque eu nunca confiei em você, desde que rosa é rosa e que você me disse que ninguem dar uma flor sem esperar nada em troca. Desde quando você quis me comprar por coisas tão baratas, que eu mesmo poderia comprar.
Não gosto de você, e só fomos amigos esse tempo todo, porque eu sou uma pessoa que aprecia a maldade, a comparo com o orgasmo porque tenho liberdade pra isso.
Eu só fui até o jantar na sua casa, porque eu queria te amostrar que eu aprendi a andar sem tuas pernas, e hoje eu corro, e você não sabia que eu corria tanto, em tão alta velocidade.
Eu que te dei o luxo de você me ver fumar. Lembrou dos velhos tempos, não foi?
Tempo que você era como eu, livre como eu. Hoje tem vergonhas, e se camufla para atacar. Que deprimente.
Mas hoje, a cigana leu a minha mão e depositou anti-corpos de você.
Você não me dar mais calafrios, que bom, tambem não mais me faz rir.
Você minha cara, você vai ser uma dessas pessoas que só vai me conhecer no Sebo, quando eu já estiver editado, e encadernado, sem graça, porque todos já sabem.
Não por narcisismo meu.
Mas por pura questão de olhar, que você, infelismente não tem.
Era para eu te deixar sozinha, como fizeram os seus outros convidados, aqueles que não vieram, nem ligaram, que te deixaram só, amargando o pão sem manteiga, o bife e o vinho.
Somente.
terça-feira, 7 de agosto de 2007
Maria Depressiva e José.
-Ta me chamando de triste? Me poupe.
-Não, não é isso. ah! não é todo mundo que goza no paraíso minha linda... Aliás, quem goza no paraíso é Geová!
-Você já me convenceu que é um psicopata.
-Como será que um crente fervoroso goza? "Ai senhor! Oh senhor! Eu vou gozar senhor! Posso? Gozei Deus! Gozei! Oh pai! Oh pastor!
Ô meu Deus, eu não tô rindo disso numa multidão de risos, eu estou rindo numa platéia de palhaços, que são todos tristes e fazem piadas usando a desgraça em pó.
-Para com isso José! Não fala assim de Deus! Olha, eu sou louca por Deus, eu sou paga-pau de Jesus! Puxo o saco dele mesmo... Ô meu Deus, me dá um celular igual ao de Luly... Ó José, se tu fosse um filho meu, eu não ia gostar de tu...
-As vezes eu acho que vou ficar louco de tanto rir.
-Eu as vezes vejo umas luzes emboladas assim, acho que é uma fonte, eu tô jogada a loucura, só Cristo que ta no nucleo de minha mente que sabe.
Ai meu Deus, eu só tô escrevendo besteira hoje... hoje que é um dia bom para esquecer, quando eu terminar de escrever, eu vou dormir o sono dos justos, porque eu mereço.
-E tu acreditou?
-Em quem?
-Nele.
-Não posso mais acreditar no namorado do meu namorado? Ele sofreu comigo!
-Ele só queria te comer Maria!
Maria Depressiva esconde sua liberdade com maquiagem e rimel.
-Eu ia bater numa professora. E eu já fiz o esquema de matar a minha mãe, eu, que sou um monstro, vou matá-la com o veneno mais cruel, o sofrimento. Vou alimenta-la com tristeza e leite quente, minha mãe vai morrer de tanto chorar, e eu não vou mudar isso, porque a quero morta. Depois, eu vou me morder inteira, vou cortar os meus braços e vou entrar em eclipse, eu bati na professora, bati mesmo. Esqueci o que eu tava falando... O que eu iria escrever depois disso? Como faço para pagar o pato? Achar o porco. Eu sou agressiva, cheia de maquiagem e vernis, por isso você não nota, meu caro.
-Qual é a sua maior dor?
-Tive o desprazer de criar uma letra de pagode. Eu sempre faço isso, desconstruo artes e desconcerto poesias que me dão.
-Me poupe.
-Errrr... O que eu ia falar mesmo?
-Sei lá. Esqueci.
-Ah! Não quero mais casar com você! Não tenho vocação para Zélia Gatai.
-É a mulher de Jorge Amado, não é?
-Já pensou se todo mundo enxergasse como eu enxergo? Eu nunca iria saber que isso era uma estante.
-É um livro.
-Um livro?
-É Nina. Um livro.
-Que curioso! A namorada do meu amigo é lésbica. Foi a minha namorada que me contou. Você dorme sempre de roupa?
-As vezes.
-Não durma. Faz mal.
-É?
-É.
-Então não durmo.
-... E vai dormir nu?
-Tenho outra opção?
-Não.
-Então.
-Acho que não. Você não me trairia.
-Aham.
-Não.
-Não o quê?
-Nada.
-Então me deixe escrever.
-Ai, eu queria tanto dizer agora "Eu gosto tanto de parafuso e prego...". Mas a Macabéa já disse, não quero imitá-la. Ta rindo de quê? Ta lendo os meus pensamentos?
-Por quê? Está pensando algo engraçado? Ta rindo de quê?
-Dos seus olhos.
-São engraçados?
-Não. São tão tristes...
-E por que você ta rindo?
-Para não chorar, não quero chorar. Eu destruir um bar inteiro antes de vim pra sua casa, eu estou bêbada, e não tem mais nada de mim membro amor, eu estou com você por coiecidência, um rolo de qualquer coisa, uma massa estragada. Eu não era pequena há oito anos atrás, eu dava tanta risada há oito anos atrás... Eu era campeã nas competições de risadas.
-Eu só me lembro de você ter sido miss Caipirinha.
-Fui vodka na quinta série, miss trip na oitava, para os maconheiros do recôncavo baiano.
-Que prudente Nina!
-Deus que o diga, meu caro! Ah! Chega de comboios! Eu vou embora, depois de chegar em casa, eu vou beijar a boca de quem não amo, e vou dormir com a faca entre os dentes escondidos de você.
-Você veio do lixo da Xuxa.
-Ora! Não seja promiscuo!
-Não seja prolixa Nina.
-Comboios, simulacros, parcos, heterossexuais, que se foda essa porra toda! Mas não quebre minha makete!
-Ta Maria, me deixe escrever.
-Eu acho tão bonito você escrevendo.
-Escrevo em pé. Como o Pessoa.
-O chato é que você fica parado.
-Eu tenho tanto medo de dor de barriga em dias errados.
-Um medo de merda! Tenho mais medo é da dor de cabeça! Isso sim! De conciência pesada.
-Ora! Me deixe! Me parta!
-E essa tela?
-Eu como pintor, sou um ótimo escritor, sabia?
-Você não presta nem para ser o meu inimigo, inhaca, uma mistura de cheiros.
-Posso saber por quê?
-Porque você se apaixona com qualquer verdade que sai da minha boca. Tem que me odiar, seu otário.
-Mas eu lhe odeio, você que não nota. Um dos melhores ódios são os ódios aveludados, os ódios escondidos, ódio safra meia oito. Aquele que te mata e você não percebe.
-Espera aí. Quer dizer que ele me cega?
-Oh! Tolinha... Todo ódio cega.
-Não me trate como uma criança capaz de lhe odiar! Eu sou uma velha esquisitona, sou inteligente, e manejo bem as palavras, posso te detonar.
-Ah Maria, chega de terrorismos por hoje!
José levantou da cama, encostando a maquina de escrever ao lado, vestiu-se. e foi no banheiro escovar os dentes. Maria faz o mesmo, levanta e vai nua até o espelho, se olha, repara nas lagrimas inundando um olhar. Vai até o banheiro onde José lava os dentes, ele logo percebe sua presença sinuosa, o seu corpo bem feito, mas é só. O seu desejo não se alterou entre suas calças, José estava bastante envolvido em escrever a matéria que, dizem por aí, sairá na primeira Folha do jornal importante.
-Sabe Nina, as pessoas perguntam porque eu ainda uso maquina de escrever, ta, eu sei que é como patinar na lama, mas...
-É um presente do seu pai, e é como se ele escrevesse pra você!
-É.
-Já parou para pensar que é por isso que as pessoas não gostam das sua matérias?
-Por que você ficou assim, tão amarga de uma hora pra outra?
-Eu tô chafurdada na lama, olhe para o chão que pisa. Passo anos sem vim aqui, e quando te reencontro, trago lama para a sua casa, com as minhas botas tristes.
-Adoro-te Doroth. Mas não suje o meu carpete importado com as suas botas tristes e o seu nariz interiormente branco.
-Ta. Eu já entendi.
-Volte amanhã menina. Descalça.
Maria Depressiva foi vista andando nua pelas ruas do Pelourinho, em plena madrugada que não é dela, a procura do seu espirito de porco, hoje, tão parco.