quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Errei a pista

Por enquanto nada, nada de nada. Só essa sinfônia degradante e nada criativa, e os cigarros do meu padrasto que eu vou liquidando sem intervalos, eu sei que irei me arrepender aos trinta... ah, que se foda, chegando lá eu me viro, eu não sou nem pretendo ser quadrado.
Estou no centro do ócio, sem trabalho, sem sexo, sem sarros, sem carinhos nem malícias, só a mesmice, por enquanto só Jesus na causa. Estou me tornando habitué de sites da boca do lixo, e isso não é legal pra pele, provoca espinhas porra!
O boteco que eu trampava? Os milicos fecharam, aquilo lá já estava passando dos limites, fez bem as autoridades. Os patrões, mãe e filho abriram umas coisinhas aqui e outra acolá. Czar se mudou com medo de ser assassinado, hoje está com um pequenote restaurante perto de sua nova casa, e a mãe dele e ex sócia está com um médio restaurante no Derba, contando com o auxilio da sua fiel escudeira Chuchu, a chupa culhão que parece gato aos pés do patrão. Bem faz ela que ganha seu trocado, pior sou eu que estou desempregado, quem vai pagar minha franquia pro show 80 age esse sábado? Quem vai pagar minha passagem e as brejas pra eu ver as bucetas dourando na praia?
Depois de eu ter passado por uma série de empregos de lojas de nome esdruxulos, do tipo: Dinossauros Presentes, Kafka Baby, Ginsberg e os bons fluidos e um motel chamado Vaca Mecânica, agora a falta do que fazer cada vez mais presente.
Não tenho o que dizer porque não presencio mais nada, a minha fonte segura, o meu material, todo mundo sabe, são as pessoas comuns, o mix do vivido com o imaginado. As pessoas que habitam lugares comuns são os esqueleto do problema, e eu vou dando a carne, a verve e o sangue da imaginação para elas tão pálidas e sem vida.
Agora quem está pálido e sem vida sou eu, bem o caboclo Marujo disse pra mim com desdém: "Vida sem vida"
As pessoas são minhas musas, é no sofrimento que me sinto mais inspirado, oh por favor me faça sofrer, a inspiração anda de mãos dadas com a dor, e a felicidade_ por mais que ela seja alvejada, é boboca, é bossa nova, barquinho, laguinho e o caralho A4.
Não quero escrever sobre isso, eu não sou o Vinicius de Moraes.
Que caiam os malogros! Que caiam a orgia! As boas brigas, os bons combates e o sarro do sexo! Os amores tóxicos, as entregas paracrônicas e as paixões venéreas! O profundo do beijo e os poeminhas boboquinhas de depois; intuito de futuras fodas.
Minha garota disse: Quando eu voltar pra você então, aí que acabou sua inspiração.
E eu respondi: Não irei fazer poemas sobre você, farei poemas sobre nós dois. É diferente.
Muito desse pesar não culpo a ninguém a não ser a mim mesmo, eu sou preguiçoso, e não é porque eu sou baiano, não trabalhe sua massa encefálica fálida com esse paradigma babaca de que baiano é preguiçoso. A preguiça é humana, indepente de estado, sexo, credo ou raça.
Você vai procurar emprego e se bate com uns obstáculos no caminho (Bares+amigos) aí você pára, e toma uma e toma duas e toma quase uma caixa inteira. Perde a consulta de emprego, chega atrasado no teatro e ainda bêbado, esquece seu texto em casa, esquece suas falas... O que te resta senão improvisar? A vida é assim. A vida é dura
Pra quem é mole.

*****

Em novembro eu estreio numa peça velha e maravilhosa do Nicolai Gogol, como personagem principal graças a minha graça e ao talento de rato ator pornô nos hardcores da vida.
A peça se chama O Inspetor Geral, e é um grande deboche a politicagem atual. O diretor ta puto com os meus atrasos e com meus porres, e como ele não confia totalmente em mim a ponto de se jogar de olhos fechados esperando que eu o segure, ele dividiu minhas falas com outro ator que irá fazer o mesmo papel que eu. Eu vou ficar com o lado don juanesco do dito cujo... O que será ótimo, vou beijar na boca, enquanto o coringa com calo na garganta vai gastar saliva.
O espetáculo é excelente, o meu personagem é um pícaro literato, com certa debilidade pela santissima trindade pecadilha: Comida, mulher e cigarros. Bem eu.
Acontece que eu não faço ideia de que merda vai dar esse espetáculo, se vem de um cú sem prega e limpo ou de um cú da Miriam, baseado no fato de que temos 3 meses de ensaio pela frente, 3 meses de ensaio uma virgula, os ensaios são dois dias na semana, isso dar 17 ensaios antes da estréia, fora os feriados que andam assolando esse mês, e tudo ou mais. Vamos ver... vamos ver, eu ainda me garanto, se querem saber. Como além de toda bebedeira e demência e porra - louquisse eu posso me garantir? Sei lá, Freud não explica tudo? Consulta ele.
Eu disse que iria pintar o meu cabelo de amarelo ovo, não disse? Mudei de ideia, vou passar a zero dos lados e deixar um moicano bem estilo do De Niro no Taxi Driver. Vou dar a ideia cheque pro diretor, vamos ver se ele pesca.
E todos estão convidados, mas não pra ficar na minha casa que já vai está cheia, tente o hotel Uberlandia. Levem os tomates e os ovos, se pans, depois da peça a gente faz uma goroba e mata a larica.

*****

Das coisas que eu ando ouvindo por aqui:

"Uma briga feia de casal. Ele jogou um cigarro acesso na cara dela..."
"E o que ela fez??"
"Jogou um cinzeiro entupido de cigarros apagados na cara dele!"
"E depois?"
"Eles fizeram um amor bem gosto."

Love hurts,
um adendo : o cigarro e o cinzeiro eram os unicos objetos de cena.

Outra, de um poeta numa conversa comigo, como eu não tinha nada melhor pra fazer, eu perguntei:

"Que recital é esse que você conta os dias no nick do msn, como o maldito Conde de Monte Cristo faz crucifixos na parede?"

"É um recital, ue."

"E quem está organizando?"

"Eu ue. Quem mais seria?"

"É... Quem hoje dia faz recital? Isso é tão anacrônico... Quem são os convivas?"

"Eu ue. Só eu. Na verdade, será no dia do meu aniversário, eu tiro essa data para compor, escrever poesias, vou me trancar no quarto e escrever e recitar pra mim mesmo, well... ano passado foi no quarto, esse ano talvez seja na cozinha, não sei, ainda vou decidir. É astrologia, sabe? Quando você faz aniversário tudo se alinha, tudo entra em um bom senso e se ajusta, é bom para a literatura. Não sabia disso?"

"Não... Eu não me ligo em astrologia, eu sou da macumba."

"É mesmo? Eu acho o candomblé uma seita, doutrina, religião, sei lá o quê, uma coisa muito bárbara, eu sou católico apostólico romano."

"O que você acha barbaro no candomblé?"

"Sei lá; aquela coisa de sacrificar os bichos, beber o sangue, oferecer pro diabo. rsrsrs"

"É mesmo? Quer saber o que eu acho bárbaro? "

"O quê?"

"Queimar pessoas vivas. Mas vem cá, voltando ao seu bendito recital... Depois você desse pra tomar umas cervejas com os amigos, para cortar o bolo e apagar as velinhas, né?"

"Não dá. É um ritual. O meu tema esse ano é "Paixões e Traições"

"Hum."

"Por que "hum"?

"Posso ser muito sincero com você?"

"Mas é claro, fique a vontade."

"Eu acho isso uma tremenda babaquisse, não é nem babaca, é boboca. A inspiração não é premeditada, ela vem e vai como as estações do ano, talvez não na frequência das estações, no caso da Clarice Lispector foi, ela ficou anos sem escrever, o Raduan Nassar só escreveu um livro depois de velho, e foi o unico livro dele, excelente livro por sinal. Mas isso não é um ritual, quantas obras primas foi composta em mesas de bar? Centenas. Você tem que viver aquilo contado, amar a natureza daquilo que você ama, amar a essência, respirar as paixões e as traições da rua, não baseado em culturas fragmentadas de parágrafos de livros que você leu, ou aquela sintonia que você busca na faculdade da memória, isso cheira a mofo. Não queira me convencer que a inspiração entra pela janela do seu quarto hermetico com olor de peido, ou te faz companhia na cozinha com o cheiro do ensopadinho da criada..."

"Você está me desmotivando."

"I´am sorry"

"Seu filho da puta! Vá pra puta que pariu você e suas convicções! Está perto do meu aniversário, e você só acendeu o pavio de estrago!! Seu cretino!"

"Eu sei que está perto do seu aniversário, faltam 7 dias."

Então senhores, diz aí: tô ou não tô mal de material?

*****


09/09/09... e eu nem acordei as 9 hrs pra fazer um cocozinho.


Dessa vez quem explica é Jung.

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