quinta-feira, 28 de maio de 2009

A suposta fase azul


Quem acompanha o Jesus, deve se lembrar daquela estranha entrevista de trabalho que eu borrei. Lembram, não lembram?
Pois eles se curvaram à mim, não sei explicar porquê, talvez tenham me achado autêntico. Bom, o que realmente importa é que fui contratado. O que realmente importa é que não vou mais pernoitar fazendo companhia a um monte de gente burra e deprimente, gente da falcatrua, ladrõezinhos chinelos que fazem ponta no bar. Ontem mesmo foi meu derradeiro dia de trabalho no pub, e essa será a ultima história que eu conto de lá: Dois amigos da falecida Cabrunquinha foram lá beber e lá ficaram durante horas, não me interessaram apesar de meu coração ter gelado um pouco após mencionado seu nome, uma hora depois foi o bastante para um ir embora e o outro ficar bebendo e dormindo na mesa até muito tarde. Os falcatruas ficavam em volta espreitando como abutres, mas somente dois deles estavam esperando o momento certo de dar o bote.
Funcionou da seguinte maneira: Enquanto o letárgico dormia na mesa do bar, muitissimo rápido o falcatrua número um deu uma gravata no cara que dormia até sufocar, enquanto isso o falcatrua número dois aproveitava para ir metendo a sua suave mão no bolso da bermuda do cara que estava sendo relativamente estrangulado. Depois, puf! Em um piscar de olhos, tudo estava tranquilo e normal como estava antes.
"Qual é negão? Ta viajando é?"
"Hã? O quê? O que aconteceu?"
"Você deve ter tido um pesadelo, rapaz."
E parecia mesmo um pesadelo, veja bem: um sono profundo, um esgar súbito, a visão embaçada, e tudo volta ao normal. Algo muito esquisito aconteceu em frações de segundo, ele deve pensar _ sem duvida. Mas o quê? Ele não tinha certeza de nada. E a mão do falcatrua numero dois era tão sutil, que o dorminhoco ficou muito tempo ainda sem saber que tinha sido lesado. Só que dessa vez ficou de olhos mui bem abertos.
O que aconteceu realmente, que agora resgatei da memória foi um triunfo irônico, como a carne morta do defunto que vira adulbo para a fauna e a flora, o trânsito das coisas até tudo dar no mesmo. Um cliente inescrupuloso me passou uma nota de 20 reais falsa, e eu sem mais delongas fiz essa nota circular, e foi parar justamente nas mãos do lesado.
Tanto esforço para roubar uma nota falsa. Chinelo é sempre chinelo, aquele que rouba e aquele que recebe.
Eu fico arrebentado quando retorno para casa pela manhã, esse tipo de coisa me faz mal. O mundo é terrivel e as pessoas que habitam nele são tão horriveis que eu acho uma tremenda sorte hoje em dia, ter amigos. Queria uma costelinha me esperando embaixo dos lençóis para quando eu chegasse em casa, isso seria lindo, me abraçaria apenas, sem abrir os olhos, só me aqueceria com o seu corpo e tudo ficaria azul.
Mas deixa estar... Eu tô numa verdadeira caça as bruxas atrás dos documentos nescessários, e a mulher simplesmente me apresentou a uma lista homérica. Desde antecedentes criminais à exame de admissão, passando pela árvore geneológica dos pais, a espera de reservista.
"Não falei que iria te ligar novamente?" _ disse a adorável entrevistadora, simpatia era com ela mesmo. Estavamos de amarelo radiando emoções, seja lá elas qual forem.
"É verdade, você falou." _ eu disse _ "Mas aposto que disse isso para todos."
E sorri confortável. Ela também sorriu, e depois fez uma carinha desolada de que precisava de uma injeção de confiança, e eu dei a confiança pra ela, prometir ser onisciente. Ela pescou minha força de vontade e balançou como num aperto de mão.
Tudo certo. Devo dez por cento desse presente a Deus e não vou sacanear.
Que gracinha de mim... Tô me sentindo um leitão premiado.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Dois conselhos

O amor se torna um fardo para quem não quer amar, uma violação sem tamanho, algo muito próximo dos sentimentos de um trabalhador forçado. Em suma; o sentido mais apropriado é de um insuportável desconforto... É tão melhor amar o corpo de quem se ama.
Não envolva quem não quer ser embalado pelo manto do amor. O amor é um bálsamo, mas poucos sabem disso.

