quinta-feira, 30 de julho de 2009

Fábula dos alforjes

As coisas continuam no mesmo lugar à revelia de minhas idas e vindas de risada, nunca minha vida foi tão semelhante com minha casa, de modo que eu transforme o quarto num pandemonio, caso queira bancar o diabo da tasmânia, ou simplesmente no ato ordinário de pousar o prato na pia. As coisas estaram lá quando você voltar, graças a Deus.
Ainda trabalho no pior bar da cidade, aquelas tavernas horripilantes do Dostoievski perde, perigos públicos, malfeitores de primeira ordem circulam por lá, uma gente adoidada e lamentável dividem tempo, massa e espaço.
Numa noite intesificada por levas de seres humanos não fica dificil descobrir qual será a vitima da noite, meu patrón e eu apostamos:

"Eu acho que vai ser aquele ali Czar, olha como se pavoneia o carcamano."

"Sei não mutante... Já viu lá aquele velho dormindo na mesa? Eu acho que hoje o sortiado da noite será aquele lá!"

"O cara quando começa a bancar cerveja para todas as mesas, tragos, cigarros e tudo mais! O lince não é tão penetrante quanto os olhos dos sacizeiros dessa rota, olha como eles flagram toda cena... Olha, eu caso uma aposta naquele babaca tirado a figurão ali."

"Ta certo, ta certo mutante... vamos apostar teu ordenado, que tal?"

"O meu lucro insignificante, você quer dizer. Que é isso Czar? Vai chutar cachorro morto agora?"

"Eu tenho uma ideia melhor, então você me paga umas cervejas depois do expediente lá na feira do rato insône."

"É uma idéia razoável. Eu topo! O mesmo vale pra você, são duas a resposta pra aposta, mas tudo dará na mesma, vamos acabar embriagados no final de tudo."

"E rindo dessa merda toda!"

"Reah!"

Ganhamos a aposta, os dois foram lesados. Primeiro um, meia hora depois, outro. Uma caixa de cervejas, bebedeira e muita paródia!
Ontem eu não trabalhei por motivos fúnebres, mataram um vulgo na frente do bar. Dois rapazes suspeitos, o assasino manda o comparsa chamar o cara, assim que o infeliz sai do banheiro recebe um tiro a queima roupa e na maior cara de madeira, a sua primeira ação depois do susto foi colocar a mão na frente da bala tentando apara-la, a bala atravessou a mão e depois a costela, era para ser um tiro à forra, o que o assasino não esperava é que foi certeiro o tiro que levou o infeliz pra terra dos pés juntos.
Uma escandalosa pulou em cima de mim me derrubando por cima da mesa, os clientes pularam de seus assentos como pombos que se assustam com o alarido, os dois assasinos aproveitam pra fugir a mil. Aos arrastos e tateios, o homem preferiu morrer no banheiro infecto.
Depois do estrupicio, as pessoas se aglomeram diante do morto e tiram fotos, despudoradas, essas pessoas vence o pavor de serem roubadas numa cidade tãão perigosa, e se expremem numa exposição de celulares. Para filmar, tirar fotos, para amostrar para os parentes ou pra mandar pro Se liga Bocão a desgraça alheia, correu ligeiro a boca miuda o fato do buraco da bala feita bem no meio da palma da mão do morto, consideram o homem santo... ah, tenha dó. Todo mundo quer meter a boca numa partezinha do bem tão mal adquirido. Enfim.
O infeliz morreu, o assassino evaporou, a familia ta fodida de tristeza, o populacho ta em cima, a policia recebe refrigerantes de cortezia para aguentar o tranco, e nós do bar entulhamos as mesas por respeito ao morto, e vamos embora mais cedo. Quer dizer, não tão cedo, só fomos embora depois do desfile da policia tecnica, da policia teorica explicando para o dois guardas da tecnica que eles tinham que ficar velando o defunto porque era uma obrigação deles, e não deles, da pericia, e do IML que veio com sua prodigiosa lerdeza de Ssa... aliás, quem é que chega primeiro: A policia ou a ambulância? A segurança ou o socorro?
Amanhece, vou pra casa ouvindo Traveling Wilburys.

*****
Outra morte, foram duas em uma semana. Dessa vez foi um crime bárbaro, do alto da minha casta do balcão vejo o assasino se aproximar da vítima com um pedaço enorme de madeira, o acertando com força na cabeça, a vítima cai desmaiada na hora, e ninguém tem coragem de entrar na briga, mesmo os mais próximos do infortúnio. O assasino __ frio como o mármore, dar mais 4 cacetadas violentas na cabeça da vitima (que era um radialista) de tal modo, que faz explodir e o sangue correr com a força de uma bica. Ninguém teve reação pra nada, o assasino muito sabiamente fugiu as pressas.
Trêta de drogas. O unico contato vivo que a vítima teve foi comigo, cortamos um pó no banheiro e eu fiz ele me chupar, já que ele tava afim. Depois ele me disse que precisava ir embora porque iria trabalhar daqui a pouco, quando amanhecesse. Agora amanheceu, meu patrón chora como criança falando com a mãe no telefone, ninguém consegue entrar em contato com a policia aquela hora da manhã, eu choro também, mas bebo quantidades industriais do uísque da casa, e entro num estado impraticável. Czar vai atrás de socorro e eu fico sozinho com o defunto estirado no meio do bar, ele morto e eu bêbedo. As pessoas vão passando para trabalhar e olham curiosas sem diminuir o passo, chove triste, e a maquina de música cospe Feeling.

