terça-feira, 19 de agosto de 2008

Malt Nojenta.


Beber ou correr.

O assalto


Tem nicho de inspiração melhor do que a vida dos outros?
Dois fatos estranhos me ocorreram outro dia, estranho e ordinário devo dizer. Ser assaltado e assaltar é um fato que ocorre todos os dias com milhares de pessoas. E eu não estou livre de nada.
Desci uma ladeira monstruosa e fui dar no ponto de ônibus, sentei-me num banco vazio afastado de algumas pessoas que ali estavam. Um sujeito cadavérico, de pés descalços e imundos sentou-se ao meu lado, e após sentar-se eu percebi o saco plástico em sua cabeça, no meio de nós dois havia uma marmita ainda quente, uma marmita insossa que foi me dada pelo socialista do congresso que eu estava de gaiato, o homem cadavérico me pediu a marmita e eu dei sem hesitar, não estava com fome, tenho um dedo sujo de um bóia-fria, e como em qualquer lugar.
Minha linha de montagem difere, sou defeituoso e cresci errado como aqueles melões quadrados do Japão.
Dormi durante toda a palestra do congresso do UJS (União da Juventude Socialista) e não berrei em coro com os demais a letra sucumbida de Raul “Viva! Viva! Viva a sociedade socialista! E comunista!”.
Não foi descaso, nem é recalque, só não me via cantando daquele jeito às oito horas da manhã, quando na noite passada eu fui dormir as quedas, as seis.
Mais tarde, com a chegada do lusco-fusco e a escuridão que destacava a lua, corri para o ponto de ônibus para um som no Rio Vermelho, e para ser mais rápido atravessei a fila da marmita gritando “Acabou? Socializa porra!” e ganhei uma marmita, ora vejam só!
Três dias comendo aquela comida sempre igual, com muita sorte você pegava um filé de frango de vez em quando e pouco arroz e mais feijão, o que fazia espumar minha boca na verdade era o doce de banana, que era obviamente, comprada no supermercado mais próximo.
Voltando ao ponto e ao homem cadavérico que comeu, arrotou e ainda disse que a comida estava sem sal, lembrou-se do hospital, a comida era igualzinha, ele me disse e ainda acrescentou:
-Refeitório penitenciário, comida de hospital e orfanatos é tudo a mesma bosta!
Ele gostou da minha sandália, tocou no meu pé, resmungava, a abstinência era descrita nas mãos que não parava de esticar um elástico amarelo, para lá e para cá, tirou de sua trouxa uma garrafa de pinga, pela metade. Sorvia aos goles, depois batia com força no banco como uma pedra de dominó num tabuleiro.
Disse que iria pegar o primeiro ônibus que passasse, para qualquer lugar.
Eu e meu cacoete de não saber a hora certa de dar o fora, eu espero para ver. Sou bastante inocente até certo ponto, tenho um coração bom e cafona.
Ele se aproximou de mim a ponto de me fazer ficar mais esperto, ficou perto demais e me fitou olhando nos meus olhos, num estratagema de me distrair enquanto sua mão trabalhava nos bolsos à caçadora, do meu moletom aberto, foi falando que era HIV soropositivo enquanto sua mão ia para dar com o meu bolso, eu notei e olhei depressa.
Havia uma faca sem cabo posta na minha cintura. E ele sussurrou para eu ficar quietinho.
O susto me fez levantar depressa, e ele me segurou na ponta do casaco. Puxei com força e fui para o canto, perto das poucas pessoas dali. Ninguém desconfiava de nada, e eu morria de medo. Ele blasfemou e me mandou voltar, disse que não iria perder essa grana pra mim, fez do modo como se eu tivesse o roubado!
Olhei a monstruosa ladeira inclinada e pensei em voltar pianinho, correr dali. Mas pareceu que ele leu meus pensamentos ou pôde ouvir as batidas do meu coração e disse:
-Nem pense em sair daqui! Eu vou atrás de você onde for! Hoje vai ter sangue no asfalto! Hoje vai ter presunto! _Dizia isso raspando a faca no banco, sem pudor.
As pessoas em volta de mim não me passavam nenhuma confiança, estavam todos nem aí para mim, o máximo que iriam fazer era se afastar e gritar. Na ultima das hipóteses, chamar a policia, não havia policia por perto. E eu não tinha celular.
Ele se aproximou de mim com a sua trouxa e sua garrafa de pinga. Dei três passos para trás.
Ele me pediu dois reais. Mandei-o se foder, disse que já tinha dado a marmita para ele!
Ele sem mais delongas me atirou com fúria a garrafa de pinga, esquivei minha cabeçorra junto com todo meu corpo, quase me jogando ao chão, e a garrafa destinada a minha cabeça se espatifou em inúmeros vidrinhos na cabeça de alguém na pista de baixo. Um grito de dor ecoou, a senhora lá embaixo permaneceu em estado de síncope, e uma moça aflita começou a gritar desesperada, víamos tudo do viaduto de cima, o malandro aidético fugiu as pressas, quase correndo. Um homem, provavelmente o que acompanhava a mulher e a senhora tentou alcança-lo subindo correndo pista a cima, um torvelinho de gente se aglomerou em volta da senhora caída no chão em volta da poça de sangue.
E eu peguei_ completamente atônito. O primeiro ônibus que passou ainda ouvindo o alarido, do lugar com janela onde eu me encontrava.
Sem duvida
Havia sangue no asfalto e profecia na memória.