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Se você se sente bem, não pense em mais nada. Qualquer coisa que você pensar pode estragar a festa.
"Estou feliz e assim é que é bom."
Se for inevitável pensar, que pense somente nisso.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Rendez - vous de Teatro

Reuniãozinha do teatro. Segunda e quarta sacra. O professor não veio, teve desinteria. Ficamos nas mãos dos alunos do turno da tarde. Vamos nos conhecer. Cheguei atrasado, como sempre. No meio de uma brincadeira imbecil de continuar uma história pescando as palavras dos outros participantes, sem usar palavras do tipo: "e" "aí" "de repente" "então" "ou qualquer coisa lá"... Isso foi planejado para dificultar a brincadeirinha.

Eu estava em estado deplorável, com uma camiseta apológica da marijuana, com a minha girl - outdoor - caolha. Sentei ao lado de duas mulheres: Marisa; me custa lembrar do comercial de mulher pra mulher, para me lembrar seu nome. Uma mulher terna, magra, comprida e de nariz afilado, contudo ela jura que não é nem um pouco tímida, mas também nem um pouco sem vergonha. É de Pojuca, mora aqui a 4 meses, tem medo de ser morta, também é sozinha, mas já está encontrando aconxego e calor numa igreja do bairro.

Ao meu braço esquerdo estava um aluno vespertino, chama-se Paulo Sérgio; ele jura que é gago, mas fala como uma nega do leite, sem tropeçar nas palavras ou se enrrolar na sua própria língua. Eu não conheço tática melhor. De qualquer forma, está no caminho certo, o teatro é uma benção para os gagos e para os tímidos. Ele quando fala solta plumas.

Cadê o resto do bando? Somos nove aspirantes brincando numa lanchonete. Ainda bem que eu não vim com a minha melhor aparência, não deveriamos estar praticando a nossa visão periférica, sentindo nosso corpo visceral e trabalhando a nossa mente de forma mais produtiva? Seu mestre mandou geral formar a roda, e eu fui o segundo a participar da brincadeira, que sorte de roleta! cinquenta e quatro no vermelho.

Me chutaram um jacaré e eu comecei a história, associei o jacaré ao turísmo amazônico e citei mais duas coisas: O bocejo do bicho e minha estupefação. O mais triste nessa brincadeira é que ela perde o sentido muito cedo, ficamos estúpidos contando histórias tacanhas numa lanchonete composta pr dois garçons, alguns karatecas, uma garota esquisita entretida no seu grosso livro, ao seu grosso modo, e um casal trocando caquinhas do nariz digerindo seus deliciosos e apimentados quibes. Mesmo com esse cenário de horror, eu tinha vergonha. O que eu iria fazer com um jacaré e uma tigresa de dentes de sabre no deserto?
Escolhi "de repente" e dei o fora do jogo, ufa! Minha cabeça cheia de Lions e Zions e mais um bando de infratores, eu vim para o teatro com o pensamento nos ciganos, e quando chego aqui querem apertar minha mente com bobagens. Logo mais chegou a hora das devidas apresentações, muitos cascaram fora bem antes disso, eu deveria ser um deles. Que histórias longas... que histórias tristes, não estamos no arquivo confidêncial domingueiro, nem no programa do Raul Gil, estamos numa lanchonete e somos do teatro. Porque ninguém ainda pediu uma cerveja? Garçom! Morder! Vocês me acompanham? Não acompanham? Uma coisa que não posso evitar é minhas predileções.
Paulo Sérgio, o nosso companheiro formado em artes cínicas foi o que mais falou, quando não falava, enterrompia no ato. Não o vi gaguejar nenhuma só vez. Pobre Paulo Sérgio, corre riscos sérios no porvir... De usar Paullete no pseudônimo, por exemplo.
Alice nos revelou que era soldadora Tigre e que também era bipolar. Eu tenho um projeto nessa minha cabeça de carneiro, algo que eu chamo de Pure sí exibir, tenho vontade de iluminar alguns contos de Dorothy Parker com as luzes da ribalta, e penso em Alice para encarar as incriveis mulheres de Parker; neuróticas, espirituosas, certeiras, passionais, temperamentais, tolinhas e tristes mulheres de Dorothy Parker, trocando deixas com homens sensatos e serenos que usam frequentemente a palavra "querida". Esse seria eu.
Agora imaginem um pernambucano cabeçudo? Ele estava lá também, esbanjando simpatia. Na cabeça de Marisa havia uma auréola de insetos, que nem aqueles do Cascão da turma da Mônica. O mal cheiroso ali era eu, vocês sabem... Mas os insetos sobrevoavam a cabeça dela. Me lembrou o Mauricio Babilônia em versão ralé.
Eu inventei para eles que a minha relação com o teatro não era uma questão de realizar um sonho de infância, e sim porque era um desejo doentio e obstinado aquele de beijar a boquinha da Juliana Paes, muitas não queriam ser a filha da Natália do Vale? Eu queria fazer par romântico com a Juliana Paes. Alguns riram, outros nem se dignaram a esboçar um sorriso meia - boca. Eu sei, eu estava impossivel. Mas onde foram parar os seus modos? Ooh, os meus modos... Talvez um dia minha mãe o encontre jogado por aí, quando tiver fazendo faxina na casa. No antigo trampo do bar eu também me comportava dessa forma, sou intimista total. Tanto que até fiquei com fama de anti - social, porque não fico junto com os patrões na mesa dos funcionários quando o bar está ameno, as vezes eu troco alguns interlóquios, mas nada muito além de meras brincadeiras esculhambadas.
Meu patrón César_ um verdadeiro Czar, delira com a idéia de voltar a epóca da escravatura, ele diz que iria fazer questão de me comprar sem nem olhar meus dentes, eu iria ser o seu anda (ele leu Aníbal) e iria viver na mordomia do Casarão só para ser castigado nas horas de fúria e nas horas de simplório lazer da familia sulista. Eu dou risada e rebato: "E eu me vingaria comendo a sinhazinha no curral, aos olhos do cavalo e as custas do dono."
Do meu canto observo a resposável pela injúria de minha pessoa, olha para ela... ela é conhecida como Chuchu, é velha e olha como se veste... uma calça de oncinha coloda na coxa e uma camiseta do Corinthians, tão cafona quanto uma foto emoldurada num piano. Ao lado dos patrões o tempo inteiro, como gatos enrroscados nas pernas de seus donos, a espera de migalhas.
Ah, quer saber? Vai levando.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Os meus sinceros votos




Me sinto leve e solto sem você
Oh, como estou passando bem sem você!
É como se a gente tivesse se visto pela primeira vez
mas sem a admiração de antes.
Eu não estou mais tão desprevinido assim.
Você para mim é como uma tarde no Farol de Itapuã
Não enche mais meus olhos.
Me sinto muito bem sem você.
Obrigado.
Obrigado por ter me ofertado a passagem de volta
desse paraíso idiota e artificial, o qual você me levou.
Me sinto muito melhor com alguém
cujo o beijo me faz recordar o aroma de jacintos.
Cuja a alma não é um vulto.
Cuja silhueta me faz delirar quando está por cima
Cuja beleza me convoca.
A presença desse ser humano me trouxe um novo elenco de amigos
e algumas doses a mais.
Sem cobranças, sem bodes, sem aporrinhações.
Sem aqueles desfiles de misérias.
Que importunam tanto os olhos quanto o coração.
Ela mora à duas ruas à direita
no segundo beco sem saída,
e o nosso amor é forte como uma anta.
Oh, minha querida
Leve contigo os meus votos de alegria.

domingo, 24 de maio de 2009

Vamos aos prantos


Como se não bastasse, não temos mais água. Não, a embasa ainda não cortou nossa água, é o bairro que está sem água já faz uma semana, por causa de uma reforma tardia da prefeitura. Os braços de ferro estão esburacando toda calçada, a pista está escorregadia e nojenta de um cone a outro.
Se eu quiser ir até a padaria comprar pão, terei que patinar na lama. É a treva.
A água de beber já está no fim, só dar para hoje, o túnel está vazio, e a melhora está prevista para ainda quarta - feira? O que vamos fazer até lá? Tomar banho de saliva e nos lamber feito gatos? O que pretendem? Nos matar de sede?
Sorte é que ta frio, e tomar banho acaba não se tornando essêncial, é até nobre por lembrar os franceses suínos, diria o prefeito se desculpando. Mas de resto, escovamos os nossos sabres com água de matar sede, e quem pode pode tomar banho com água mineral e se sentir o rei Roberto Carlos. Quem não pode, importuna o conhecido do bairro vizinho, e ficamos bem.
Ou faz como minha tia, enche o balde com a bica do telhado, ferve e se banha. Que horror, é a treva, só pode ser.
Evitamos de defecar para não causar mau cheiro, ou cague-se num saco plástico e se desfaz na calçada do vizinho que tem tanque. Eu mesmo já fiz isso... Estamos todos enfezados, essa é a verdade.
Sempre existe um desavisado que vem te visitar, sai de lá da Avenida Dois de Julho para cagar numa casa onde não tem água.
E essa chuva que não cessa? Não vou falar mal da chuva, se não fosse por ela, não tomaríamos banho. Salvador é um dos cartões postais que não me apraz no inverno, exatamente porque não é uma cidade aprazível, Salvador em dias de chuva é Deus naqueles dias. Prefiro ficar bem longe.
Como se não bastasse mais nada, houve um black out ontem, uma árvore caiu por cima de um fio e a minha geladeira queimou, a geladeira dos tempos áureos. Foi a treva.
Mas que merda, mas que grande merda fedida! O que falta acontecer?
Morro de medo de morrer pobre e longe das luzes da ribalta.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Uma autora, uma constatação


