sábado, 18 de abril de 2009

Coração de pedra, cara de madeira...


O problema todo sou eu ter um coração antiquado e cafona. Eu esqueço como é que se joga e por isso jogo limpo. É justamente esse o erro detectado. Eu sou desse jeito, daqueles que são solitário não por opção mas por total incompetência. Eu sou assim, do tipo infâme intimista protegido pelo acaso, porque eu não tenho cuidado comigo mesmo, e me pego com paúra de ser condenado ao implácavel fracasso, de não dar certo. Mas que tolice a minha! é claro que darei certo. As experiências postas em revistas todo sacro dia em nossas memórias nos impulsiona para tomar as rédeas da verdade, e por assim dizer, saber se cuidar, mesmo quando se é a primeira vez que se toma a tal zelo.
O meu zelo acaba quando apelo um sorriso, quando quero porque amo me sentir bem, e por isso que quero. Chafurdo de forma anarquista no sentimento, seja ele qual for; sublime ou torpe.
A essência duvidosa do coração egoísta para o qual eu me entregava sem nenhum cuidado, estava tão na cara quanto o meu nariz! E eu não via, minto, via sim! Fingia não ver. Eu sabia que provocava fantasia em relação aquilo por pura e solene falta de algo melhor, eu pensava: "ah, mas que vida inssonsa, vamos dar uma agitada nisso aí." E saía com as mulheres mais loucas, mas chega uma hora que o coração fica cansado e você quer aposentar, aí me dedicava de morrer, e não apenas essa vez, mas outros tantos outonos, e como eu sofria uma dor pungente e sincera, era bem verdade. No ato era verdade, mas no fundo eu sabia que aquilo tudo era mero capricho, que não tinha nada haver comigo e que se eu quissesse sairia dessa rapidinho, mas então porque diabos eu me mutilava inutilmente a todo instante? Por capricho.
Veja bem, uma vez que não seja a primeira vez que você vê o fim do mundo, uma vez que você conhece bem esse filme apocalíptico e apoteótico, mas você sempre se surpreende, assim como eu me surpreendir. A essência é sempre a mesma, o mesmo fundamento original, um contratipo vagabundo de um auto sofrer. Dor não, dor de verdade eu sinto no meu joelho bichado, chateação eu diria. Taí a palavra certa, chateação! O pior é que eu não consigo me chatear sem me concentrar no que realmente me chateia, por isso que tenho bolsas nos olhos, porque não consigo me concentrar, já foi dito aqui que involuntariamente abstraio todo o tormento, eles fogem de mim como um bando de veadinhos fogem de uma pantera nebulosa, uma vez que eu tenho como regra remoer tudo que foi feito do meu dia, cada ação, cada palavra dita, cada canalhice minha, e aquele lodo total. Por isso eu não durmo enquanto não repasso todas as palavras nos minimos detalhes, e por aí vou me danando madrugada à fora.
O pior não é nada, o pior é não fazer absolutamente coisa alguma, passar por essas experiências interpretanto o tolo ressentido, o anão desconfiado. Aquele que perde, que sai de banda, eu sou aquele que sempre se retira para que os outros possam rir a vontade, pois os outros não são como eu, que quando quer rir, dar risada na cara da pessoa que pegar para Cristo, sem o menor escrúpulo, algo bem sem noção, na linha da wo-man Felicia Jollygoodfellow em Priscila, ha ha ha. Há um certo tipo de prazer camuflado nisso tudo, uma satisfação sordidazinha, como se sofrer sozinho fosse mais seguro que ser feliz a dois.
Fui humilhado e não culpo ninguém por isso, sou loser e tenho um coração cafonão, me entupiram de mimos e eu fiquei mal acostumdado, sabe como são essas coisas. A primeira etápa eu confio e vou bem lá no fundo como um chanepan, um Charles Bronson gastando todos os seus cartuchos até fazer parte do grupo e finalmente, se infiltrar. Uma vez infiltrado eu semeio sementes que correm grandes riscos de virar veneninhos no porvir, nunca se sabe. A terceira e derradeira etápa é quando o final chega implacável e eu não sei me localizar num canto discreto da história, fico como no centro de uma cidade em borbadeio, alvo certeiro, fratura exposta.
O que me dar mais raiva é não me vingar quando é de justiça ser vingativo, acho mais cômodo entregar tudo na bandeira de tempo, porque acredito piamente na incorrupitível lei do retorno. Eu até penso em me vingar por pura maldade, mas de repente sou esmagado por indagações de bondade, maldito corpo santo. Não me falta coragem para virar a mesa, como já virei literalmente uma vez depois de ter tomado um banho de cerveja da minha cabrunquinha, ela me disse que se eu me comportasse mal mais uma vez, ela iria jogar essa cerveja no meu focinho tão adorável. E o que eu fiz? Ora, fui um vexame, um péssimo garoto, só para provocar! eu gosto de ver as pessoas perdendo a cabeça, eu me ligo nisso. Ela tacou a cerveja gelada na minha cara e eu levantei virando a mesa, sou muito performático, ha ha ha, a gentleman to the extreme smell, mas que cretina, eu beberia a cerveja e jogaria o copo! Fui embora na chuva. Um clássico. Mas deixemos isso pra lá.
Não é bem covardia, nem acomodação, é que eu passei por uma febre de vacilações e não posso mais errar, agora uso e abuso, muito tardiamente, da cautela. Não posso errar, é inadimissível. Vocês devem está fazendo troça com suas possantes goelas, me achando uma piada, devem ta até me chamando de junkie de chumbo. Mas ora, quer arte mais belicosa que lidar com o coração? O nosso profeta Jeremias já havia registrado séculos atrás num ataque de romantismo, que o coração é enganoso e extremamente corrupto. Quem há de saber o que quer o coração?
O anel dela não coube no meu dedo, então, sem dramas. não lamento nada. Dedico todo meu amor ao meu bel prazer. Não é por você, é por mim, entende? Aí está o deleite e a satisfação camuflada. No fundo eu sei que sou egoísta, e que só penso no meu eu sádico e epicurista. Faço pilhéria dos meus sufocos, aí está um jeito de defumar o ambiente, porque de outro modo solidificaria todo meu rancor a troco de nada, a troco de... sei lá, vamos usar a imaginação e fazer da minha maldade uma decomposição quimica, olha, seria uma droga barra pesada, seria uma cocaína capaz de fazer você querer engolir sua própria boca, só de fissura.
Vou sair de combate, mas como urubú ficarei pairando leve sobre a carniça, amando e odiando mortalmente, descuidado e sem grandes reflexões, vou pairar sobre o assunto quase que inexistente, cagando potes por ser embuste. Me cegando e vendo o que é bom.
É essa a razão do meu apreço pelos cavalos, eles são mais fortes do que eu, no entanto se curvam a minha vontade.
Outros diriam: Tadinho... Com o trauma que sofreu, está pronto para ir para Winesburg, Ohio.

Mas não, eu irei ficar na coxia. E vou ver só no que vai dar.

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