Outro dia me ocorreu outra faceta interessante.
Sempre, sempre os desmazelados da vida, os mendigos, as ralés.
Um amigo tocava violão num banco de praça, para um velho pinguço de trouxa obesa na mão, um velho de cara atarracada e cabelo até a nuca.
Um sujeito feio com um boné velho e russado na cabeça, um boné que eu prestei atenção à data de fabricação, e era de 1907. Deveria ter sido do seu tataravô. Ele era um gentil.
Esse meu amigo me chamou e me fez ficar para ouvir algumas musicas que ele compôs. O velho afetuoso do seu modo agreste, logo me fez sentar do seu lado, afastou a trouxa obesa e disse que ele era muito louco, mas que era da paz.
Me chamava de Harry. Me ofereceu sua comida. Macarrão sem molho, feijão, arroz, farinha e um pedaço de bife.
“Não, fique a vontade.” Eu disse.
O velho, que era conhecido como Coelho, se mostrou emocionado com as canções tocadas pelo violonista. Até lacrimejou. O abraçava com fervor, dava cascudinhos e conselhos. Volta e meia olhava pra mim.
-Fume Harry. Aqui é bicho doido, mas sou da paz! Fume Harry, fume! Daqui a pouco eu vou trazer um black and roll pra nós, ta ligado? O velho aqui consegue! E traz! Bota fé?
Nem esperou abrir minha boca, falou da mulher do hippie que estava na roda de viola, a chamou de feia e gorda, que ele merecia mulher mais bonita, que se ele fosse esse cara teria vergonha de estar com ela.
Na hora não entendi direito o infame porque não estava prestando atenção nele, equivoquei-me achando que ele falou que o hippie chamado Max tinha vergonha de comer no prato dele, e eu interpelei_ não em defesa das causas sentimentais e ideológicas de um hippie chamado Max, como se eu o conhecesse o bastante para saber se tinha ou não tinha nojo de comer no mesmo garfo que pousou os dentes podres e cariados de um velho pinguço, tão pouco ainda interpelei para aquebrantar o coração exausto de um judeu liquidado e assim fazê-lo sentir-se um ser humano limpo como quase todos os outros.
Não meus senhores, nada disso, não sou tão altruísta assim, disse e interpelo porque não suporto a soberba que o silêncio produz em situação dramática, disse porque no fundo não queria ser aquele que estava por fora, disse porque alguém teria que ter algo a dizer no final, disse isso para que pudessemos evoluir e não ser-mos liquidados pelos pensamentos, disse e interpelo porque para ganhar bônus eu tinha que ser um hipócrita.
Eu disse: Que porra de vergonha nenhuma, rapaz!
Ele me olhou assustado!
-Entenda Harry... Não to falando mal de ninguém não. Mas que ela é parece uma mongol parece sim.
Tive tempo de entender e ainda dizer.
-Eles se gostam, é isso que importa. Quem é você pra falar nada? Você não é nenhum exemplo de beleza.
-Eu sou feio, e sou gente boa, Harry. Só não sou menina, boneca. Eu gosto de mulher, ta ligado? Fique na sua.
-Isso tudo bem, o x da questão talvez, é saber se elas gostam de você.

