
Os três ultimos meses foram de alegrias serenas, mas uma alegria assustadora, como a gula daqueles que sabem que vão morrer.
A fotografia mostrava a ele, os detalhes que ele já conhecia, corpo sinuoso, pernas longas, rosto bem talhado, todo trato de ser muito simples.
Ele a odiava por não saber que a amava, a piedade trouxe a tona a verdade. O tumor subtraiu os dias dela em resultado de seis meses, ela que era quase uma criança e que hoje se encontar no limbo. O seu nome já havia sido colocado no estandarte de tempo, _desde que nasceu_ pelo deus que ela não via.
Ele atravessou o caminho dela porque ela o amava, e foram, foram sendo, porque amar é dar-se com vontade, é dar-se por inteiro, foram indo contra o relógio, e quando ela chorava, ele dizia do seu conforto, com voz mansa.
"Ei. o tempo somos nós. O dia não se renova enquanto não dormimos, eu sei que a noite quer cerrar os olhos, mas não vamos permitir, a deixaremos insône, enquanto isso, continue me amando."
E ela o amou, tão docemente, que as lágrimas secaram-se e o amor vicejou no escuro.
Mas a danação maior da estória é o vazio inexpressivo que ele sente em contato com a fotografia dela!
Perdão.
Vou ser mais atencioso. Darei palavras a fotografia e logo revelo o segredo. É a mudez da foto que o destrói, que o deixa ôco, ôco como a certeza que existe sem viver, ôco como a versão sólida da mesma coisa.
Era uma tarde de céu azul aberto e nuvens esparsas, um daqueles dias que cheiram a centeio. Pão misturado com vinho. A piscina também era azul, e ao redor, verdes e cigarras imitando ciganas, logo a noite se aproximaria, e os neons da cidade iriam imitar os vaga-lumes do campo.
Marybelle Lee se preparava para dar um salto na piscina. O fotografo meia boca estava atento, era uma polaroid e mais parecia que iria revelar Jesus Cristo.
Lee pulou, e o atento fotografo meia boca a imortalizou no ar.
Um vazio.
Felicidade em versão cinza.
E até hoje ele espera o tchibum! E gargalhadas logo após.
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