quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Vestindo a roupa da raposa



Eu já perdi alguns amigos por conta das coisas que eu escrevo, eu não sei... Penso que eu sou honesto demais, e as pessoas parecem não estar preparadas para isso.
É o caso do meu cunhado que só gosta de mim de longe, tão protegido no seu bunker de palmeiras, suco de laranja-lima natural e paredes forradas de papel parede.
Eu sou franco e anônimo como Adão acordando depois de um sono justo.
Alguns confundem honestidade com empáfia, e por isso me chamam de poço fundo.
O poeta - mor quer ver o cambulião mas não quer me ver, porque ele leu toda a estória que eu contei no blog, achou um ultraje, uma falsidade sem tamanho, ele que sempre recomendou minha escrita para outros, ele que nunca publicou nada de ofensivo sobre mim, e etc.
Mas sabe porque ele nunca publicou nada de ofensivo sobre minha pessoa? Simplesmente porque eu nunca dei lugar pra ele fazer isso, porque ele não tem do que falar mal de mim.

Ele e o asshole do seu amigo fez por onde, é claro que me faço uma indagação prévia, me pergunto: Porque zombo? Porque gosto de me refogar nesse molho caricare e gárgulesco?
E quando estou cônscio de que não é por inveja, nem recalque e sim porque a pessoa em questão é um grande babaca que merece ser tirado um sarro, aahhh, eu pego pra Cristo sem piedade, porque o riso liberta do preconceito rígido, e também porque (assim como o meu persona no teatro) eu gosto de ler algumas coisas divertidas quando estou aborrecido. Ora, eu faço troça da minha própria desgraça, porque eu iria poupar os outros?

Enfim, fazer o quê? A sinceridade assim como a ambição ainda não ganharam a patente de virtude.
Ou ganharam e ninguém percebe, ou percebem mas com medo?
Diseuse tupiniquim morre pela boca, um dia eu aprendo de uma vez que com a verdade não se brinca, muito menos com a verdade dos outros.
Mas bem, eu não estou aqui para monopolizar a verdade, eu nem quero_ porque ao contrario do que muitos pensam_ a verdade pesa uma tonelada.


*****

O meu persona no teatro é um verdadeiro malandro, eu estou adorando fazê-lo. Apesar dos ensaios não andar muito bem das pernas, mas enquanto isso estou estudando meu personagem que é um verdadeiro pícaro, e não um pseudo - espertalhão como muitos que existem por aí.
Vou vestir a roupa da raposa, serei meio animal, meio coyote enquanto os outros personagens são seres humanos, o meu criado será um coelho. Partindo desse principio já mostra muito bem que as pessoas gostam mesmo de ser engabeladas, que se você souber vender, elas compram sem hesitar a sua lábia e a sua atitude. Elas querem mesmo é ser engabeladas, é isso aí!
É o que os malandros geralmente fazem, se dão bem e se divertem às custas do mundo.
Não foi a toa que esse personagem foi dado para mim, é claro que por eu ser trickster de nascença ajudou bastante, sempre fui trickster, mas só mais tarde que eu vim me dar conta disso.

E para ilustrar: Roubarei a astúcia do Arlequim de Neil Gaiman com a linguagem figurativa de um macaco trapaceiro, que consegue enganar muito sabiamente o leão e os antílopes, me inspirarei nas miguelagens maldosas do enganador norse, que é Lóki. Nas corajosas atuações de Prometeu, de Hermes e de Mercurio, nos ardis que Exu tem para com suas vítimas, na mitologia Iorubá.

E depois desse escrupuloso laboratório, construirei MAIS UM arquétipo da resistência que é a figura do Malandro e seus truques pelo mundo.

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A peça estréia em novembro, mas não tem data marcada ainda.
Eu colo o cartaz aqui. No problems.

Um comentário:

Bípede Falante disse...

Não é uma questão de sinceridade. É que " nem todas as verdades são para todos os ouvidos".