quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Laranja perdida no meio da estrada ou ta bichada ou faz parte da macumba.


Não vi o dia, confesso, não vi o dia. E continuo confessando esquadrinhando a mim mesmo... é claro que eu não vi o dia porque na noite passada bebi a cântaros e fiquei pra lá de marraquesh. Quando somos varões da noite e nos deixamos levar por um drink condutor mesmo tendo em mente a responsabilidade de acordar muito cedo, acordamos, se o problema é se locomover meu corpo faz isso enquanto eu durmo. Por isso não vi o dia.

E se de repente eu caminhasse com a obstinação dos três reis magos ou se então eu andasse seguindo os miolos de pão pela rua, aonde eu chegaria? no mainstream ou no underground?


Aqui estou na sala fria do consultório, em retrospecto, ouvindo roncos de gente dormindo e a Ana maria braga falando de uma cadela vira lata que adotou um bezerro como parente (mui carente), e um carpaccio de polvo com casquinha de siri falsa.
a verdade é que somos no fundo de uma carencia abismal, até os bezerros que são primos distante dos sangrentos touros, e é por isso que eu estou aqui (?!) para não chegar ao ponto cume e exdruxulo do bezerro e da cadela vira lata.

Os problematicos dormem enquanto esperam seus prognósticos, a mulher da recepção passa batom e se maqueia olhando um espelhinho redondo. Ela é uma recepcionista na média dos 35 anos, bastante opulenta e sexy, gorda, porém com a leveza de uma bola de sabão pairando em lugares arejados, balançando as pernas em um ritmo de batata carnuda envolta numa meia-calça cor de jambo. Sinto vontade de desfiar a meia-calça dela com a ponta do dente, na ponta do pé até a virilha. Até poder ouvir sua voz.


"Rafael Coelho."


Vou até sua pessoa.



"Com licença."

"Pois não?"

"A senhora me chamou?"

"Rafael Coelho é você?"

"Sim."

"Você já pode entrar, o doutor Assunção esta esperando."



Encaminhou-me com as mãos geladas apoiada em minhas costas até a sala do doutor Assunção, a sala ficava no fim do corredor numa comodidade vazia e só sua, e a sala senhores, acreditem em mim ou chupem meu saco, era redonda.

mas como pode, mestre dos magos?

ora porra, a arquitetura da sala era redonda, as paredes não eram como caixas de sapato, as paredes lembravam a curva do céu e o globo.

Ele me disse:


"Como se sente agora que esta aqui e sentado na minha frente?"


pensei em dizer: "emocionado, mas enquanto eu esperava sentado la fora, onde tudo é quadrado eu estava quase chorando vidro." mas preferi dizer para alimentar as prelimirares mentais:

"me sinto como o Napoleão Bonaparte!"



aí ele disse:



"Então você reparou que a minha sala é redonda."



"Não me diga que eu fui o unico e com isso vou ganhar um prêmio?"



ele riu.



"na verdade não, todos reparam, mas pouquissimos comentam, acham normal. você faz parte de outra turma de pessoas."



"Escuta, eu sou uma esponja."



"É mesmo?"



eu ri.



"groselhas à parte, eu gostaria de saber qual é o real motivo para uma sala redonda?"



"Bálsamo. você não se sente confortável?"



"A terra é redonda e nem por isso nos sentimos confortáveis. Isso aqui esta parecendo mais uma redoma."



Ele me observou analítico por alguns minuetos, levantou-se de sua poltrona e encheu o copo descartável com a agua do filtro, e bebeu.

"De qualquer forma justifica o meu trabalho." disse finalmente.

Eu expliquei para ele que falava muito pouco, e que no telefone eu era completamente frio, ele me perguntou porque eu era lacônico e eu expliquei para ele que quando eu falo demais o interior do meu nariz seca e a minha mão formiga. Por isso que preferia ficar calado. Mas ele não deu importância a tão curioso e veridico fato, e me perguntou o que eu gostava de fazer.
Eu queria latir.
quase quase lato.

Passado é ja um ai, eis que depois disso vem ainda dois ais:

O doutor Assunção, o medico psiquiatra em questão esta para a profissão como o GG. alin esta para a humanidade, ta certo que ele é esperto até onde dar, o lance da sala redonda _ segundo o Assunção me confessou mais tarde, é que ele num belo dia, numa sacada genial pensou em provocar as elocubrações perniciosas da mente dos pertubados, e o que ele constroi ham? uma sala redonda!
É isso que eu chamo de cultura particular e pessoal, sem duvida uma cabecinha tacanha, e curiosa: ama freud, lacan e o chato do Socrates, enquanto eu curto Jung, folhas de louro e Epicuro. tem como livro de cabeceira O mundo de Sofia e bebe diretamente da fonte de Napoleão Bonaparte.
Eu morro de sede, mas dessa fonte eu não beberei.
O que eu podia esperar aceitando de amigo convênio de organizações não governamentais?.. tsc.
A camaradagem foi tamanha que quando percebi estava envolvido na mesma carona que o medico psiquiatra, logo depois do almoço. Conheciamos gente incomuns.
Sendo assim, pronto. Para descobrir que na verdade o homem tem o pé no terreiro foi um pulo. ÉÉÉÉÉ, da macumba mermu!
Bem que eu desconfiei. Nossos amigos incomuns decidiram um chôpp antes de ir, e fomos para a casa do tal médico que encheu minha chouriça com pasta de palmito, nada como a nossa velha e boa bebida para saber dos detalhes para depois esquecer.
Daí que ja não era mais segredo seu pé na cova, que ele estava muito doente e não dizia o nome da desgraça, enfim, ele me perguntou se poderia jogar os buzios para mim, eu topei, e fui tomar banho. Corpo são, mente sã. ele disse.
Com o cigarro esfumaçando no cinzeiro e de vez em quando em sua boca, ele jogava para o alto as sete conchas na mesa vestida, as sete conchas caiam desorganizadas perto das onze conchas restantes e do copo de agua cristalina, que de vez em quando ele pitava o dedo e lambia, para depois jogar novamente as conchas.
Na primeira jogada exu gritou, as conchas cairam de bruços. Exu pede para eu não abusar da bebida, me livrar de más companhias se não quissesse pagar o pato, são 3 pessoas, uma delas muito próxima de mim.
Na segunda vez, Exu continuava a falar... conchas de bruços. Disse que eu levo uma vida vazia, "vida sem vida", que as vezes eu sentia vontade de sumir, e que não era à toa que eu sou filho de Oxóssi com Leminski.
Na terceira vez, foi fadada a mim o atestado de vida em óbito, serei o eterno solteirão solitário, ele disse. Sou um fiasco no amor, e que eu irei amar milhares de pessoas e que nenhuma delas me amarão, o meu destino_ segundo o psiquiatra macumbeiro_ é ser só.
Não que a verdade tenha um dono né senhores?
Não me acham merecedor? Ora porra, qualquer imbecil que tem uma porta e janela tem alguem que o ame, porque eu, euzão aqui_que sou um sacerdote de farra e Deus nas horas vagas, terei que assistir a festa pela fresta?
Por fim ele disse:

"Não será hoje, tampouco amanhã, mas.. mais cedo ou mas tarde você terá que cumprir com a sua obrigação de santo, jogar os carros empilhados nos ferros-velhos do inferno, quebrar os guizos e abri o coração. seja pela fé ou pela dor. A dor é um desvio do caminho mais fácil... Sua vida tomará forma apartir da sua obrigação, ganhará liga."

"Errr... que nem quando se compra uma passagem para a Disney?"

É passado o segundo ai, eis que o terceiro ai aí cedo virá.

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