terça-feira, 26 de maio de 2009

Rendez - vous de Teatro

Reuniãozinha do teatro. Segunda e quarta sacra. O professor não veio, teve desinteria. Ficamos nas mãos dos alunos do turno da tarde. Vamos nos conhecer. Cheguei atrasado, como sempre. No meio de uma brincadeira imbecil de continuar uma história pescando as palavras dos outros participantes, sem usar palavras do tipo: "e" "aí" "de repente" "então" "ou qualquer coisa lá"... Isso foi planejado para dificultar a brincadeirinha.

Eu estava em estado deplorável, com uma camiseta apológica da marijuana, com a minha girl - outdoor - caolha. Sentei ao lado de duas mulheres: Marisa; me custa lembrar do comercial de mulher pra mulher, para me lembrar seu nome. Uma mulher terna, magra, comprida e de nariz afilado, contudo ela jura que não é nem um pouco tímida, mas também nem um pouco sem vergonha. É de Pojuca, mora aqui a 4 meses, tem medo de ser morta, também é sozinha, mas já está encontrando aconxego e calor numa igreja do bairro.

Ao meu braço esquerdo estava um aluno vespertino, chama-se Paulo Sérgio; ele jura que é gago, mas fala como uma nega do leite, sem tropeçar nas palavras ou se enrrolar na sua própria língua. Eu não conheço tática melhor. De qualquer forma, está no caminho certo, o teatro é uma benção para os gagos e para os tímidos. Ele quando fala solta plumas.

Cadê o resto do bando? Somos nove aspirantes brincando numa lanchonete. Ainda bem que eu não vim com a minha melhor aparência, não deveriamos estar praticando a nossa visão periférica, sentindo nosso corpo visceral e trabalhando a nossa mente de forma mais produtiva? Seu mestre mandou geral formar a roda, e eu fui o segundo a participar da brincadeira, que sorte de roleta! cinquenta e quatro no vermelho.

Me chutaram um jacaré e eu comecei a história, associei o jacaré ao turísmo amazônico e citei mais duas coisas: O bocejo do bicho e minha estupefação. O mais triste nessa brincadeira é que ela perde o sentido muito cedo, ficamos estúpidos contando histórias tacanhas numa lanchonete composta pr dois garçons, alguns karatecas, uma garota esquisita entretida no seu grosso livro, ao seu grosso modo, e um casal trocando caquinhas do nariz digerindo seus deliciosos e apimentados quibes. Mesmo com esse cenário de horror, eu tinha vergonha. O que eu iria fazer com um jacaré e uma tigresa de dentes de sabre no deserto?
Escolhi "de repente" e dei o fora do jogo, ufa! Minha cabeça cheia de Lions e Zions e mais um bando de infratores, eu vim para o teatro com o pensamento nos ciganos, e quando chego aqui querem apertar minha mente com bobagens. Logo mais chegou a hora das devidas apresentações, muitos cascaram fora bem antes disso, eu deveria ser um deles. Que histórias longas... que histórias tristes, não estamos no arquivo confidêncial domingueiro, nem no programa do Raul Gil, estamos numa lanchonete e somos do teatro. Porque ninguém ainda pediu uma cerveja? Garçom! Morder! Vocês me acompanham? Não acompanham? Uma coisa que não posso evitar é minhas predileções.
Paulo Sérgio, o nosso companheiro formado em artes cínicas foi o que mais falou, quando não falava, enterrompia no ato. Não o vi gaguejar nenhuma só vez. Pobre Paulo Sérgio, corre riscos sérios no porvir... De usar Paullete no pseudônimo, por exemplo.
Alice nos revelou que era soldadora Tigre e que também era bipolar. Eu tenho um projeto nessa minha cabeça de carneiro, algo que eu chamo de Pure sí exibir, tenho vontade de iluminar alguns contos de Dorothy Parker com as luzes da ribalta, e penso em Alice para encarar as incriveis mulheres de Parker; neuróticas, espirituosas, certeiras, passionais, temperamentais, tolinhas e tristes mulheres de Dorothy Parker, trocando deixas com homens sensatos e serenos que usam frequentemente a palavra "querida". Esse seria eu.
Agora imaginem um pernambucano cabeçudo? Ele estava lá também, esbanjando simpatia. Na cabeça de Marisa havia uma auréola de insetos, que nem aqueles do Cascão da turma da Mônica. O mal cheiroso ali era eu, vocês sabem... Mas os insetos sobrevoavam a cabeça dela. Me lembrou o Mauricio Babilônia em versão ralé.
Eu inventei para eles que a minha relação com o teatro não era uma questão de realizar um sonho de infância, e sim porque era um desejo doentio e obstinado aquele de beijar a boquinha da Juliana Paes, muitas não queriam ser a filha da Natália do Vale? Eu queria fazer par romântico com a Juliana Paes. Alguns riram, outros nem se dignaram a esboçar um sorriso meia - boca. Eu sei, eu estava impossivel. Mas onde foram parar os seus modos? Ooh, os meus modos... Talvez um dia minha mãe o encontre jogado por aí, quando tiver fazendo faxina na casa. No antigo trampo do bar eu também me comportava dessa forma, sou intimista total. Tanto que até fiquei com fama de anti - social, porque não fico junto com os patrões na mesa dos funcionários quando o bar está ameno, as vezes eu troco alguns interlóquios, mas nada muito além de meras brincadeiras esculhambadas.
Meu patrón César_ um verdadeiro Czar, delira com a idéia de voltar a epóca da escravatura, ele diz que iria fazer questão de me comprar sem nem olhar meus dentes, eu iria ser o seu anda (ele leu Aníbal) e iria viver na mordomia do Casarão só para ser castigado nas horas de fúria e nas horas de simplório lazer da familia sulista. Eu dou risada e rebato: "E eu me vingaria comendo a sinhazinha no curral, aos olhos do cavalo e as custas do dono."
Do meu canto observo a resposável pela injúria de minha pessoa, olha para ela... ela é conhecida como Chuchu, é velha e olha como se veste... uma calça de oncinha coloda na coxa e uma camiseta do Corinthians, tão cafona quanto uma foto emoldurada num piano. Ao lado dos patrões o tempo inteiro, como gatos enrroscados nas pernas de seus donos, a espera de migalhas.
Ah, quer saber? Vai levando.

Nenhum comentário: