domingo, 12 de julho de 2009

Desprezo coletivo involuntário

Uma coisa inédita aconteceu. Eu estava me vendo em um dia de pã, com dinheiro suficiente pra encher a cara, mais uma Tauros com 8 tiros finos para cada um, cigarros. Toda parafernália para uma noitada adentro, e o meu meio comum de locomoção foi um livro e ter viajado roído de fome para ver as obras no Museu de arte moderna, aproveitei que não tinha comida pronta em casa e sair sem comer nada, isso tudo para achar todos os quadros envolventes, segundo Hemingway aconselha. A arte notável pelo estômago, o estômago que vive à revelia de toda desgraça da vida.
Mas eu estava com bala na gulha e não havia nenhum alvo, não tinha com quem me divertir ou conversar, e eu me conheço o bastante para me divertir comigo mesmo, sem poder esculhambar ou roubar no jogo. Seria um cínico consciente do meu espetáculo, um vilão canastrão.
Diria uma conspiração maliciosa, um desprezo coletivo involuntário foi o que aconteceu, por reais motivos alheios e diversos, vindo das pessoas que eu convidei naquele dia.
Viajei na pala do pó de carona com uma tia, salvo por uma vuarnet mais palosa que a situação, mas que podia esconder as pupilas sobre-saltadas, e também pelo álibi de que iria para o Museu da Arte Moderna. Para ela, eu não iria cair em decadente esbórnia, eu era no fundo no fundo, um bom menino, um menino culto. Iria ver arte.
O tráfico de arte e toda aquela gente boçal... Certamente detestaria. E eu estava lá para me divertir às custas dos outros.
Mas eu estava com bala na gulha, e ainda tinha uma fome canina, tudo isso iria me deixar em perfeito estado mental, meio santo, meio gárgulesco. Resolvir numa madrugada inspirada sair desse covil provinciano e ver de quem são as sombras lá fora, e o MAM é tipo essas clínicas de reablitação de gente rica, do tipo do Fábio Assunção... uma beleza de paisagem.
As horas passavam a passos longos e desonestos ou eu estava muito lento naquele dia? Ou as praças eram muito grandes, ou não havia nenhum bar a primeira vista que valesse apena entrar e tomar um grande trago de espera.
Desistir do MAM, da arte e do jazz session, resolvir comprar um vespertino, tomei um uísque com soda num bar em frente a escola Kate Wislet, e por isso dividia a propaganda enganosa do jornal com os brotinhos virtuosos que iriam jogar vôlei na quadra da escola, naquele tarde de sábado.
Achei uma puta atraente e barata no jornal, resolvir ligar pra ela. Não, a minha tarde não fracassou. Vamos ver o que acontece se for do meu jeito.
Depois de vários pileques e entradas contínuas em banheiros públicos, fomos até o apartamento de um amigo jornalista desempregado e fizemos uma festa a três, um verdadeiro festim bármecida, imaginando banquetes. Chegamos perto da santidade de três corpos a pingos de suor e a loucura emanando junto.
Gastamos todo resto da munição da pistola de mulher usando o ferro de passar roupa para facilitar a físsura.
Cheguei às 20 em casa e desabei na cama feito uma madeira podre.

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