quarta-feira, 16 de maio de 2007
A lingua analfabeta.
O canto da pomba gira.

Sombra é gato e enxerga no escuro.
Que suplicio gostoso que é escrever, dessa vez meus dedos doem e "eu quero parar". A carne me castiga Castilho, não fale tanto casteliano, alivie meus dedos.
O grito dela aprisionado em sua boca suja de porra e palavrão, e batom vermelho da pesada, a pomba girava e gritava, fino timbre refinado, tinha o som de uma guitarra...
Chegara perto da menina que caminhava cantando pelo céu e fumando o seu cigarro púrpero. Eu explico. Não havia fumaça uma vez fugida da sua boca limpa para falar algum comentário inteligente, era purpurina que saía da boca das mulheres puras. Purpurinas que ficavam pairando na sala e à alguns centimetros do seu rosto.
Sermão, sermão, vou ser cauteloso. Dos rapazes bons, saiam vaga-lumes.
A negra grita pela setença, indignada por tambem ser púrpura e ter mais melanina nos olhos do que no corpo, o que era seu pecado. Ela chora lágrimas negras e nesse momento me dar vontade de tambem chorar e borrar minhas folhas com minha dor.
Escrever não é bastante?
Não. Lágrimas são puras e valem mais do que qualquer palavra. A santa fala a minha lingua, se aproxima a pomba com o seu corpo sinuoso e o seu batom escarlate, altivamente puta.
Sermão, sermão... Vou explicar a lágrima que não foi caída por que Gabo me desconcentrou, chorara por todas as pessoas caídas e mortas de fome, pessoas pobres de espiritos e sem nenhuma caspa, sem nenhuma boca rachada, sem nenhum teor alcolico. Pessoas café frio, pessoas pão dormindo, pessoas cigarro frio.
Choro a lágrima não caída por vocês, limpos depravados que não sabem siquer que existem, e quiçá se vive e do que gosta.
A pomba, a pomba, o chicote na mão, a paz no peito, o pó no porão e nas minhas narinas. Narinha, não se importe com a rima tacanha.
Vou direto ao ponto: Meus ouvidos e seus olhos leitor.
Vou direto em direito ao grito: Sua boca e minha mente que desfalece.
A pomba gritou alto no altar sagrado!
Blasfêmia! Putana! Acorrentem as putas! (trombone dos infernos!)
Um batalhão de anjos de Zenite azuis carregaram a pomba que não mais gira, já presa em suas asas de cera.
As senhoras tapam a boca horrorizadas, os homens bons põe traves nos olhos para não verem a nudez feminina do pecado, meu pescoço dói, ela grita e eu sinto sua dor, porque sou ela, a dor da pomba tambem é minha. Os anjos de Zenite estupram a pomba, todos ao mesmo tempo, como urubus não expantados, o velho entra-e-sai de amores, como se fosse becos.
Escrotos!
O ultimo canto da pomba na minha lembrança ficou até amanhã.
Pileque.

Do outro lado deve ser bonito.

Ela está morrendo numa cama de hospital, seca e pálida. Não tão branca quanto os lençóis sujos, tem fino trato nas retinas e o seu coração está avacalhando, mas a mente insiste em bater, bater nas portas do que chamam de passados felizes.
A morte é bonita e nem dói, é uma piedade dada por Ele, é o estágio mais bonito da vida, e mais significativo tambem, porque só lembramos dos momentos felizes.
E quem não tem?
E como eu sei?
Julgo ser assim, é assim porque quero que seja, é assim porque eu análiso e penso, é assim porque existe destinos em minhas palmas, tão frias... como os pensamentos superaquecidos pela musica que toca e me toca.
Não há quem exista que nunca foi alegre!
Se há, que se apresente até a mim!
E se me provar que sempre foi infeliz, tiro da minha amarga manga a alegria clandestina, aquela que é dada para poucos. Para poucos...
Ela está morrendo, não mais fala... Nela é tudo muito simples e grande, nariz, boca, olhos, palmas... mas são apagados, é caneta falhando em lençóis de cetim.
Ela está morrendo, não mais enxerga... E eu posso ver.
Ela está morrendo, não mais respira... E isso me desespera letalmente. Começo a quebrar palavras e desviar frases para chegar ao desfeixo que tanto me atormenta, a beleza e a simplicidade das coisas é um tesão oculto meu, que me atormenta.
Ela está morrendo... Vê? Você pode sentir as palavras murchando? Pode sentir o esvair da matéria? O cenário tem cheiro de terra molhada e só me sufoca porque eu estou vivo.
Que danação que me é escrever...
Ela morreu e não houve desfeixo, na verdade, ela já havia morrido... Porque eu quis, porque eu matei todas as senhoras cor de rosa com a minha foice.
Ela está morta e enquanto isso Deus pinta o céu de tons muito abóboras e envelhece o dia que é moça.
Amoral

Eu, no meio, à nove passos de mim. Atrás, a um passo, a moralidade.
A Sandice grita: Bora Garfo! Se apreça!
Eu não sei, mas eu sentir a sensação de que nunca vai chegar, andava... andava... andava, e uma dose de limão para aliviar meus pensamentos... Gina tem cara de mangá e olhar perdido... Perdido caminho enlamacento.
Gabo, Gabo, Gabo, tô chegando, mas parece que a moralidade se encrostou em mim, roubou o lugar da minha sombra que tambem está "murmurada", vida própria tinha.
Tinha pernas grandes, era falsa e andava com ligeira impreção.
-Por que te vás com tanta pressa?
-Ultrapaçar você e a loucura.
Parecia vinha na metade do meu livro, tinha um cheiro rosado inebriante.
A moral chegou na moral, alcançou a loucura e andamos juntos, em calçadas diferentes.
-Estão de boa né?
-É. Cabeça feita, chapa.
-Bom. Mas tudo é relativo... Cuidado com os comedores de ideias, é desse petisco que eles gostam.
-Você é um?
-Sou apenas o aviso.
-Você é falso.
-E que certeza você tem que tambem não é? Que certeza você tem que existe?
-Eu sei que...
-Quê?
-Sei porque eu sei que...
-Quê?
-Mas sei porque eu sei que...
-Que?
-Que sabe o quê?
-Nada.
O velho falso é moralista, ele tinha ideias de usuário tratado e cheirava a um pano de chão, ele sabia, mas castigava para sobreviver o padrão.
A moral conhece o adeus do amor, porque já se apaixonou pelo que é imoral.
As janelas da alma.

terça-feira, 8 de maio de 2007
Poema roto.
No meio do caminho.
Havia um caminho.
E seguiu seu caminho.
E encontrou
A Saga de Maria Depressiva em busca do seu espirito de porco.

Me disse no primeiro encontro.
-Eu tenho alergia à calcinha.
-Alergia?
-É. Eu fico todo me coçando, minha xana fica empolada... Você já viu uma buceta empolada?
-Nunca.
-Nem queira ver meu amigo...
Ainda me lembro da vez em que dormia-mos num quarto de hotel mais vagabundo do que nossas almas. Dormia já exaurido de tanto sexo da noite passada, entre baratas e goteiras, gritos algozes de putas sendo espancadas por seus cafetões na rua Augusta.
-Deve ser chato ter dono.
Ainda roncava, e nem percebi quando o meu pau fora posto pra fora do short, a não ser quando batia um vento encanado de uma vidraça quebrada fazendo assim arrepiar os meus pentelhos, logo, o choque térmico. A mão fina e quente afagava o meu mole pau, como se estivesse pegando uma massa, as idéias se organizavam em fila indiana, meus olhos tão remelentos e preguiçosos abriam-se miúdos, a boca seca, a língua com gosto ruim... Despedia-me da letargia, enquanto via meu caralho crescer e se tornar vivo e retumbante na boca de Maria Deprê, era como a chamava carinhosamente, ela me olhava com olhos sucintos, nua por completo, corpo de Vênus, Boticcele lesado.
Os gemidos caíram bem, sentia meu pau inundado em saliva e lembrei de São Paulo, não, não. A buceta de Maria inundada era mais triste.
Ó buceta triste, como estás? Não vai me convidar para entrar?
Gozos remanescentes de boca aberta e gemido alto.
Maria limpa a boca esporreada com o lençol sujo.
-Desculpa. É que eu estava com insônia.
Quando Maria ficava ansiosa fumava os filtros e as baganas, desfilava nua e descalça pelo quarto exibindo sua pele branca como cera, seios pequenos como já havia dito, cabelos loiros e cumpridos onde ela deixava cair na testa uma franja que a fazia ficar mais menina ainda, sardas, cintura fina, esguia, enormes e opulentas pernas escondidas por meias calças 7/8 cor púrpura até o joelho. Seus pêlos pubianos eram ruivos e tinha um aspecto hiponga, seu dedo indicador vivia lá dentro, é mania, me disse uma vez.
-Mamãe falava que fazendo isso eu nunca mais sentiria aquelas dores que toda menina sente quando derrama sangue. Depois eu descobrir que era tudo mentira, mamãe me masturbava com prazer. Gozei em seus dedos, uma ou duas vezes.
Quando não fodiamos, nem fumávamos um baseado, nem saiamos para pichações e concertos de poesia, Maria ficava nua em cima da cama de casal, janela aberta, o sol entrava clariando intensamente seu corpo, e sua pele branca e o seu cabelo cor de fogo se misturava com o sol e virava uma única luz.
Perna cruzada para cima, de bruços, mordiscava a canetinha bic azul enquanto decidia o que botar em suas fantásticas e intermináveis siglas criativas.
Depois de foder, seu passatempo preferido.
C aso
A rrombe
A rrume
R egras
A morosas e
L ibidinosas causadoras de
H orriveis
O verdoses
-Toma. Sua vez.
A sigla é B. U. C. E. T. A. S.
B ela ... U nião ... C aralho ... E ntra... Toda ... A... S aliente.
-Hum, deixa eu ver. Faltou o A.
-É. Eu sei. Deixa eu pensar...
-Não pensa, o seu mal é pensar demais. Desarruma e faz.
-Certo.
Não direi aqui minhas inúmeras tentativas para uma sigla perto do obvio, até porque nem lembro mais. Mas ainda me recordo dessa porque ainda guardo esse papel no bolso da minha calça surrada como um prêmio de consolação.
B elaU niãoC aralhoE jaculadoT rásA mor eS orte
O sorte ficou por conta dela.
-Vou andar bicho...
-Ué. Pra onde você vai?
-Vou procurar o meu espírito de porco que anda perdido por aí.
-Ahnh Maria, ultimamente você anda tão esquesita. Vem cá vem, suspende essa saia, deixa eu te foder.
-Não.
-Então deixa eu te chupar, vem...
-Ta. Mas só uma chupadinha. Eu preciso mesmo procurar o meu espírito de porco.
Eu iria falar para ela que ela estava lendo muito o livro dos vampiros de Sistinas, mas me faltaram palavras quando ela suspendeu sua saia indiana amarela escura amostrando-me sua coxa e sua cona, sua buceta raspada...
-Gostou? Fiz hoje de manhã.
Apenas disse; linda.
Sua buça era rosada e tinha um aspecto triste, eu sei que vocês leitores que me lêem em casa esparramado no sofá, no ônibus, na escola, ou na privada cagando, devem me achar um insano, ou no mínimo um imbecil.
Pensam, buceta é buceta.
Não, não é. Pelo menos não a da Maria.
Era uma buceta que me olhava e me dizia tímida;
-Se não for pedir muito, passe a língua antes de comer. É que eu era estupidamente frigida até os dezesseis anos.
Uma buceta jovem velho banguela que me ler com os olhos miúpes, daquelas que nunca mais verá, há não ser a tua neta ainda impúbere que de vez em vez, quando consegue andar, espia pela fechadura do banheiro.
Uma buceta triste faz jus aos olhos da dona.
Cartas para Clarice.

Papel amarelo triste pelo tempo, palavras mal traçadas em linha reta.
Ninguem esperava que uma inofensiva carta fosse trazer grande confusão, não no mundo, mas no pequeno mundo de Clarice que não lhe cabia ser humano, aquelas palavras escrita por pena, pena de escrever, pena e tinteiro poeta!
Dizia assim:
"Aguardo ansiosamente a sua vida, Clarice."
Quando na verdade, deveria ser assim:"Aguardo ansiosamente a sua vinda, Clarice."
Era o diabo do seu pai.
Dia C

DIA D.
O gato leão andava doido por aí, havia se empanturrado no chá das cinco, reunião sociável das pessoas degustadas.
Com sete passos chegou no seu quarto, conversou com o criado-mudo, pegou a sua arma entre as mãos e foi até a porta conquistar o seu amor, como que se estivesse indo para guerra...
Dizem que ele dissera para irmã:
-Eu vou te matar Isa.
Ela brigou, contestou, fez relia, mandou parar com a bobagem.
-Então eu vou ter que te matar Dora.
Elas brigaram, contestaram, fizeram relia, mandaram parar com a sandice.
-Então... Eu vou matar a menina mais linda da cidade, o meu grande amor verdadeiro, minha flor corajosa... Eu vou te matar Liz.
E ela, em desdém de sí e dele, disse:
-Por mim. Atira.
Um tiro na cabeça não perpassa só o crânio, mas toda uma vida. Uma vida que agora pouco falava da vida dos outros e respirava. Agora é face assustada, poças de sangue e cabelo.
Gato leão não queria, ele não fez pelo mal, as balas não eram para estar na arma, nem para ter atravessado o crânio de Liz, balas são para adoçar a boca.
Amor doce amor, flor de finada Liz, Liz fina flor, flor de Liz morta, assustada e sangrenta.
Morre uma flor.
Foge um gato.
E nasce uma tragédia.
O inebriante livro de João.

O fabuloso destino de Mariline Fiore.

Podres.
