quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Angustia

Havia acordado já fazia duas horas, mas continuava na cama; esparramado, numa letargia daqueles que simplesmente não querem encarar, é assim mesmo, é incrivel como um dia inteiro passa em branco e não se faz nada de interessante.
Moacir bem sabia disso.
Mas, de toda forma, alguém teria que juntar os cacos de ontem. Ainda estava bêbado. Com um hálito ruim e uma lembrança vaga e dolorosa da noite passada.
No apartamento de cima do dele, um aniversário de criança começava cedo, ou seria ele que teria acordado tarde?
Não tinha noção do tempo, quanto tempo se passou mesmo? Ontem pela manhã saiu de casa para respirar ar puro, finalmente. Já tinha decidido se matar, e estava tudo pronto, até comprou chumbinho, mas ao sair do armazem, já tinha decidido que iria cortar os pulsos, seria mais corajoso, e queria mostrar que tinha colhões.
Na noite desse mesmo dia resolveu se embriagar, e usou todas as drogas em ordem alfábetica, leu, escreveu horrores, e ficou de porre. Uma puta, que encontrou na rua achou ele bastante pirado e se mandou roubando o resto do dinheiro que ele havia tirado do banco nessa manhã.
Emenda-se um dia no outro de dormir pouco, um sono-lanche, não sabia a um bom tempo o que era um sono completo, como aqueles banquetes com direito a sonhos e tudo, Moacir não sonhava mais.
Juntou as mãos com os braços, os pés com as pernas, a mente com a razão, levantou num ímpeto só!
Abriu as cortinas da janela e se assustou com o tempo frio, estava chovendo lá fora, e Moacir poderia jurar que estava fazendo um sol sádico, mas se enganou._ O tempo sempre lhe enganou com grande esmero e boa vontade.
Moacir juntou as forças numa cúpula de ar, bufou. Requentou um café e tomou o liquido negro com a cara feia, ao desperdicio da luz do abajú.
Ligou a tevê para esquecer mais nitidamente do que não lembrava de vez, do que era vago, e a tevê, ora pois, distrai qualquer cabeça bêbada; qualquer cabeça ôca, cabeças chatas.
O natural é diversas vezes ensaiado para se tornar natural, e ele cabulava aulas.
Da janela lateral ele via o mundo que amamenta as pessoas cansadas.
Pensa:
"Eu sempre esqueço que essa cidade apodrece aos domingos ..."

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