terça-feira, 17 de novembro de 2009

Acho que matei um cara...


Talvez ele não tenha morrido, senão a policia ja teria batido aqui em casa. Com certeza ele deve está em sua bela casa se convalescendo, cascavel eriçada na moita. O que difere a cascavel da cobra d´agua é apenas uma dose a mais de veneno.

Eu explico contando a história, vejam se eu não tive razão.

Meu tio que é serralheiro tinha um serviço para fazer numa casa em um bairro chamado Inocop, consertaria uma porta, e eu levei todo o equipamento nescessário para o ajuste de uma porta de chapa.

Defitivamente trabalhar com ferro e solda não é para mim, faço somente pelo dinheiro. Fico divagando com as ferramentas da oficina do meu tio, acho a serralheria um lugar perfeito para uma tortura sádica, e as torturas que eu imagino enquanto finjo trabalhar faria o Calígula chorar.

Geralmente vou mal vestido para o trampo, com camiseta de politicagem, eu estava com uma das antigas do PT que ganhei do meu amigo Lulista, não estava com a minha melhor aparência, confesso, todo sujo de graxa e zarcão. Acabamos o serviço e na saída um obreiro chama meu tio para fazer um orçamento na obra, e eu mais afastado fico sentado na calçado ouvindo rock no mp3, de frente para uma escola abandonada caindo aos pedaços.
Passa um homem na outra calçada, um homem de seus 37 anos, bem vestido com um pedaço de mármore na mão segurando com a ponto dos dedos, e eu pensando: "Coitado, deve ta se cagando todo.."

Depois, questão de alguns minutos, esse mesmo homem volta e atravessa a calçada já me interrogando.


"Você mora nesse bairro é?"


"Não."


"Ta sozinho aqui?"


"Não."


"Ta com quem?"


"Eu tô com meu tio."


"O que é que tem nesse saco?"


"Não é da sua conta."


"Como é que é?"


"Você é surdo? Não é da sua conta, não lhe diz respeito, não é de sua alçada."


"Mas você é muito ousado! Você sabe quem eu sou, seu moleque?"


"Não. Quem você pensa que é?"


"Eu sou da cívil. e eu quero ver o que é que tem nesse saco, quer que eu chame a viatura?"


"Pode chamar. Faça isso, chame a viatura!"


A essa altura o meu tio já havia se aproximado e explicava que estava comigo e que estavamos trabalhando, mas o homem estava puto da vida não sei com o quê, explicou aos berros que estava acontecendo uns arrombamentos no bairro e que ele era da cívil e que tinha todo o direito de saber o que tinha dentro do saco que eu estava na mão, e que eu era um insolente.


"Mas meu senhor, ele é meu sobrinho, o que tem dentro do saco é ferramentas, eu sou serralheiro, estavamos trabalhando naquela casa."

O meu tio, que tem ternura na veia pra dar e vender (quando sóbrio), complacente e benevolente explicava tudo e chegou até a apontar a casa. Mas o cara urrava tanto que suas veias do pescoço inchavam, o verborragico vomitava ultrajes e me xingava de viado pra baixo, e eu pensava: falar merda tudo bem, até mesmo papagaio... mas se tocar em mim o bicho vai pegar!


"Eu não quero saber de nada não meu irmão! Esse filho da puta me desrespeitou! Desrespeitou uma autoridade! Esse vagabundo sem educação!"


"Vagabundo? Eu estava justamente trabalhando, meu senhor! E sem educação aqui é você, eu só respeito quem me respeita, seu mané! Eu sabia lá que você era da cívil? E daí que vc é da cívil? Foda-se, meu pai também é, e daí? A rua é publica e a calçada é dos cães!..."


"Rafa, cala a boca... deixa quieto..." _ Mas o meu sangue já havia esquentado, e eu não estava nem um pouco afim de parecer com aqueles personas humilhados do Dostoievski, não dessa vez.


"Porra nenhuma tio, eu conheço meus direitos e o nome desse espetaculo é abuso de poder..."


"Cala a boca seu viado, seu corninho! Cale essa boca pra eu não arrebentar sua cara! fale aí mais alguma coisa, fale aí pra ver se eu não lhe quebro todo na porrada!"


Nesse momento ele estava muito próximo de mim, tão próximo que eu sentia ele arfando na minha cara, como um touro na arena. E eu inerte estava, imóvel fiquei. De certo modo me sentia preparado para empreitada física.


Meu tio mirou um pedaço de ripa no chão, disse cautelosamente:


"Olha, ele é de menor viu... ele tem 17 anos."


"E daí? Ele poderia ter 10, eu arrembentava ele e não iria dar em nada!"


"17 o caralho, eu tenho 19! Você pode me bater, aí a gente vê no que vai dar."


E ele me acertou um soco bem dado que eu cheguei a cair para trás me escorando na parede imunda da escola deteriorizada, sabe desenho animado que os passarinhos sobrevoam sua cabeça? Foi igual.
Mas foi só o tempo de voltar a sí, levantar do chão e ver o estrupicio comendo no centro, duas figuras bélicas se esmurrando. Meu tio e o valentão.
Sabe de uma coisa? Eu não sou desse tipo... eu não troco socos, não sou nenhum Muhamed Ali, ora porra! nenhum fera do street fighter. Eu apelo logo pra covardia.
Do mesmo modo que meu tio perdeu a ternura e a benevolência, ele perdeu o equilibrio e caiu, e o malvadão civil pau no frasco subiu em cima dele e esmurrou, isso tudo me constrageu a acertar uma martelada na região da cara dele (como um taco de beisebol), não sei bem onde, foi tudo muito efêmero como todas as brigas são. Só sei que ele se estrebuchou no chão.
E quando meu tio e eu partimos na velocidade da fuga, ele já sangrava e muito. E quando a filha dele chorava aos prantos "Acode aqui, acode aqui!" eu já estava há meia duzia de distancia do ocorrido.


Agora vivo apavorado toda vez que batem no portão aqui de casa. E se eu for preso?
*****


Por falar em morte...

A minha vizinha se matou na semana passada, enforcada. Alguns minutos antes do filho chegar do trabalho. Quando o filho chegou encontrou a mãe pendura no telhado toda roxa, e a avó dele no quarto falando sem parar, sabe-se lá desde que horas. A avó dele é maluca, e ela fala o tempo inteiro sem parar, por isso sempre entopem ela de ansioliticos para dormir e aquetar o faixo.

Mas a vizinha não se matou por causa da velha, ela tinha uma auto - imagem distante da realidade, não suportava o fato de morar numa casinha dos fundos. E também porque devia aos potes, só a um cigano ela devia 15 mil reais. E todos sabem que ciganos são os piores agiotas e credores que existe. Esses matam como quem bebe água.


Advinha pra quem a vizinha pediu a escada emprestado?
Oh meu deus, hoje eu choro tanto quanto a Helena da novela...

Um comentário:

center bach disse...

sou cheia de ternura também... :)
e se for preso, vai fazer rimas que nem mano brown, rs