quarta-feira, 6 de junho de 2007

A morte do eu te juro.


Era uma tarde de céu azul aberto, e nuvens esparsas, é um daqueles dias que cheiram a centeio, pão misturado com vinho. Ele escrevia uma carta em que a cena (o)corre a noite, e não se sabe porque a lembrança de um sorriso veio bater-lhe a porta, hesitou em encarar a percepção, não queria pensar nela, nela que ele amava, nela que ele um dia odiou, nela que há muito tempo já se foi, nela que está gravada em fotografia, sorrindo, sempre sorrindo, um sorriso que mal cabia na boca, sorriso que feneceu no dia 06 de maio, por volta de seis meses, divago... Três meses.
Os três ultimos meses foram de alegrias serenas, mas uma alegria assustadora, como a gula daqueles que sabem que vão morrer.
A fotografia mostrava a ele, os detalhes que ele já conhecia, corpo sinuoso, pernas longas, rosto bem talhado, todo trato de ser muito simples.
Ele a odiava por não saber que a amava, a piedade trouxe a tona a verdade. O tumor subtraiu os dias dela em resultado de seis meses, ela que era quase uma criança e que hoje se encontar no limbo. O seu nome já havia sido colocado no estandarte de tempo, _desde que nasceu_ pelo deus que ela não via.
Ele atravessou o caminho dela porque ela o amava, e foram, foram sendo, porque amar é dar-se com vontade, é dar-se por inteiro, foram indo contra o relógio, e quando ela chorava, ele dizia do seu conforto, com voz mansa.
"Ei. o tempo somos nós. O dia não se renova enquanto não dormimos, eu sei que a noite quer cerrar os olhos, mas não vamos permitir, a deixaremos insône, enquanto isso, continue me amando."
E ela o amou, tão docemente, que as lágrimas secaram-se e o amor vicejou no escuro.
Mas a danação maior da estória é o vazio inexpressivo que ele sente em contato com a fotografia dela!
Perdão.
Vou ser mais atencioso. Darei palavras a fotografia e logo revelo o segredo. É a mudez da foto que o destrói, que o deixa ôco, ôco como a certeza que existe sem viver, ôco como a versão sólida da mesma coisa.
Era uma tarde de céu azul aberto e nuvens esparsas, um daqueles dias que cheiram a centeio. Pão misturado com vinho. A piscina também era azul, e ao redor, verdes e cigarras imitando ciganas, logo a noite se aproximaria, e os neons da cidade iriam imitar os vaga-lumes do campo.
Marybelle Lee se preparava para dar um salto na piscina. O fotografo meia boca estava atento, era uma polaroid e mais parecia que iria revelar Jesus Cristo.
Lee pulou, e o atento fotografo meia boca a imortalizou no ar.
Um vazio.
Felicidade em versão cinza.
E até hoje ele espera o tchibum! E gargalhadas logo após.

Nenhum comentário: