sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Travessão.

Eu estava sofrendo de amor, estava não; acho que ainda estou. E eu, na minha humilde opnião, acho sofrer de amor uma coisa cafona, é, é brega. É meio Maysa... "O meu mundo caiu...", meio Maria Bethania, latina e louca, andando de madrugada procurando o amor em bar em bar, naquela tentativa de acha-lo bêbado e servir de reboque, ou rodeado de putinhas de all star cano longo, e com umas unhas cumpridas num tom de esmalte vermelho, aí ela só pede para ele consumir uma hepatite.
Acho isso travessão.
Mas eu sou humano, e não estou privado dessas coisas. Então eu amo, e uma vez amando, eu sofro.
Isso me encomoda, não o fato de não ser correspondido, mas o fato de estar nessa merda, daria tudo para isso acabar logo, e eu sei que isso vai acabar, eu sei bem que um dia isso vai ficar para trás e eu vou rir.
Usei do metódo da desintoxicação, porque meu sentimento era tóxico, mas não deu muito certo quando eu havi desfilando por aí, transpirando amargura e deboche. Tive uma recaída, e bebi, bebi até cair.
Me via no reflexo da agua sanitária, como um Narciso bêbado, eu não sei se vocês sabem, mas Narciso se odeia, ele se olhava na água apenas para saber que existia.
Eu poderia dormir no banheiro se eu quisesse, assim eu não vomitaria toda sala de estar, típico de novembro no mercado de pulgas.
Quer saber? Já foi tarde.
As pessoas fazem da dor um grande motivo para sofrer, e não é nada demais, é apenas uma dor, uma dorzinha... Estamos vivos, podemos tudo! Até mesmo esquecer quem um dia fazia de cada trejeito uma festa para os meus olhos, quem parecia que tinha a primavera brotando da boca, quem um dia tinha um beijo doce como a partida, quem já tinha feito moradia nos meus olhos, e que agora parte assim, como se tudo que a gente passou não significasse nada.
Viu como sofrer de amor é brega?
Eu que só queria dormir cedo, amanheci. Saudade não é gostoso como trufa, saudade do cheiro de cerveja adormecida, do hálito de licor de jabuticaba, do seu fumo...
Mas não vou me fazer impotente diante dos meus sentimentos, acho que isso ninguém deve. Mudar do amor para indiferença é um pulo.
As pessoas criam estratégias para se sentirem bem, para lidarem com o sofrimento, algumas bebem, outras se amarrão em letras de musicas abandonadas que falam tudo sobre seus sentimentos, só para conseguirem progredir. Outras mais choram, se descabelam, mas no final todo mundo acaba dormindo.
Eu já passei muitas vezes por essas estratégias, e todas as vezes ela me parecia perdida. Se não há mais rua para continuar, crie.
Não há criação.
Deus.
Nos der a chance de entender o que você fez.
E nesse mês de outubro meus olhos passam por fases da vida, por estórias compridas, por emendas, fotografias, porque as fotografias muitas vezes são mentiras emolduradas, um homem blasé é uma puta velha.
Quer saber? Já é tarde.
E pra mim, hoje é o que eu chamo de tudo. Foda-se.
Você vai passar como uma dor de dente que eu pago pra não ter; capitalista que sou.
O problema todo é que estávamos cavalgando nos nossos próprios egos, e nessa estória de saudade, vai haver quem chore.

2 comentários:

Anne disse...

E de novo me emocionei...
isso ta se tornando hábito,sempre quando venho a nossa casa...

beijos

Isa Dora disse...

O seu texto é muito perfeito. Adorei, viu?
E é tudo muito igual à realidade... Totalmente.

Beijo.