Ela está morrendo numa cama de hospital, seca e pálida. Não tão branca quanto os lençóis sujos, tem fino trato nas retinas e o seu coração está avacalhando, mas a mente insiste em bater, bater nas portas do que chamam de passados felizes.
A morte é bonita e nem dói, é uma piedade dada por Ele, é o estágio mais bonito da vida, e mais significativo tambem, porque só lembramos dos momentos felizes.
E quem não tem?
E como eu sei?
Julgo ser assim, é assim porque quero que seja, é assim porque eu análiso e penso, é assim porque existe destinos em minhas palmas, tão frias... como os pensamentos superaquecidos pela musica que toca e me toca.
Não há quem exista que nunca foi alegre!
Se há, que se apresente até a mim!
E se me provar que sempre foi infeliz, tiro da minha amarga manga a alegria clandestina, aquela que é dada para poucos. Para poucos...
Ela está morrendo, não mais fala... Nela é tudo muito simples e grande, nariz, boca, olhos, palmas... mas são apagados, é caneta falhando em lençóis de cetim.
Ela está morrendo, não mais enxerga... E eu posso ver.
Ela está morrendo, não mais respira... E isso me desespera letalmente. Começo a quebrar palavras e desviar frases para chegar ao desfeixo que tanto me atormenta, a beleza e a simplicidade das coisas é um tesão oculto meu, que me atormenta.
Ela está morrendo... Vê? Você pode sentir as palavras murchando? Pode sentir o esvair da matéria? O cenário tem cheiro de terra molhada e só me sufoca porque eu estou vivo.
Que danação que me é escrever...
Ela morreu e não houve desfeixo, na verdade, ela já havia morrido... Porque eu quis, porque eu matei todas as senhoras cor de rosa com a minha foice.
Ela está morta e enquanto isso Deus pinta o céu de tons muito abóboras e envelhece o dia que é moça.
Um comentário:
NÃO ME POUPE!
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