
O mendigo estava completamente nu, numa imagem cadavérica exibindo tatuagens antigas e meio apagadas com o tempo, cagava, e aquilo era uma visão bestial.
O mendigo tinha cabelos curtos e exageradamente sujos, uma barba-nuvem-cinza que alcançava a sua barriga estúpida de shopp. Ele ouvia um Walk man e parecia entretido, cuspia e remungava, mas sempre atento para voz que lhe falava, e lhe falava e repetia várias vezes.
Úrsula não resistiu, nem mesmo ao fedor da bosta, resolveu ir até lá e sentou-se ao lado do velho, que agora limpava o cu com suas tristezas.
-Senhor...
-Eu não presto!
-O quê? Não, não iria te perguntar isso, eu só queria saber que mundo povoa a mente de um louco chupando bala de suor.
-Eu não presto!
-Posso escutar um pouco?
-Eu não...
Úrsula imediatamente põe os fones no ouvido e de certo ouve: ...Presto!
-Viu?
Eu não presto, eu não presto, eu não presto, eu não presto, eu não presto, eu não presto, eu não presto...
-Deus! Isso é loucura! Isso é droga! Isso é bosta! Eu não presto! Eu não presto! Deus, quem foram os monstros que lhe deram isso?
-Os meus pais... me acostumaram desde criança a escutar isso.
-Não! Não escute mais! Tire o fone! Jogue-o fora!
-Não adianta! Isso tudo já ta gravado aqui._ E apertou a cabeça com as mãos.
-Meu Deus! Que horror!
Úrsula vai embora a base de tranquilizantes, e a noite mesmo assim não consiguirá dormir, obcecada pela certeza de que não presta pra nada.
Um comentário:
Talvez eu ja tenha sido Ursula...
ta incrivel esse texto..parabens!!!
mais uma vez...
beijao
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