Leiam Dorothy Parker, afiem os dentes e morram pela boca.
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Nunca, nada é o que parece. Mesmo quando o século for 20.

Well... Welcome to Hell


Estou muito pobre. Pobre não, pobre é o diabo, eu estou permanentemente duro. Não tenho dinheiro nem para comprar um vale pro inferno. Beber é um luxo. Bebe quem pode, fuma quem tem. Eu não posso sempre porque nunca tenho, e eu quero sempre.
Até estão me devendo uma boa grana, mas encerrei o ato maravilhoso, dizendo com orgulho e com desdém para quem me deve: "Pode ficar com esse dinheiro. Aprendi com os ensinamentos divinos e espirituosos que quem dar aos pobres, empresta a Deus. E eu acho muito mais válido ter Deus como credor, do que um ser humano mediano. A recompensa pelo menos é garantida, e a satisfação plena e verdadeira."
Por falar em Deus, estou com raiva Dele. Ele parece que não me escuta. Estou desempregado, minha mãe também está, aliás, a minha mãe está se sentido uma pobre coitada, sempre a flagro chorando pelos cantos. E aquela gente miserável perdendo seus rebocos para a chuva, hein Meu Deus? O que você me diz aí em cima, todo senil e rodeado de estrelas em algum departamento do céu?
Minha mãe era uma dondoca quando era casada com meu pai, é bem o caso da cinderela ao contrário, é verdade. É triste, e eu posso dizer que é até pior que certas cenas de novela, você pensa que está incólume, que não vai acontecer com você. Mas as surpresas são para todos filhos amados. Depois pensando muito bem achei um barato, minha familia navegava num mar de felicidade barateada, minha mãe já estava charfurdando na areia movediça do tédio, e hoje como está bonita e mais alegre. Depois do pranto, a gente se abraça e ela me faz sonhar com promessas de gostosuras que ela fazia na epóca da maré cheia: Pudins, quindins, mouses, tortas, enrroladinhos, empadinhas e pásteis, tudo isso preparado no mesmo dia, para escolher. Um mundo melhor. Vou parar de sonhar com tardes inteiras no grande McDonalds. Oh sim, a vida não é nada fácil. Fazer faculdade para concretizar o meu talento? Ora, isso para mim é remediar desgraça. Não, eu vou ficar aqui e encarar na raça e no peito. E agora aquele deleitezinho bobo de ter cometido um delicioso e perfeito crime e que só você sabe, mais ninguém.
A geladeira ecônomica que tira água na porta está lá na cozinha, para nos lembrar dos tempos áureos, mas vazia, é claro. Como disse, estamos permanentemente duros.
O Inferno onde é destinada as pessoas de boas intenções não me assusta nem um pouco, porque não chega nem a proporção da unha do meu private hell.
Agora tchau, um tufão de beijos, e um big mac feliz para vocês também.

Dorothy Parker e as consequências


A língua mais felina do século 20. Querem exemplo? Clare Booth Luce, mulher do influente editor da revista Time, Henry Luce, cruzou com ela numa porta giratória. As duas se detestavam, Clare era mais jovem. Mui cortesmente, deixou Dorothy Parker passar primeiro pela porta, só que dizendo: "As velhas antes das belas". Parker desfechou no ato: "As pérolas antes das porcas."
Dorothy nunca mais saiu na Time.
Quando resenhava livros para a Esquire, resumiu sua opnião sobre um romance com duas frases: "Este não é um livro para ser descuidadamente deixado de lado. É para ser jogado fora, com toda força.".
O famoso autor passou a boicota-la também, com toda força.
Sobre uma importante dama da sociedade de Nova York, Dorothy escreveu: "Ela sabe falar 24 línguas. E não consegue dizer não em nenhuma delas."
A madame nunca mais a convidou para nenhuma festa.
Sobre uma interpretação em teatro de Katherine Hepburn: "Ela cobre todo o escopo de emoções _ de A a B."
Kate Hepburn nunca mais lhe dirigiu a palavra.
Quando lhe disseram que determina socialite de Nova York era muito gentil com os seus inferiores, Parker perguntou: "E onde ela os encontra?"
Pronto. Ficou queimada entre os ricos.
Mas... O que se pode fazer quando se vê graça na própria desgraça?
Errou quem disse rir, errou quem disse escrever. Acertou quem disse escrever rindo.