O violonista da roda_ Dizem as más língua, anda meio pirado pelo thc, ele disse a mim fervoroso que via mais Jesus Cristo nesse mendigo do que em qualquer pastor, ou padre. _quando esse se retirou da roda para fazer qualquer coisa.
Disse que ele tinha um coração bom, e que Jesus às vezes se manifestava em mendigos e desmazelados nos minadouros e coretos de cidades pacatas.
Não sei não.
Se esse velho infame era Jesus Cristo, o Diabo sou eu.
Esperto demais, vivido demais, desconfiado demais. Tinha labuta, era um alcoólatra. Apenas afeiçou-se a ele com disposição. E nada mais. Isso não queria dizer que ele era uma pessoa boa, ele não era uma pessoa boa porque me ofereceu sua gororoba e afastou sua trouxa obesa para me sentar.
Quando o velho Coelho me pediu o favor de comprar uma pinga para a roda beber, ele agarrou no meu pescoço disfarçando um abraço e falou só para que eu possa ouvir.
-Veja lá, eu não sou idiota seu maricas, nunca abrace alguém como eu, cuidado com injeção no pescoço! Sacou Harry? Você é gente boa! Ce ta ligado, cê não é menino!
Vá lá! Vá lá trazer a cachaça pra gente beber!
Fingir não entender e fui buscar a água ardente com o dinheiro do velho.
O bobo da corte busca a água ardente para a roda; roda essa em que ele era a mão. Depara-se com a bodega fechada, pensa em voltar e lembra da injeção, era dia de maldade e por isso não volta, leva consigo o dinheiro do mendigo.
Saí à francesa antes da ultima sincopada triste do meu amigo violonista e dos fatos seguintes.
Não queria eu ser aquele que estava lá para contar.
O tanto que eu já sabia estava de muito bom tamanho.
Com a bufunfa catada do velho comprei uma promoção a preço módico.

Lyrismos dos bêbedos


Escalda-pés de repente só servem para os príncipes, para mim não funciona. Muita coisa tem acontecido e eu gosto dessa evolução, porque tudo no fundo evolui, eu acompanho sem entender a piada que eu não ri, num palco vagabundo. Absurdo. Displicente.

