sexta-feira, 25 de abril de 2008

Portas.




Não existe, na minha concepção, uma outra referência ao meu quarto do que uma caixa verde de objetos souvenirs.
Quando me dou ao luxo do silêncio, posso ouvir muito nitidamente os cupins comendo a porta do meu quarto, e o chão coberto de madeira esfarelada da cor marrom. Cada dia limpava-se mais de um punhado de cupins que ficavam caídos no chão. Quando eu nasci essa porta já existia. Longa vida, minha porta! e que Deus não me desampare.
A porta que era toda enfeite de mulheres bonitas, fotografias em preto e branco das revistas de consultório ondontológico (esbanjando ar condicionado) rasgadas e roubadas por mim.
Só agora empresta o corpo para a cara manjada do Che e o meu socialismo fajuto. Na verdade mesmo, para não salutar, prefiro a ideia da famosa e também manjada fotografia que fez do cara que fotografou o Che um homem muito rico, esse sim é dos meus.
Sofri tanto quando as mulheres bonitas foram embora... mas, enfim.
Um olho grego pendurado no centro de um medonho filtro dos sonhos, que por sua vez se agarrava com um cordão na maçaneta da porta carcomida pelos cupins, e o modo que comia, caiam.
Aquela porta parecia um câncer.
Uma pilha de livros empilhados no canto e alguns erros de conduta, as madeiras podres, maricas, maricotas, maconha, portas de guarda-roupa, bitucas de cigarros, bucetas, uma tela.
Tem uma pintura que fica acima da minha cama cravada por um prego, uma tabúa pintada de preto, lisa e torta, que eu achei no pico do cocô.
O desenho era estrelado por tintas acrílica branca, e um céu de estrelas pontiagudas foi o que eu pintei.
No momento_porque eu sei que existe o pequeno momento em que as pessoas notam um formato de uma garrafa escrita Uísque no meio dos prédios nada detalhosos. (Somente, devo dizer, pela minha falta de paciência. Na melhor, e mais frustante das hipóteses, pela minha falta de sapiência.)
A partir dessa visão, os prédios não precisam ser nescessáriamente prédios, e sim garrafas estranhas de uma birita qualquer.

3 comentários:

Isa Dora disse...

hahahaha.

é pra eu dizer o q?

Oo

Isa Dora disse...

curti..

^^

Juca Lordello disse...

Rapaz,

Posso falar que todas essas sensações eu já tive o privilégio de presenciar.
Seu quarto é uma obra de arte.
Até o desarrumado da cama, e o cheirinho de chulé que sai de seu all star remendado embaixo dela.

:D