sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Sua vida termina aos 40.


Irreversível. Tudo será repartido, ainda dura o sabor doce dos primeiros meses, meses que não se tem para onde correr, e que palavras como partilha dividas e credores virarão clichês.


Quando fui embora assinei um tratado de barganha, e ainda terei que devolver as expectativas, pois elas não são minhas, como discos que me emprestam.


Ao menos engordei um pouco _o que era de esperar. Você come um prato de feijão com arroz cotidiano rezando quando só se empaturrava de ovos e fritos e josefina todos os dias.


Defendo a formidável idéia de que não se deve confundir casa com lar, mãe com pai. O meu quarto se adaptou a mim, as minhas meias, ao meu chulé. É ainda menor que o outro, mas all right.


Meu pai foi embora, o meu cachorro morreu e os meus amigos não mais me lambem, perco minha carteira de identidade todos os dias.

Hoje de manhã, enquanto dormia, uma poça d´agua era acumulada na minha testa, no apógeu do meu sono, mecanicamente _ como se tange uma mosca. eu limpava meu rosto e voltava dormir. Até que somente a tarde eu pude perceber uma brecha no telhado, como se o telhado fosse uma arcada dentária e os dentes fossem telhas afastadas, como os dentes de todas as mulheres falsas.

Maldita brecha que encara a minha testa e abre alas a pingos de chuva que sapicam meu rosto.
Um homem deflorou o rosto de sua mulher na linha do trem hoje, para quem nessa cidade coleciona crimes; ganhou mais um. E ela ficou na linha do trem dura e pávida como a estátua derrubada de Stálin.

Há uma pessoa que eu costumo visitar, o nome dele é Davi, eu o visito e sempre fumamos um bec. Davi mora numa casa quarto e sala, e um banheiro que mal o cabe.
O silêncio reina, o silêncio _de fato, me constrange. Porque o silêncio vai de contra a tudo aquilo que é fluxo, o silêncio constrange, o silêncio é espermatozóide em sentido contrário do ultero, o silêncio é nadar contra uma correnteza de porras.
E Davi, que me chama de farizeu, Davi é um eremita, adapto ao silêncio e a solidão da sua casa quarto e sala. Davi ouve boas musicas e é peso morto, frio. Com ele sabemos a hora de ir embora... é quando o silêncio reina.

O meu material dramático eu procuro em catálogos de telefonia, até tudo ficar cacafônico e sem ritmo nenhum, o meu romance burlesco e o seu enrredo, antigamente eu rebanhava contos até alguém me dizer que o que eu escrevia não era contos, mas mensagens cifradas e grifadas mentalmente.

Vou fazer das pessoas uso da zootecnia, o meu cercado, a forma que eu expremo a sociedade e a forma que a sociedade me dá um bom caldo. Para quê usar a cabeça se a gente pode folhear os catálogos? Ou prestar atenção numa conversa alheia. Tem fermata melhor que a vida dos outros? Tantos imbecis, tantos interesses, tanta vida conjunta, uma plantação de ervas daninhas. Vigiar o ser humano e toma-lo como interesse é como vigiar plantações de canssanção. Não existe nincho mais vulgar como o ser humano, de corpo, alma e aparência como a minha.

A Caballa disse para Gina que ela iria morrer aos quarenta, assassinada e ao meu lado na hora da morte, eu teria 27 anos e sabe-se lá Deus como estaria, na verdade tenho uma dose de noção. Arrisco um palpite.
Um orgulhoso artista plástico fodido que se apoia no emblema "diletante" para está sempre com o seu fora da reta. Uma pessoa farta, de conjecturas pouco óbvias.
Assim, lendo sua carta, te liguei e fiz me prometer que diria as ultimas palavras no meu ouvido, o último suspiro eu daria aos porcos, como se fosse perólas, mas as últimas palavras eu fazia questão, como se fosse perólas.
Havia um pouco de escárnio no meu uísque, lógico, bailarina desalmada que me serviu, gosta de ver meu pior.
O que dizer da Caballa, ora porra?

Acho uma tremenda baboseira, se querem saber. Perda de tempo. Um mais neurótico daria um tiro na cabeça só para provar que a Caballa estava errada. É a minha dúvida contra a certeza da Caballa, e ela tem amuletas, se apoia no jogo magnifico de acertar e querer saber. Mas vejam bem, existem videos nítidos e reais de ovnis, enormes espaçonaves voando pelo céu da China e gravadas por filmadoras amadoras. O que dizer disso?
Qorpo Santo é mesmo um santo, inventou sua própria linguagem, certo fez ele e Santos Dumont que progrediu o astuto Ícaro_ que voou e se estabacou como qualquer pessoa de gravidade, como eu e como a galinha.

Primeiro, terei 27 anos, nove anos se passariam a léguas e eu estaria provavelmente são, sempre penso muito longe, não simulo aproximação, o meu destino é se perder, por enquanto eu perco as coisas, mas o meu destino é se perder por aí. Passaria nove anos mantendo contato com Gina? aquela bruxa amarela... Passaria se fosse preciso, como parece que foi, como parece que será.

