segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Reflexões sobre a (in) existência de Papai Noel por Sonia Coutinho


(...) Dr. Klaus, eu não quero me tornar uma pessoa adulta, sensata e razoável. Me deixe com a minha irracionalidade e minha tristeza mesmo. Quase todas as pessoas adultas que conheço são desagradáveis à beça, e o mundo está cheio delas. Sim, sei que estou mais esquesita hoje do que de costume.
É que entrei em parafuso no fim de semana passado, sabe?
Não, não aconteceu nada de especial. Foi só uma repentina certeza de que Papai Noel não existe.
Uma descoberta terrivel. Não sei se vou conseguir sobreviver a uma descoberta dessas, de que Papai Noel não existe. Depois de descobrir uma coisa assim, talvez só reste à pessoa virar uma alcoólatra, uma toxicomona. Sim, agora eu sei porque tanta gente dá pra isso.
É que ninguem suporta a descoberta de que Papai Noel não existe.


Autora de livros como Atire em Sofia, O ultimo verão de Copacabana e Os seios de Pandora, autora que não usa de subterfugios e nem de sentimentalismo baratos e que sabe lidar com maestria os verdadeiros sentimentos dos seus personagens, sempre femeninos, mulheres solitárias e angustiadas.
Alguns podem até acha-la boboca por falar em papai noel com certo desespero da descoberta que ele não existe.
Mas pra mim isso soa irônico até demais.

Na verdade, ninguem suporta a descoberta da farsa.
E o natal é uma irmandade mentirosa, fraudulenta, luzes falsas, flocos de neve falsas, presepios falsos, e até mesmo a data da morte de Cristo é falsa.
ah, faça-me o favor. Não me acorde na noite de natal, estarei bebedo.

Nenhum comentário: