quarta-feira, 25 de abril de 2007

Brechó


A porta estava entreaberta, convidativa. E eu vi:
Ela fumava como que se não tivesse dentes, não tinha charme nenhum visivel, talves ao segurar o cigarro longe da boca.
Era gorda e feia, seu rosto era todo dividido e o seu nariz achatado, suas rugas eram tão juntas que mais pareciam leques chineses, leques em cada olho.
O seu cabelo cheio e tingido de loiro, era falso e desgrenhado. Seu nome era Brechó, e era conhecida como feiticeira por aqueles guetos da cidade de Pelotas. E eu, aguardava ansiosamente naquele quartinho sujo, iria comê-la depois daquele cigarro.
É que a cada estudante que saía daquele quarto com cara de susto e suor escorrendo do rosto, o tempo intervalo era de um cigarro Chileno, e olha que havia uns doze quando eu cheguei, agora estou sozinho nesse quarto imundo, contando baratas e espremendo minhas espinhas, eu não deveria estar aqui... Mas de que forma eu mostaria para o meu pai que sou homem?
Ué, ter nascido com pau, gogó e pêlos no sovaco não bastavam? Não para ele.
Para mim, parece tão cru. Eu sinto que vou deixar algo para trás ao sair desse quarto com cara de susto e suor escorrendo do rosto.
A minha infância talves, a minha liberdade de transar com quem eu quiser, na hora que eu quiser, e esses pedaços de mim espalhado pelo chão, quem vai juntar?
E se não subir?
Ai deus meu, ela é o estupor vivo! O que meu pai queria? Me presentiar, ou me castigar?
-Me desculpa a demora.
A rouquidão vinha com o sorriso.
-Hãn? Não, tudo bem.
A gagueira saiu com o medo.
-É que quando eu fumo eu penso na vida, e quando eu penso na vida, eu me desligo...
Ela falava tudo gesticulando, sem medo de se desmontar na minha frente, foi até o criado mudo completamente muda, rebolando suas ancas pelancudas e alcançou um frasco de perfume desses franceses, borrifou três vezes em seus seios enormes.
-Oh céus, acho que exagerei no perfume, estou até tontinha... Você se importaria se eu tomasse um banho rapidinho?
-Não. Eu acho uma boa a senhora tomar um banho, afinal, foram doze estudantes que sairam da senhora.
-Dez cabaços xuxu, virgens são limpinhos!
-Mas... a senhora não é virgem.
-Oh, claro que não, não é mesmo? Mas sou limpinha, e sei embalar muito bem bebês com o meu canto. Espera só mais uns minutinhos, eu já volto.

E a sensação veio e voltou como um balanço, como uma balada sem som, a namorada sem roupa, a estrada sem caminho, o caminho sem andante, sentiu-se no abate.
Esperou por cinco minutos.
Uma porta se abre, é a porta da frente, sempre calada. E ele sai com cara de susto e suor escorrendo do rosto.
A mulher gorda havia morrido em seus braços.
Ele era foda numero treze.

3 comentários:

Guilherme N. M. Muzulon disse...

"o caminho sem andante, sentiu-se no abate."

Explodiu num show de concisa observação, chapa.

Anônimo disse...

Perfeita sua descrição de tempo, espaço, pessoas. O texto nos transporta para a cena. O fluxo de consciência é marcante, mas os detalhes físicos são muito bons. Não é preciso ser homem para sentir o que o personagem sentiu. Mas, também não podemos deixar de analisar o comportamento de Brechó. O espaço para o cigarro é tocante... "É que quando eu fumo eu penso na vida, e quando eu penso na vida, eu me desligo..." (Fazer vida, não é fácil!).
Em síntese, muito bom seu texto, tem mérito para ser públicado.

Davilúcia Coelho Ferreira

Anônimo disse...

OBRIGADO DAVIS. PRETENDO GANHAR DINHEIRO COM ELE. BEIJOS.