quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Eu queria ter uma banheira

Eu queria ter uma banheira.
Dessas grandes, alvas, de uma brancura celestial.
Eu queria poder afogar-me numa dessas banheiras brancas com água térmica e aromatizada, completamente nú.
Por um segundo queria me sentir no bico de um pelicano, ou novamente no pelico de minha mãe.
Sentindo intimamente o vapor barato dessa água perfumada tocar meu rosto.
Com a cara pra cima, olhando para o teto encardido que ameaça cair sobre mim.
Como o céu vulnerável que ameaça cair todos os dias sob nossas cabeças.
Eu queria olhar além do teto, além das nuvens e das estrelas, eu queria ver a face de deus, se é que ele tem mesmo face.
Será que deus tem espinhas?(!)
Como é deliciosa a sensação de não pensar em nada!
Mais deliciosa ainda é se pegar subitamente não pensando em coisa alguma, o susto pregado na conciência depois da apátia.
É bom estar só nessas manhãs de inverno, acordar sentindo o hálito doce do ontem bom, numa cama espaçosa e vazia.

Sentir o corpo amolecer devagar, destravar, abstrar, levantar bandeira branca.

Olhando o azul anil pela janela, ouvindo blues sujão, Trixie Smith travando batalha com a pornofonia do vizinho do lado, as crianças brincando na rua, aproveitando o recesso da chuva que ameaça desabar São Paulo...

Ouvir o inaudível, sentir a presença do invisivel, da alegria repentina, da tristeza matutina, da serpentina, do confete, da vontade da falta do que fazer.

Inventar frases feitas e rimas de amor.

Imaginar Judy Garland cheirando uma carreirinha com o mágico de Oz, enquanto eu sigo os tijolos amarelos já sabendo onde vai dar.

Brincar de esconde-esconde com a felicidade é procurar deus na multidão.

Mais tarde sair protegido por uma dessas ruas desertas, encontrar pessoas turvas e pedir cigarros.

Respirar fundo o cheiro singular da madrugada. Bater na tua porta e te receber sorrindo com um cigarro acesso entre os dedos.

Dizer que fiz um poema novo.

Você me oferecer fumo e eu recusar, você me xingar de careta burguês... E eu rir.

Logo mais voltar pra casa, tomar um café, afanar um cão, ler Pessoa e ser alegre.

(Este poema é dedicado a estranha flor do meu jardim. Bia.)

11 comentários:

Anônimo disse...

É NATAL PORRA!!! VÊ SE DÁ UMA BOA GORJETA!

Anônimo disse...

lindo...
mesmo ao som de los hermanos.
mesmo depois de ter brigado cntg...

agora espero tu bate à minha porta e eu abrir sorrindo...

Anônimo disse...

EM BREVE BIA, EM BREVE...

Anônimo disse...

Grande Rafa, como sempre vc caprichando cada vez mais nos textos ein?
Porra ficou d fuder esse da banheira...
Viajei lendo esse texto... principalmente no: Sentindo intimamente o vapor barato dessa água perfumada tocar meu rosto...
Muito legal o texto, adorei viu.
Parabéns... mas isso não vale, tipo sou teu fã e sempre rasgo seda aqui né? kkkk
Mas vc sabe q é verdade tudo q digo. Vlw

Anônimo disse...

TUDO QUE É NOBRE E VERDADEIRO VALE A PENA ALEXES, NUNCA SE ESQUEÇA DISSO.

Anônimo disse...

Gostei..engraçado que me parecem dois poemas..duas situações..ambos bonitos..tu junta as palavras de uma maneira unica.

Anônimo disse...

BOA OBSERVAÇÃO, AGORA EU TBM VIM REPARAR QUE DÃO DOIS POEMAS... É QUE EU QUERO ESCREVER TUDO DE UMA SÓ VEZ, TUDO O QUE EU TÔ SENTINDO NO EXATO MOMENTO. ANTES Q AS PALAVRAS FUJAM E NÃO VOLTEM MAIS.

Guilherme N. M. Muzulon disse...

Belo texto...

"Mais tarde sair protegido por uma dessas ruas desertas, encontrar pessoas turvas e pedir cigarros"

e então, vida altiva. Altiva!

Anônimo disse...

Putz!!!
Tava inspurado em?
Amei esse poema!
Amei mesmo.
Vou copiá-lo.
Hehe.
Abração Rafa.

Anônimo disse...

É GUILHERMITO, PEDIR CIGARROS PARA PESSOAS TURVAS É MUITO BOM.

Anônimo disse...

PODER COPIAR DINHO, VC EU DEIXO.