A Vila

Ela partiu
Uma pequena vila com apenas mil habitantes
É somente ela em minha vida
Ela partiu agora, depois de um drink
No qual brindamos à nossa saúde
Dessa vez
Sem o entusiasmo comum dos amantes
Não sei o que fazer da minha vida
Sinto-me como se fosse meu próprio convidado
na festa onde ninguém veio
Por causa da chuva.
A chuva muda os sentimentos
Com o matrimonio, tudo se reduz, tudo se compacta
Estamos mais solitários
Como uma pequena vila com apenas mil habitantes
Quando o amor acaba e o ser amado parte
Tudo fica vazio e fantasmagórico
Como uma vila abandonada

Rumores

As noticias chegam a mim por rumores uivantes

E rumores não tem origens

É rio que escorre sem largadas

Filme que corre sem legendas

Poeira nos móveis

Os móveis quietos no porão

Ah! O mundo é minha cama!

Tomo ciência das mazelas do mundo
lendo os matutinos onde durmo

É triste?

É.

O que é triste?

Eu deitado em cima das mazelas do mundo,

É claro.

Mas nada mais triste do que saber que o uísque
é o amigo que existe

E que o seu unico apoio passado
tenha sido aquele muro que te amparou da queda

Quando te encontrou embriagado.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A senhora do azul boreal

"Não, minha senhora. Eu estou cada vez pior."


Passei meus olhos sobre minha vida em construção, o principio de uma obra sem principios nenhum, de uma obra - prima, com a graça de Basquiá. Mas minha irmã, você teria gargalhado se chamassem seus sinceros rascunhos de obra - prima, e ainda me diria, com razão: "A minha unica obra - prima jamais foi escrita por ninguém, nem por mim. Até porque acho as auto-biografias de uma pretenção sem tamanho, e as biografias... Um deleite de fã xiita para quem escreve, e uma esmola para quem ler "

A sua verdadeira obra - prima era a sua própria vida. Mas a minha não, não tomaria esse rumo, almejava as folhas de louros e a acadêmia de letras com seus anciões magnânimos. Estudava minha obra com tal zelo de um pai que observa as fases de sua prole. Como os olhos que são surpreendidos reféns do mar que furtou, me encontrava ali refém das expectativas alheias.

Teria que largar mão de toda essa bobagem e atalhar um caminho, se quiser ser mesmo um artista, enxergar o mundo como um todo, começaria a ter fé nas porcentagens de uma massa repartida em três fatias: Aquela que leu e adorou, aquela que leu e não gostou nem um pouco das letras sobrepostas, e a massa burra que não ler.

Nela, somente nela. Nas porcentagens!

O agrado verdadeiro sempre vem, e é tão intimista o agrado verdadeiro. Exceto minha querida irmã, meia dúzia de conhecidos que nada dão por mim, mas que conversam comigo no rol cafe, ao lerem minha obra - prima ficariam lisongeados, bateriam cabeça aos meus pés, aos pés de um mulato caboclo literato.

O agrado está escondido nas miudezas e as miudezas estão escondidas no armarinho onde compro meus cigarros e molho meu pão no pingado quente, ouvindo lamúrias e o barulho infernal do trânsito de São Paulo.

Com os braços coberto por uma manga da casaca, relo no balcão umidecido, depois pigarreio, bem antes de fazer evaporar a fumaça no ar pauso para sorver o liquido quente, sinto o gosto do rum e admiro as fêmeas na rua andando como se estivesse pisando em ovos, e as raparigas em flor andando como se pisasse em pescoços.

Por dentro não há nada que mereça tanto esforço de detalhes. Oh, sim! Há! A verdade é que sempre há. Se quero levar a sério todo esse mistério, tenho que adquirir a arte do escrúpulo, o maior escrúpulo nas coisas mais banais, escrupuloso ao auscutar e minusioso ao redigir.
Esquecer que os meus olhos se acostumam e calam, guardam e levam consigo como se fosse um câncer. Implacável e indivisivel. É uma pena, sem dúvida. O mau é que sou mui sincero, e a preguiça, o desleixo e os erros ortograficos vão juntos no pacote. Todos de mãos dadas contra mim. Mas a preguiça é mãe de todo vicio, e mãe é mãe.

