quarta-feira, 1 de abril de 2009

Oportunidade em rede


Então, ontem foi o meu ultimo dia no bar 24 horas. É que eu consegui um emprego em Salvador como representante de uma linha de perfumes importados, com direito a usar terno, gravata e calça social nesse sol de meu Deus. Eu ainda não estou um Vicent Prince porque comecei agora e em cima da hora e minhas roupas são todas emprestadas, fico no máximo parecido com um jovem crente, uma verdadeira testemunha de Geová.
Drakkar noir, Acqua brava, Kenso, J´aime, Hughoes, Anais Anais... só contra-tipo importado. É uma pena eu não ter mais olfato, o jeito vai ser eu ser desonesto e dizer que tudo é uma delicia, se eu quiser manter meu trabalho.
O engraçado é que por mais que eu queira me manter afastado das pessoas, mais eu tenho que me comunicar com elas, trabalhar com o publico não é fácil. Sou do tipo Patropi, lembra o bordão dele? "Você pra mim é problema seu."
E existe pessoas que não dão bola pra você nem para perfume, que estão apressadas, que não tem tempo nem de olhar nos olhos e essa merda total. Quando elas querem se livrar jogam a desculpa clássica do "eu tenho alergia a perfume".
O trabalho não é bem um emprego, como disse o meu instrutor do primeiro dia: "O nome já diz tudo, emprego... empregar, você ta pregado aquilo" Nessa empresa não é bem assim, a empresa se chama Oportunidade em rede. E é bem do que se trata, de uma oportunidade para prosperar. As pessoas são acomodadas a receber o seu salário de fome todo mês e ficam satisfeita, é sempre menos inoportuno trabalhar para os outros. Como um ramister, um rato de laboratório que passa a vida inteira em sua gaiola, comendo cagando e correndo naquela esteira giratória que dá sempre no mesmo lugar... Daí o ramister morre do coração depois de ter andado mil e tantos km e final. Não difere tanto assim de nós seres humanos racionais, entendeu?
Em alguns empregos é nescessário passar por 3 meses de experiência para assinar a carteira, quando não se pede "com experiência". Nesse trampo é experiência de um dia até pegar os macetes aos poucos. Tem um casal de lésbicas que ficou 7 meses na empresa, passou por lider e agora é gerente, e ainda montou uma equipe no Rio de Janeiro, o meu instrutor vai montar uma equipe no Maranhão, e uma outra vai montar uma equipe em Fortaleza.
Tem uma fotografia do todo-poderoso da empresa, um senhor elegante e distinto. No cartaz, ele está com o dedo apontado para o relógio de pulso e com os olhos esbugalhados passando a entender que o tempo é curto e a Sapucaí é grande, no cartaz está escritos em letras garrafais que devemos vender um kit a cada 20 minutos. Corre a boca miuda que ele ganha meio milhão por mês.
Adeus Sensala, Casa Grandre me espera! Um adeus também para essa minha vidinha de ramister pavloviano! Ahh, eu cresci! virei um rato enorme, me filiei a gangues de ratos de rua e agora divago divugando perfumes francês.
*****
Mas as noites do bar vão deixar saudades, as brigas, as garrafas voando, as cabeças quebrando... os furtos das travestis do boulevard. Tem uma traveco que se chama Izildinha Pif-Paf, fiel escudeira da Patativa Pantanal e da Kiki Camburão. Izildinha Pif-Paf vai sempre lá tomar sua dose de cachaça com mel e limão, Izildinha Pif-Paf não fuma cigarro, só fuma crack. Izildinha Pif-Paf é feia, seca e compridona. Os olhos sempre pintados cheios de purpurina, a boca desenhada com um lapis de olho preto em torno, uma tatuagem de um beija-flor com rabo de cadela no braço parecida com uma tatuagem de ex-detento. O cabelo da Izildinha Pif-Paf é um horror, a franja tem ojeriza à sua testa, só para começar...e parar por aí. O mais sensacional é que ela toca o terror na cidade.
O apelido Pif-Paf vem dela ter a habilidade de roubar as pessoas em milésimos de segundos. Eu já vi a Izildinha Pif-Paf espancar e tirar sangue de muito homem, de muito macho mesmo. Quem quiser que se meta com ela.
"Ta pensando que eu sou viadinho é? Eu tiro minha calcinha e ponho uma calça, eu viro homem que nem você! Não me tire como viadinho não, sua desgraça! E vá, seu puto! Vá chamar a policia! Cadeia pra mim é hotel!" um dos seus bordão vociferante, o meu preferido.
Mas eu me dou bem com ela, me dou bem com todo mundo, trato todos como igual. Só tem uma velha porca que vai lá no bar com lenço e bobe no cabelo. Ela me odeia e eu a detesto. A maldita tem dinheiro mas pechincha feito uma condenada, pede sempre uma dose de cachaça pura, bebe, cospe no chão, depois pede agua, lava a dentadura, tira a dentadura, coloca a dentadura novamente. E nunca está satisfeita com o tamanho da dose, aí te xinga de nomes terriveis, te xinga de filho da desgraça, de satanás. Eu não me dou com ela. Já mandei ela tomar no fedorento dela várias vezes, uma vez ela bateu na minha cara, no balcão do bar. E Czar, meu patrão teve que me pagar mais caro do que eu ganhava para eu não arrumar confusão com aquela velha alcólatra, que tem - acredite em mim ou chupe meu saco - 73 anos de idade.
Outro dia eu assistir um noticiário no jornal da noite que dizia mais ou menos assim:
"Uma senhora de 70 anos morreu num bar na noite passada, pessoas de prova disseram que ela estava conversando com um rapaz no balcão, começaram a discutir e o rapaz deu um soco na senhora que caiu dura no chão e nunca mais levantou."
(é claro que a noticia não era tão chula quanto a minha imaginação, como eu disse; era mais ou menos assim, era mais jornalística.)
Eu lembrei da velha suina do bar onde eu trabalhava e pela primeira vez não me arrependir do que não fiz.

4 comentários:

Camilla Lopes disse...

izildinha pif paf, me liga sempre, adorei babe.
um beijo

Anônimo disse...

é boa essa empresa pois tbm vi aqui em são paulo e naum tenhu certeza se devo entrar... espero resposta
beth15f@hotmail.com

Anônimo disse...

Eu conheço essa empresa, inclusive o casal de treinadoras lésbicas (como foi dito aqui): Bárbara e Uira. Uma delas foi minha treinadora! A proposta é tentadora, o salário tbm, mas o ruim é a forma do trabalho...pelas ruas, correndo riscos, entrando de "penetras" no condomínios. Eu passei por cada situação constrangedora...
Sem falar no piso, tem q vender no mínimo 3 kits por dia pra conseguir o "fixo" de 500,00 por mês. O ruim é q ñ temos nenhuma segurança de q realmente trabalhamos para eles, ñ assinam carteira, nem contrato.
Mas a oportunidade é boa pra quem sabe e gosta de lhe dar com esse tipo de trabalho, o q ñ é meu caso! Rsrs
A carga horária tbm é BEM puxada...10 hrs diárias...nossa! Uma loucura! Eu participei do treinamento, fui selecionada, participei novamente no dia seguinte; onde tive a certeza de q aquele tipo de trabalho ñ era pra mim. Mas a minha treinadora, Bárbara era ótima. Elegante, educada, sabia se expressar, discreta, culta...adorei conhecer o pessoal e trabalhar esses 2 dias com eles!

L. S. A.R. disse...

eu sei quem escreveu esse texto!
mas Romario, vc pos na net?
rsrsrsrsrssrs