*****

O teatro ta em crise, as pessoas ontem foi só reclamações, mas que saco, eles alegam que não estamos muito entrosados uns com os outros, que não há cumplicidade, abaixo as panelinhas e aquela merda total!
É claro que eu não sei o nome de todo mundo de cor, e não vou mentir dizendo que chego sempre cedo nas aulas... mas, ah! tão cobrando o quê? afeto? afeto não se cobra ora porra!
E depois reclamaram de que o teatro ta sem graça, que esta tudo muito repetitivo... WOOHOO! MAS QUE GRANDE! teatro é repetição, porra!
O diretor se saiu muito bem nesse dilema, nesse conflito juvenil de carência e sensibilidade, Maick foi incrivel e esclarecedor como o dia. Mas as vezes dar umas ideias tão infelizes para seus atores praticarem.
Ainda bem que eu fumei um pra vim, não ia aguentar esse ataque de carência de cara. Todos se pronuciaram, deram pitacos, sugestões, fizeram promesas, todos falaram, menos eu que estava concanetando pensamentos... Ficaram me olhando. O diretor tomou a fala ao perceber que eu não iria abrir a boca:

"Bem... Espero que quem não tenha falado nada, esteja pelo menos refletindo tudo isso que foi dito. Rafael?"

"Eu."

"Quer falar alguma coisa, reclamar de algo?"

"Bom... Eu não chego cedo mesmo, tenho um problema serio com a qualidade das horas, eu nascir de 7 meses e essa foi a primeira e ultima vez que eu cheguei cedo num compromisso. Mas eu prometo que daqui pra frente, em consequência a tudo que foi dito, eu chegarei cedo nas aulas."

"Prometa depois de acordar! Abra os olhos primeiro, ta com os olhinhos tão puxaaadinhos!" _ Observa Magda, com irônia.

"Ok! Eu chego tarde, mas eu venho e me empenho! O que é mais importante, não tenho problema com minha amostra, mesmo que ela seja algo tão idiota. Vamos ser cumplice um do outro, vamos nos dar de verdade, temos um espetáculo para apresentar final do ano, eu não sei vocês... Mas eu não quero participar de uma comédia dos erros."

Todos concordaram e selaram paz e amor, uma menina cristã contou uma história toda metáforica me jogando indireta, sobre o significado de acordar, como era mesmo? Quem acorda cedo, colore mais cedo a sua vida acordada. E eu pensei: se é assim, minha vida só ganha cor lá para as 5 da tarde em diante, que é quando eu reponho a noite que eu perdi vendo malogro a olho nu.
Depois dos reclames e dessa injeção de ânimo bem no meio da testa, fomos ensaiar para amostra. A amostra ta um cagaço, odinária, tosca. Quem zombou de mim por causa dos 4 patinhos da Xuxa, sem ter pra onde correr, se viu intepretando o sabão cracrá e outras ninharias condenáveis a moral.
As pessoas sempre opitam para o lado cômico da coisa toda, como um sinalizador, se as pessoas tiverem rindo da esculhambação é porque estão gostando, e se estão gostando, é porque ta bom. Olha só, noticia velha, não é bem assim.
Magda é minha colega do teatro, do tipo asno. Eu faço força pra gostar dela, só Deus sabe como tento, mas não dar para aceitar imbecis com boa cara, não dar mesmo. Ela tem uma gracinhas tão sem propositos, e o que me dar mais raiva é que é o jeito dela mesmo, pobrezinha. Não vai mudar.
Magda no meio da roda que o mestre mandou fazer, manda essa para o Mauricio que está do outro lado:

"Você ta com um nariz graaaande... Parece que tomou alguma coisa para o nariz crescer, ta um narigão! Já sei, você passou óleo, não foi?!"

Oi?

O coitado do Mauricio, que é da roça, ficou sem entender bulhufas... passou o resto da aula massageando seu pobre nariz, se ele fosse eu, diria:

"Ah, vai sifudê vadia! A proposito, tenho algo muito maior que o meu nariz pra te amostar"

Vou contar pro Mauricio a história do Cyrano de Bergerac, talvez ele se identifique.

*****

No amor ainda não conto com estabilidade, entregar os pontos as vezes ajuda bastante, o que vocês fazem com suas habituais cagadas, hein? Eu vou dar um tempo nessas inutilidades românticas e aproveitar para dar uma lustrada no meu brio.

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