Digamos que me encontro em uma raia de um vasto objeto... vamos por assim dizer, enrriquecido por sua totalidade em sí, e parco em atrativos. Por serem sempre os mesmos formidáveis atrativos de sempre, e não de outrora. Como o deserto do Mojave ou como um barco sem amarras ao mar, logo deflagrado a rotina da umidade e do calor sob o olhar inquisitorial do tempo. É aí que a mentira é permitida, e é sem duvida convidada de honra. Tudo é permitido nas campinas da imaginação, ainda mais para alguém passional, fadado a exorbitáveis experimentos como eu.


"Sabia que em dois tempos e doze linhas eu transformaria esse pardieiro, no qual me encontro absorto, em um circle vicious da alta roda?"


Da roda da fortuna dos homens de negócios acompanhado de suas mulherzinhas de almas campestres, unica e exclusivamente entretidas numa secreta e discreta competição de vestidos oficiais. Quanto aos homens graduados em fina estampa, a companhia de suas senhoras lhe serviam para três cajadadas: Desmestificar o que está por trás das reuniões da empresa, seja lá o que for que povoa clandestinamente a cabecinha de suas benevolentes mulheres. As mulheres no fundo suavizavam o ambiente torpe e cômico que centenas de pobres palhaços em inicio de decadência assentuavam. Para isso serviam as mulheres dos barões, para serem neons. Para alimentarem o rei inveterado que têm como subsolo a bela pança dos seus absolutos maridos, tão fálidos e gabões, amadurecendo a pretenciosa idéia de provocar ciúmes nos outros, como as mulheres fazem com as suas indumentárias. Igualzinho a elas.

E eles não seriam mesquinhos se eu bem deseja-los. Seriam amigos de velhos atores de revistas, teriam opniões certeira de cinema cerrado entre os dentes, confeitariam a arte com seus mimos. O tema em pauta seria como uma árvore natalina totalmente parcimoniosa, no qual cada um, por sua vez; um de cada vez, daria um passo a frente e figuraria ali seu pitaco, afim de dar um sentido mais bonito em relação as árvores do mês de dezembro. Em dezembro, por exemplo, é festejado o carnaval dos pinheiros. Todos estariam ali, mulheres, basbaques e jornalistas.

Chegariamos a literatura, e finalmente me encontrariam a todo vapor em campo aberto, pronto para despejar mui languidamente, toda minha cultura esperta, apresentar-lhe-ei o meu mostruário, a minha bela colcha de retalhos remendados, com todo o cuidado de um homem instruído a nunca, em hipótese alguma parecer verborrágico. O que acham disso? É tudo que sei.

Escrever é passear por ruas desconhecidas e sempre voltar, conhecer os caminhos e risca-lo do mapa. O antigo prédio redondo da imprensa sempre me localizou. Portanto, não adianta mais se perder por aí num bairro que conheço como a palma da minha calejada mão, quando o asfalto se torna seu amigo tudo é mera repetição.