Eu seria cínico se_de alguma forma, me levasse a sério. E me fizesse de vitima, palco menor já dei vexame, me atirei à esbórnia de uma forma direta e vagabunda, perco o brio. Perco a vontade.
Três dias bêbedo, seguido. Porres horrorosos, bebedeiras homéricas, dilúvios, eu fico mais forte e ninguém consegue me segurar. Eu ganho mais força. Força de vontade, de estar ali, no meio de tantos alis e caboclos.
Para dormir é um sufoco, é uma luta, eu não quero dormir, eu gosto do estrago, fumo a bagana de tudo que me rodeia, enquanto no meu universo só há um copo de champanhe, e ninguém se importa.
De fato.
Quando eu penso na Ana C. eu tenho arrepios, algo nela me faz delirar, no seu rosto, na sua forma de olhar, ela é triste, ela tem o requinte da tristeza.
E eu sei o que é isso. Corremos sempre o risco de virar patéticos, como a Virginia Woolf, a Ana C., me lembro bem, era louca, e escrevia poemas, ouvia Maysa e chorava quase sempre de alegria. Eu, como todo mundo corremos risco de enlouquecer, sabe, de perder o jogo de cintura e jogar o pano, e eu tenho todos os ingredientes para isso, sou dado fácil a esse fator.
Eu sempre dizia para tal rapaz incrível, crivo que ele me traiu, mas isso não é para agora.
“Temos que tomar cuidado para não enlouquecer.”
Eu não lembro o que ele me dizia, era uma praga que ele já esperava me ouvir falar, infortúnio, diabos, inferno, tudo isso eu falo. A Ana C. falava também.
Eu to meio podre, seus perversos. Cheio de feridas, na verdade isso é corpo remoso, no melhor das palavras, às vezes eu penso que o meu corpo é movido de pus. Os meus dois joelhos estão esfolados por quedas ébrias e ainda não sarou, é meio ridículo joelho esfolado, todo mundo imagina a queda, tudo dói.
Ah, a dor é uma ilusão.
A dor é uma ilusão.
Que mal há ficar em casa e ouvir Maysa todas as noites, quando você prefere não sair? Nada no fundo te agrada, e sua casa é seu conforto, ta na rua é correr riscos, riscos necessário.
O meu pé quer explodir, o meu pé parece com um coração bombeando movida a um choque, eu posso brincar com o sangue que se acumula nas veias do meu pé, um inchaço. A dor é inexplicável, esqueça, indescritível.
Nunca saberão aqueles que nunca sentir o seu pé querendo explodir.
É logo no calcanhar, e eu posso sentir um formigamentozinho do pus borbulhando como um vulcão, eu sinto o sangue correr.
Tudo culpa de um espinho.
-Pode ter sido cravo. Pode ter sido vidro também.
-Porque você é tão trágica? Porque você não me diz que pode ter sido um espinho?
-Vamos ver... Do jeito que está_ arrudiou-me observando meu pé parado como uma natureza morta. Daqui há algumas horas seu pé vai ficar preto com o sangue coagulado. Não! Melhor, vai ser quando você acordar, o estado do seu pé te fará chorar, sabia?
-Você nem imagina a dor que eu to sentido, eu sinto que o meu pé pode explodir a qualquer momento, como uma fruta madura. Já pensou?
Tirou um cigarro do bolso e pôs na boca, não quis me olhar. Apenas disse, quase de repente:
-Você precisa fazer um corte.
-O que você disse?
-Um corte.
-Corte?
-Eu imagino a dor que você esta sentindo, é como ter bicho-de-pé, e é horrível, você só precisa aliviar um pouco do seu sangue. Me diz se não te tenta ver todo um sangue preso correr livre como um corte, aliviando aos poucos até passar a dor. Me diz?
-Isso não vai dar certo, isso vai foder com meu pé, com a sorte que eu tenho eu vou ter uma hemorragia, e com o corpo remoso de tanto ovo e josefina que eu como, vai se tornar uma creca lendária.
Pude ver ela rir, da cozinha. Se encostar na geladeira fria e beber um pouco de vodca, pensativa.
A três passos que eu dava eu ia no inferno e voltava, doía muito, não conseguia nem andar.
Por hora, o manco, o coxo, o aleijadinho.
O bêbedo.
A chacota da rua.
Ela veio até a mim, e com a mão na minha cintura me fez sentir o aroma inebriante da cachaça. Beijou-me e pegou no meu pau.
Mas o pé ainda era meu, e doía senhores, e como doía.

Errrrr


.Ando sem agulhas para tricôs, definitivamente sem veia para ternuras.
Seco, do tipo que aperta a cabeça alheia contra o meu sexo com os espalmar da mão até o sufoco uó.
A poesia comigo só funciona do tipo intravenosa e espalhafatosa, do sentido desordeiro da palavra. Sou da escola do Leminski.
Vai saber o decorrer, o que me agrada é me esbaldar em benefícios.
Falta tanto. Tato, rima, dor, verdade. Filtrar a lufa-lufa constante na minha cabeça em jogo limpo de verdades ou blefes. Tanto faz se você souber blefar.
E blefes para contar senhores, eu tenho de sobejos.
Se for de classificar, se for para difamar mesmo, que eu mesmo me classifique. Um belchior das palavras, um gari de objetos souvenires.
O observador oriundo dos sub-dramas particulares, o que não me contam eu invento. E se eu invento é porque eu gosto de você.

Devaneio.