Segundo, como uma pessoa como eu; uma vitamina de Al Pacino, Bob Peru, Alex Delarge e tio Patinhas não mataria Gina? Porque eu estaria numa cena de um crime sem ser eu a vitima, mas também sem ser o homicida? Um biombo, eu seria. Um coadjuvante que recebe o pagamento no fim de cada mês. Ficarei milionário, se querem saber, pisarei na armadilha da herança pessoal, e as ultimas palavras no ouvido serão como senhas para os rubis, para o caminho das pedras, até chegar ao exato momento de espatifar a cabeça em uma.

Terceiro e ultimo palpite, quem mataria Gina Maia? Eu sempre achei que Gina tinha um arquétipo trágico, com seus olhos de mangar, zomba de voce sem nem dizer um ai, o olhar faz tudo para algumas pessoas e Gina é uma delas_ assim como eu.

Quem mataria Gina seria Ney, seu ex-pisicótico marido. Dois tiros performáticos no peito e eu como coadjuvante.

É mais sensato esperar os nove anos se passarem para ter alguma razão, se eu não morrer de fome antes ou enlouquecer de emenda contarei tudo, lembrarei de có a ladainha.


Agora uma alegria. Estou sem televisão, isso aguça minha liberdade e aposenta a missa negra dos domingos, perco mais tempo comigo mesmo do que com um aparelho canceroso, leio Pitigrilli e um livro de história da 8° série e deformo com a minha pintura rules a janela do meu quarto. Nos canos do banheiro correm os ratos por limos e limos, passam por um quartinho de estante de cimento onde pousam meus livros e os materiais de limpeza. Um almoxerifado/biblioteca na vertical.


Não sei porque diabos ainda deixo a foto do meu... como dizer sem parecer lírico? affair. A passarinha Pinta Silva vingada por São Cosme e Damião e pelo pai que morre de desejos por ela. Ela me traiu e eu a trair, aqui estamos nós e lá continuam os outros, sob o mesmo sol.

Eu fui muitas vezes um sacana, e ela sempre me achou em suas projeções astrais, ela sabia que eu, de fato, não prestava.

Achei a tua foto, gostosa de lordose, aquela que você está vestida de preto e com a cara toda mordida de muriçoca, com uma boca como se fosse caquis latejantes de tão maduros, os seus olhos eram dua bolinhas hipnoticas, uma fôrma de fazer desejo, nesses olhos da fotografia eu vejo fogo-fatuo dançando em sua pupila, como se estivesse olhando para o fogo.


A fotografia tanto me seduz como seduziu o fotografo, porque era essa a intenção que se punhava posta. É apaixonante o olhar que te flerta, que te farpa.

Achei a tua foto, cabrunquinho. Achei-a dentro do livro do João Ubaldo Ribeiro, a Casa dos Budas ditosos, o livro que você me emprestou.

A foto da mulher que me traiu com um amigo porque tinha nescessidades carnais, uma vez que era ninfomaniaca me aguçou para ler o livro, o livro sobra a luxúria.

No meu delírio, vejo o João Ubaldo Ribeiro sentado em algum bar da Gávea ou Copacabana, tomando um uísque e ligando o gravador para falar putaria e preencher as lacunas do seu livro. Concordo quando disse que é mais fácil falar do que escrever sobre sexo, existem palavras que não foram adaptadas ao papel e virse-versa, existem coisas que só os Russos sabem explicar.

É uma linguagem chula, mas depois eu pensei; o que é mais chulo que a luxúria?

Invejo seu auto-conhecimento, sempre rezo para você se perder, as vezes eu noto o seu canssaço em escrever... aí você entope o seu livro de informações, de venenos sabidos e aprendidos por você ao longo de sua vida.

É fácil assim, assim eu teria um material razoável, suplemento suficiente para muitas histórias. Drama é que não falta, na verdade o que ta faltando é demagogia.

O Rubem Fonseca também bebe dessa fonte, se alimenta dessa técnica.

Ontem eu li copiosamente A casa dos Budas ditosos porque lembrei de você Pinta Silva, é bem verdade que peguei no sono e o sono me presentiou com um sonho, sonhei com o João Ubaldo Ribeiro dando o cu para mim enquanto datilografava.

Sonhei com umas ruas já vistas, entrava eu na casa de uma mulher a procura de alguma coisa, até que a dona da casa entrou em casa e se assustou ao me ver.

Quem era eu naquela luz lúgubre do corredor? O que eu estava fazendo em sua casa?

Pingos de chuva começaram a inudar minha testa...






Um comentário:

Gina Maia disse...

Eu quero esperar os nove anos pra ver com vc o meu proprio fim, depois quero estar como aquele cara de gosth que vê seu corpo estirado e imóvel e sua(no caso seu) acompanhante desesperada(o) por fazer alguma coisa, ah sei lá assim.
Muito bom,muito bom mesmo. adorei ex psicótico marido.