Aí vem vindo o fio da meada, com o seu gingado de galináceo... Se passar por mim eu o esgano! Aí está novamente senhores o que eu falei em pormenor sobre aqueles pequenos agrados intimistas. Está nos olhos daquela que do seu lugar olha para mim, sem tirar os lábios do seu copo de gim. Seu marido, ao lado, ocupa-se com um vespertino trágico. Era bem gordo, evidente. Roupas justas de cor cinza tombado, as pernas cruzadas elegante, o braços erguidos exibiam o seu rolex de ouro. Não podia ver a sua cara, a tragédia suburbana estava estampada nela. Isso tudo me fez pensar nos bons e velhos detetives dos romances policiais, que faziam fechaduras nos jornais para esquadrinhar o observado, sob o falso álibi de um hábito costumeiro e ordinário do cidadão comum.
Entre mim e aquela senhora _ que celebrava o dia homenageando o azul do céu em seu vestido _ não havia fechaduras, nem portas. Tão cheias de atributos, que só eu gastaria dois dias inteiros em descreve-los, mas há nela também, se reparar muito deliberadamente, uma linha de decadência, talvez por fazer par com esse glutão. Para não estragar a poesia, direi que o outono traduziria como nenhum outro poeta seria capaz, outono estação, outono decadência. Todos os outonos do Aurélio.
Acenei com a cabeça e logo reconheci um sorriso se desenhando em seu rosto maciço, gastei mais alguns segundos em contemplação divina, voltei a mim mesmo e tomei o meu rum, tomei o meu rumo muito tardiamente... Eu já estava intrigado.
Alguns minutos se passaram e eu já estava na minha quarta dose de diversão, o seu marido dobrara o jornal e agora parecia lhe dar total atenção com a sua cabeça cheia de malogros. De vez em vez aquela dama de azul me olhava amável, mas de vez em quando, me olhava consternada e sem pestanejar, como reserva. O seu sorriso, mesmo agora sendo pesaroso, ainda era um sorriso, e ninguém poderia tirar isso de mim. Seria ela alguma daquelas tantas figurantes de furtivas paixões noite adentro? Não iria saber assim de memória, quem bate está sujeito a cair a qualquer momento, porque se esquece.
Como era bonita! E que posso dizer de suas pernas? E que pernas eram aquelas? Sensacionais! Não pude evitar uma violenta ereção quando a vi levantar-se para fechar a janela e se proteger da chuva que começava a cair lá fora, suas nádegas se formavam pneumáticas em seu vestido azul boreal em homenagem a terra, que era de toda forma, da cor do seu vestido. Olha aqui, um lindo rabinho. Como podia ser esposa daquele fanfarrão vulgar e ilustrar morna e complacente felicidade de que tudo está na mais perfeita ordem?
Ora, demagogo por demagogo que escolhesse aquele com mais imaginação e critério! Escolhesse a mim! Ora porra!
Ao meu lado ela seria o principio mais elevado da transcedência, e em minh´alma seria exatamente como perólas enfiadas num cordão.
O olhar é um dedo apontado, me reconhecera de algum lugar? Como poderia saber... Era um artista, oras. Provocava sentimentos nas pessoas. Talvez ela tenha lido o meu conto premiado, Corra como um coelho foi um sucesso na revista Senhor. Agora não via a hora de se aproximar do autor das deliciosas história que a fazia se tocar com tessitura. Como poderia eu ser tão peregrino nas palavras ao ponto de provocar uma ejaculação nunca antes experimentada numa esposa querida e numa mamãe de mão cheia? Como poderia ela se deixar levar pelas palavras sedutoras de um homem que caga igual a ela? Que abuso de partido ele tomava dela!
Ele era eu, e esse é meu delírio.

domingo, 17 de maio de 2009

Quem quer ir pro céu?

Indébito com o meu senhorio, ousei falar-lhe, embora ousaria da mesma forma, pois tenho eu, um belo focinho de madeira escupida.

"Alô, senhorio! O que faz aí parado feito uma coluna do templo, tão só ao sol? Não me diga que meditando uma fúria?"

"Olha aqui, procura abrigo porque eu já aluguei a casa. Odeio visita também, prefiro ser... visita. Vai vomitar na casa de quem esse ano, posso saber? E o all star imundo? Quem vai lavar?"

"Shit! Eu adoro o seu banheiro."

"Estou fora esse ano, meu bem. Vou sair com uma amiga."

"Mas aonde é que eu vou dormir?"

"No canil de Berenice, lógico! Com aquele cheirinho peculiar... entre pulgas, carrapatos, uma esquizofrênica e um viado. Ah, já ia me esquecendo da irmã pomba - suja. Aaahh, mas que familia feliz! Com hóspede tôxicomo ainda por cima!"

"Meu Deus do céu, Satangôs! Não se movimente muito, está um cheiro insuportável de seu veneno! Você acha que vai pro céu desse jeito?"

"Meu bem, nunca vou pro céu... Lá não tem Derby. E o que eu iria fazer lá? Ora vejam só! Se bem que melhor que defunto, só sendo obsessor... É claro... Melhor obsessor! Imagina eu invisivel? Vou vagar por aqui mesmo, camarada. O limbo é bem mais interessante."


p s : O melhor é que esse senhorio existe, e o pior é que ele é meu.

sábado, 16 de maio de 2009

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Desafio em pról de um ócio criativo




Um grande amigo me pediu para compor pra ele umas canções subversivas, vocês sabem... punk rock mesmo.
Nunca compus nenhuma musica, e vou me enrrolar porque vou pensar também na batucada. Mas ele me preveniu: "Apenas escreva, como se fosse um poema, escreva sobre o egoísmo das pessoas, sobre sistema politico e blá blá blá, leia Burroughs Rafa, se vira. O resto deixa com a gente."

Ok. Já compus uma parte da primeira canção, e ela se chama Nem Bob day, Nem punk always. No inglês, original: "Nem Bob dia, nem sempre punk"

Vou enviar para a corte, e vou esperar o chumbo grosso dos séquitos esquentadinhos da banda Exclusos. Adoro uma polêmica, e se for preciso, a gente se estranha.


