quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Não Indentificado.

Era uma sala de aula normal, com tudo que há de mais normal numa sala de aula, cadeiras, pessoas, quadro negro, ou verde, ou preto, já que negro é raça. Mas isso pouco importa. Pelo menos pra mim, pouco me importa, não tenho a paciência, nem a minuciosidade de Machado de Assis, até queria ter, mas não tenho, nem nunca tive.
Não é como algo que se perdeu sobre os meus cômodos, não se acha o que não tem.

O que me importa é o contexto, o lugar e as pessoas fica a critério da imaginação do leitor.
A professora velha sentada de pernas cruzadas em sua mesa de madeira vernizada, ao lado uma maçã com o vermelho intenso, uma maçã tão rubra que só poderia estar envenenada, mas não estava.
Suposições apenas.
Apesar de velha tinha coxas brancas, grosas e bonitas. Em exceto alguns furos fundos, e algumas linhas verdes indicando o caminho de não sei de quê. Ela não exibe com vergonha, nem com receio suas marcas, mas como um troféu, um não, vários. Fumava a bastarda.

As pessoas escreviam olhando o quadro negro/verde/preto.
Escreviam, escreviam, escreviam...
Ela não.
Não escrevia, não seguia nada, não olhava, não matava, feria.
Ela era Joana, Marina, Cris, Dani. Ela era um conjunto de grãos de soma e viajava. Seus olhos... Como esquecer aqueles olhos?
Olhos que fustigam, olhos cor de noite sem estrelas, gudes arrebatadoras.
Olhos tristes.
Uma puta, uma Janis, ela era melhor que todas porque poderia ser quem ela quisesse, a qualquer instante.
Não era medíocre, era um lanche. Quando sentia medo do amor que o gato trazia entre sua boca felina, fugia para onde não conhece, e reconhece pessoas que não a conhecia, e era sempre mais fácil lidar com o novo, pelo menos pra ela, e pelo menos em algumas ocasiões.
Inventa, mistura, fuma, anda roto.
Cada dia é um novo barato.
Deixava de ser um lanchinho e virava pizza nas horas vagas, só para não fugir do padrão estético, nem para ser condenada por alguém pior que ela.

Ela tinha corpo, seios, lábios, e buceta, mas isso todas as mulheres tem, e não perderei meu tempo em detalhar isso, porque não é isso que interessa, não é pra ler de pau duro leitor, e sim de alma tesa.
Falarei de seus olhos, que são as janelas d´alma.
Eram duas gudes cruas e escura, como que se maquiasse.
Seus pulsos...
Seus pulsos marcados a garfo quente, tentara queimar a mãezinha um dia desses, mas se queimou. Condenou-se, assumiu a culpa e o culpado, o assassino e a vitima.
Se marcou em fogo adocicado, doce como a culpa que saia aos poucos pela janela de mãos dadas com a dor.

Esmalte rosa descascado em suas unhas. Fazia a ponta do seu lápis com perfeição, deixando um ponto preto em seu polegar branco. As casquinhas do lápis feito em cima da carteira, faz um bico de assopro e num sopro de vida suja o chão. Olha a ponta fina do lápis, escolhe um olho para ver melhor, no centro. O esquerdo, fecha um olho e com o outro admira a ponta fina do lápis verde.

Não vai copiar.
Não vai desenhar.
Não vai escrever.
Vai ferir... Não a ela, mas a Dulce cabelo de pompom e seu risinho de "posso te ajudar?".
Motivo? Não precisa tanto.
Ela é boa e eu sou má, isso já basta.

-Isso. É pra furar o teu olho bom.

Um comentário:

Unknown disse...

nem sei por onde começar... essas madrugadas febris, só fazem a gente delirar