Desde que saí do útero da minha legitima materna e fui para essa estação beligerante de pessoas supra-humanas, tornei-me traiçoeiramente ativo.
Lembro que da segunda à quarta série, em pecinhas teatrais eu era sempre o príncipe encantado, depois passei a ser o personagem maconheiro das peças em gerais, todas iguais, todas aflitas.
Não que eu seja muito bonito, de fato não é isso, eu só era o menos feio da turma. O tímido espalhafatoso.
Há muito tempo deixei de escrever contos aqui, enjoei serio dos personas da minha série. _ Série essa que eu abdiquei em prol do meu ócio criativo, pensei uma vez num estado de revolta e sarcasmo em metê-los todos num avião da Tam e manda-los para o céu. Não que eles não sejam benquistos por mim, até havia certa feição quando eu tinha minha puta e os meus olhos de Buddy Holly.
Mas perdi como perco tudo.
Saudade daquela vidinha boa, do meu cão Demolidor que fugiu e nunca mais voltou, que fugiu para morrer em paz, saudade dos meus pais juntos, dos cozidos domingueiros, com muita verdura, com muita carne e lingüiça, da mamãe pedindo para eu comer verdura.
Hoje eu faço um macarrão comível e quase sempre como miojo. Mamãe longe, papai também. Vestibular na porta.
Frito na cama até confundir o tic-tac lento do relógio com a inchada do carpinteiro, e quase pegar no sono, tic-tac e eu acordo, e percebo o sol das seis da manhã esmurrando a janela, entrando por onde pode, por frestas sorrateiras do meu subconsciente.
Fico pensando até ser devorado pelos mais mirabolante sonhos, eu adoro sonhar quando durmo, já escrevi uma poesia sensacional de olhos cerrados e na mais profunda das apatias.
A ultima foi dois cidadãos desconhecidos que viajava no mesmo zeppelin que eu, e eles escreviam e falavam coisas fantásticas, que se encaixariam como luva na mão espadaúda do meu romance. De nada mais me lembro.
Quando acordo só restam os fragmentos de um sonho e a pena. E o mau-humor matutino, como é de lei.
Não tenho do que me queixar iaiá, sou seu escravo e serei para toda vida.

sábado, 2 de agosto de 2008

Bosta


Pra quem tá na merda, e ainda assim, insiste em dançar.

Carla Perez em: Cinderela Baiana.



De boas atrizes os inferninhos estão cheios.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Sua vida termina aos 40.


Irreversível. Tudo será repartido, ainda dura o sabor doce dos primeiros meses, meses que não se tem para onde correr, e que palavras como partilha dividas e credores virarão clichês.


Quando fui embora assinei um tratado de barganha, e ainda terei que devolver as expectativas, pois elas não são minhas, como discos que me emprestam.


Ao menos engordei um pouco _o que era de esperar. Você come um prato de feijão com arroz cotidiano rezando quando só se empaturrava de ovos e fritos e josefina todos os dias.


Defendo a formidável idéia de que não se deve confundir casa com lar, mãe com pai. O meu quarto se adaptou a mim, as minhas meias, ao meu chulé. É ainda menor que o outro, mas all right.


Meu pai foi embora, o meu cachorro morreu e os meus amigos não mais me lambem, perco minha carteira de identidade todos os dias.

Hoje de manhã, enquanto dormia, uma poça d´agua era acumulada na minha testa, no apógeu do meu sono, mecanicamente _ como se tange uma mosca. eu limpava meu rosto e voltava dormir. Até que somente a tarde eu pude perceber uma brecha no telhado, como se o telhado fosse uma arcada dentária e os dentes fossem telhas afastadas, como os dentes de todas as mulheres falsas.

Maldita brecha que encara a minha testa e abre alas a pingos de chuva que sapicam meu rosto.
Um homem deflorou o rosto de sua mulher na linha do trem hoje, para quem nessa cidade coleciona crimes; ganhou mais um. E ela ficou na linha do trem dura e pávida como a estátua derrubada de Stálin.

Há uma pessoa que eu costumo visitar, o nome dele é Davi, eu o visito e sempre fumamos um bec. Davi mora numa casa quarto e sala, e um banheiro que mal o cabe.
O silêncio reina, o silêncio _de fato, me constrange. Porque o silêncio vai de contra a tudo aquilo que é fluxo, o silêncio constrange, o silêncio é espermatozóide em sentido contrário do ultero, o silêncio é nadar contra uma correnteza de porras.
E Davi, que me chama de farizeu, Davi é um eremita, adapto ao silêncio e a solidão da sua casa quarto e sala. Davi ouve boas musicas e é peso morto, frio. Com ele sabemos a hora de ir embora... é quando o silêncio reina.

O meu material dramático eu procuro em catálogos de telefonia, até tudo ficar cacafônico e sem ritmo nenhum, o meu romance burlesco e o seu enrredo, antigamente eu rebanhava contos até alguém me dizer que o que eu escrevia não era contos, mas mensagens cifradas e grifadas mentalmente.

Vou fazer das pessoas uso da zootecnia, o meu cercado, a forma que eu expremo a sociedade e a forma que a sociedade me dá um bom caldo. Para quê usar a cabeça se a gente pode folhear os catálogos? Ou prestar atenção numa conversa alheia. Tem fermata melhor que a vida dos outros? Tantos imbecis, tantos interesses, tanta vida conjunta, uma plantação de ervas daninhas. Vigiar o ser humano e toma-lo como interesse é como vigiar plantações de canssanção. Não existe nincho mais vulgar como o ser humano, de corpo, alma e aparência como a minha.

A Caballa disse para Gina que ela iria morrer aos quarenta, assassinada e ao meu lado na hora da morte, eu teria 27 anos e sabe-se lá Deus como estaria, na verdade tenho uma dose de noção. Arrisco um palpite.
Um orgulhoso artista plástico fodido que se apoia no emblema "diletante" para está sempre com o seu fora da reta. Uma pessoa farta, de conjecturas pouco óbvias.
Assim, lendo sua carta, te liguei e fiz me prometer que diria as ultimas palavras no meu ouvido, o último suspiro eu daria aos porcos, como se fosse perólas, mas as últimas palavras eu fazia questão, como se fosse perólas.
Havia um pouco de escárnio no meu uísque, lógico, bailarina desalmada que me serviu, gosta de ver meu pior.
O que dizer da Caballa, ora porra?

Acho uma tremenda baboseira, se querem saber. Perda de tempo. Um mais neurótico daria um tiro na cabeça só para provar que a Caballa estava errada. É a minha dúvida contra a certeza da Caballa, e ela tem amuletas, se apoia no jogo magnifico de acertar e querer saber. Mas vejam bem, existem videos nítidos e reais de ovnis, enormes espaçonaves voando pelo céu da China e gravadas por filmadoras amadoras. O que dizer disso?
Qorpo Santo é mesmo um santo, inventou sua própria linguagem, certo fez ele e Santos Dumont que progrediu o astuto Ícaro_ que voou e se estabacou como qualquer pessoa de gravidade, como eu e como a galinha.

Primeiro, terei 27 anos, nove anos se passariam a léguas e eu estaria provavelmente são, sempre penso muito longe, não simulo aproximação, o meu destino é se perder, por enquanto eu perco as coisas, mas o meu destino é se perder por aí. Passaria nove anos mantendo contato com Gina? aquela bruxa amarela... Passaria se fosse preciso, como parece que foi, como parece que será.

Segundo, como uma pessoa como eu; uma vitamina de Al Pacino, Bob Peru, Alex Delarge e tio Patinhas não mataria Gina? Porque eu estaria numa cena de um crime sem ser eu a vitima, mas também sem ser o homicida? Um biombo, eu seria. Um coadjuvante que recebe o pagamento no fim de cada mês. Ficarei milionário, se querem saber, pisarei na armadilha da herança pessoal, e as ultimas palavras no ouvido serão como senhas para os rubis, para o caminho das pedras, até chegar ao exato momento de espatifar a cabeça em uma.

Terceiro e ultimo palpite, quem mataria Gina Maia? Eu sempre achei que Gina tinha um arquétipo trágico, com seus olhos de mangar, zomba de voce sem nem dizer um ai, o olhar faz tudo para algumas pessoas e Gina é uma delas_ assim como eu.

Quem mataria Gina seria Ney, seu ex-pisicótico marido. Dois tiros performáticos no peito e eu como coadjuvante.

É mais sensato esperar os nove anos se passarem para ter alguma razão, se eu não morrer de fome antes ou enlouquecer de emenda contarei tudo, lembrarei de có a ladainha.


