quinta-feira, 28 de maio de 2009

A suposta fase azul


Quem acompanha o Jesus, deve se lembrar daquela estranha entrevista de trabalho que eu borrei. Lembram, não lembram?
Pois eles se curvaram à mim, não sei explicar porquê, talvez tenham me achado autêntico. Bom, o que realmente importa é que fui contratado. O que realmente importa é que não vou mais pernoitar fazendo companhia a um monte de gente burra e deprimente, gente da falcatrua, ladrõezinhos chinelos que fazem ponta no bar. Ontem mesmo foi meu derradeiro dia de trabalho no pub, e essa será a ultima história que eu conto de lá: Dois amigos da falecida Cabrunquinha foram lá beber e lá ficaram durante horas, não me interessaram apesar de meu coração ter gelado um pouco após mencionado seu nome, uma hora depois foi o bastante para um ir embora e o outro ficar bebendo e dormindo na mesa até muito tarde. Os falcatruas ficavam em volta espreitando como abutres, mas somente dois deles estavam esperando o momento certo de dar o bote.
Funcionou da seguinte maneira: Enquanto o letárgico dormia na mesa do bar, muitissimo rápido o falcatrua número um deu uma gravata no cara que dormia até sufocar, enquanto isso o falcatrua número dois aproveitava para ir metendo a sua suave mão no bolso da bermuda do cara que estava sendo relativamente estrangulado. Depois, puf! Em um piscar de olhos, tudo estava tranquilo e normal como estava antes.
"Qual é negão? Ta viajando é?"
"Hã? O quê? O que aconteceu?"
"Você deve ter tido um pesadelo, rapaz."
E parecia mesmo um pesadelo, veja bem: um sono profundo, um esgar súbito, a visão embaçada, e tudo volta ao normal. Algo muito esquisito aconteceu em frações de segundo, ele deve pensar _ sem duvida. Mas o quê? Ele não tinha certeza de nada. E a mão do falcatrua numero dois era tão sutil, que o dorminhoco ficou muito tempo ainda sem saber que tinha sido lesado. Só que dessa vez ficou de olhos mui bem abertos.
O que aconteceu realmente, que agora resgatei da memória foi um triunfo irônico, como a carne morta do defunto que vira adulbo para a fauna e a flora, o trânsito das coisas até tudo dar no mesmo. Um cliente inescrupuloso me passou uma nota de 20 reais falsa, e eu sem mais delongas fiz essa nota circular, e foi parar justamente nas mãos do lesado.
Tanto esforço para roubar uma nota falsa. Chinelo é sempre chinelo, aquele que rouba e aquele que recebe.
Eu fico arrebentado quando retorno para casa pela manhã, esse tipo de coisa me faz mal. O mundo é terrivel e as pessoas que habitam nele são tão horriveis que eu acho uma tremenda sorte hoje em dia, ter amigos. Queria uma costelinha me esperando embaixo dos lençóis para quando eu chegasse em casa, isso seria lindo, me abraçaria apenas, sem abrir os olhos, só me aqueceria com o seu corpo e tudo ficaria azul.
Mas deixa estar... Eu tô numa verdadeira caça as bruxas atrás dos documentos nescessários, e a mulher simplesmente me apresentou a uma lista homérica. Desde antecedentes criminais à exame de admissão, passando pela árvore geneológica dos pais, a espera de reservista.
"Não falei que iria te ligar novamente?" _ disse a adorável entrevistadora, simpatia era com ela mesmo. Estavamos de amarelo radiando emoções, seja lá elas qual forem.
"É verdade, você falou." _ eu disse _ "Mas aposto que disse isso para todos."
E sorri confortável. Ela também sorriu, e depois fez uma carinha desolada de que precisava de uma injeção de confiança, e eu dei a confiança pra ela, prometir ser onisciente. Ela pescou minha força de vontade e balançou como num aperto de mão.
Tudo certo. Devo dez por cento desse presente a Deus e não vou sacanear.
Que gracinha de mim... Tô me sentindo um leitão premiado.

Um comentário:

Guilherme N. M. Muzulon disse...

O povo, apressadinho, apuradinho, diz então:

- Vai trabaiá vagabundo!


jejejejejjeje