Foto da semana: Iggy Pop


Don´t try.

Delirium





Francamente, eu não tenho vergonha nessa minha cara.

Eu estava folheando uma revista antiga e encontrei um trecho de uma carta do Arthur Rimbaud para o Paul Verlaine. E eu estive aqui pensando... "Olha, se a cabrunquinha escrevesse uma carta assim pra mim_ mesmo depois das farpas terriveis que trocamos, eu até cogitaria em voltar pra ela."

A carta:

"Volte meu amigo. Amigo unico, volte. Prometo ser boa.

Se te tratei com desagrado foi por enganação; Mas que desgraça você levar a sério tamanha bobagem! Seja valente, Dom, volte!

Estou triste e arrependida, tanto que nem você é capaz de imaginar... Já choro há dois dias.

Nunca irá me esquecer, verdade?

Te levo sempre comigo."

ha ha ha... Adoro o exagero zombeteiro do Rimbald! É como um filme B dos anos 50.

Paixão, farpas e rusgas é um axioma do começo, meio e o fim de uma vida.

p s ; eu comeria o Rimbaud.

sábado, 9 de maio de 2009

Um olhar pra cada humor

Meu olhar paloso escancara, me trai e me desmente, assim como o coro cabeludo anuncia a velhice. Traidores...
"Vigia teus olhos"_ me falou uma vez certo sábio.
Portanto; sabe aqueles óculos lúdicos, de olhares falsos, que vende no mercadinho mais próximo?





Eu quero um, e quero ouvir também você dizer: Belos olhos são seus olhos!

domingo, 3 de maio de 2009

I feel free



Sou um homem de letras e de um demesurado valor

hoje me apresento ao mundo sem honra,

quando eu sei que sou o homem mais honrado do mundo.

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Voltar para casa enchendo os pulmões com o sereno-da-madrugada+nicotina, e ainda ouvindo Eric Clapton, faz a vida parecer menos chata. Eu gosto.

Beliscões de amor próprio (_as claras)

... Pouco fez caso em me receber, entrei porque já era da casa e o cachorro me conhecia muito bem, ela nem saiu do quarto e o cachorro me lambeu os pés, fiquei vendo os mísseis pela tevê, na companhia das crianças e do cachorro. Antes de abandonar o barco e de me senti um proscrito, eu pedir o que era meu de direito: Um Fernando Pessoa que ela não lera, um disco dos Ticoãs que ela arranhou, e um amor retornável que por muito tempo não retornou, sobre o assunto ela declarou: "Aqui está do mesmo jeito que você deixou."
Eu assenti, e antes de partir eu fui à forra e cobrei os copeques de dívidas mesquinhas. Ela galgou, não tive piedade, a essa altura eu já estava às favas com o bom senso. Então, entoei como um hino num cinismo todo particular e vil: "Não se chatei comigo, benzinho. Eu estou te dando a oportunidade de me provar que você vale um pouco menos que nada." _ Seus olhos flamejaram e ela latiu um "vá para todo sempre!". Antes de ir, profetizei: "Eu vou embora, mas um dia eu vou te amostrar o tira-teima". Galopei segurando as rédeas da pequena vilania, da vontade de atingir como se eu fosse um verdugo, de fazer pensar. Não é que eu me importe com tudo isso, é que eu não queria sair por baixo como as galinhas imoladas. Foi mais sensato parar por aí, antes que um tomasse ojeriza da cara do outro, quanto a isso ela fez uma cara de... como se dissesse: "Ora tolinho, eu já tomei nojo da sua cara há muuui-to teeem-po!".
Mas a culpa não foi dela.
Passei meses inteiros sobreando um caso perdido, evitando analisar a realidade a olhos nus da inteligência, puis o véu da fantasia sob minha cabeça e não me zelei. Portanto a culpa é toda minha. Fiz e disse coisas demais, fui sincero muito cedo, me joguei sem medi a queda, joguei limpo e esqueci dos sublimes ornatos da sedução, e de toda parafernália boba de um romance.
O saldo positivo é que todas as forças renascem depois do infortúnio, o coração adquire consciência da força que dispõe, se revigora como um capim a crescer sob um sol resplandecente da bonança. É você ali fertilizado pelas chuvas tempestivas de outrora.
... Ela me jogou a chave e o cachorro me acompanhou até o portão, e assim eu fui embora, com uma leve sensação de que já vou tarde.
A desgraça a todos iguala, até o cão.