Agora uma alegria. Estou sem televisão, isso aguça minha liberdade e aposenta a missa negra dos domingos, perco mais tempo comigo mesmo do que com um aparelho canceroso, leio Pitigrilli e um livro de história da 8° série e deformo com a minha pintura rules a janela do meu quarto. Nos canos do banheiro correm os ratos por limos e limos, passam por um quartinho de estante de cimento onde pousam meus livros e os materiais de limpeza. Um almoxerifado/biblioteca na vertical.


Não sei porque diabos ainda deixo a foto do meu... como dizer sem parecer lírico? affair. A passarinha Pinta Silva vingada por São Cosme e Damião e pelo pai que morre de desejos por ela. Ela me traiu e eu a trair, aqui estamos nós e lá continuam os outros, sob o mesmo sol.

Eu fui muitas vezes um sacana, e ela sempre me achou em suas projeções astrais, ela sabia que eu, de fato, não prestava.

Achei a tua foto, gostosa de lordose, aquela que você está vestida de preto e com a cara toda mordida de muriçoca, com uma boca como se fosse caquis latejantes de tão maduros, os seus olhos eram dua bolinhas hipnoticas, uma fôrma de fazer desejo, nesses olhos da fotografia eu vejo fogo-fatuo dançando em sua pupila, como se estivesse olhando para o fogo.


A fotografia tanto me seduz como seduziu o fotografo, porque era essa a intenção que se punhava posta. É apaixonante o olhar que te flerta, que te farpa.

Achei a tua foto, cabrunquinho. Achei-a dentro do livro do João Ubaldo Ribeiro, a Casa dos Budas ditosos, o livro que você me emprestou.

A foto da mulher que me traiu com um amigo porque tinha nescessidades carnais, uma vez que era ninfomaniaca me aguçou para ler o livro, o livro sobra a luxúria.

No meu delírio, vejo o João Ubaldo Ribeiro sentado em algum bar da Gávea ou Copacabana, tomando um uísque e ligando o gravador para falar putaria e preencher as lacunas do seu livro. Concordo quando disse que é mais fácil falar do que escrever sobre sexo, existem palavras que não foram adaptadas ao papel e virse-versa, existem coisas que só os Russos sabem explicar.

É uma linguagem chula, mas depois eu pensei; o que é mais chulo que a luxúria?

Invejo seu auto-conhecimento, sempre rezo para você se perder, as vezes eu noto o seu canssaço em escrever... aí você entope o seu livro de informações, de venenos sabidos e aprendidos por você ao longo de sua vida.

É fácil assim, assim eu teria um material razoável, suplemento suficiente para muitas histórias. Drama é que não falta, na verdade o que ta faltando é demagogia.

O Rubem Fonseca também bebe dessa fonte, se alimenta dessa técnica.

Ontem eu li copiosamente A casa dos Budas ditosos porque lembrei de você Pinta Silva, é bem verdade que peguei no sono e o sono me presentiou com um sonho, sonhei com o João Ubaldo Ribeiro dando o cu para mim enquanto datilografava.

Sonhei com umas ruas já vistas, entrava eu na casa de uma mulher a procura de alguma coisa, até que a dona da casa entrou em casa e se assustou ao me ver.

Quem era eu naquela luz lúgubre do corredor? O que eu estava fazendo em sua casa?

Pingos de chuva começaram a inudar minha testa...






1966


Dante tinha razão.







A vida é mesmo assim.

Elke Maravilha antes:
Elke Maravilha depois.


"O tempo passa, o tempo voa, e a poupança Bamerindus continua numa boa.

É a poupança Bamerindus!"

A Bamerindus faliu.
E a beleza é efêmera.







Um doce:

"chupei many picas, but managed to many roles."



Marylin Monrroe.

Da série: Eu sei o que vocês fizeram nos anos 70.

Regina Duarte.



Não é mesmo, minha gente?

Notas subterrâneas.

Um olho justaposto à agua, por exemplo, cria a idéia de choro.
***
Pat Cleveland



Mas bonita do que a Linda Evangelista.


***

Manual de Boas Maneiras

O lobo mau da Italia te ensina




***

Cresci errado
Como as melancias quadradas do Japão.



***



Em tempo de vacas magras...



É das massarandubas que nasce o sustento.



***