segunda-feira, 7 de julho de 2008

A fase azul


Eu detesto grandes mudanças, não me dou bem com a adptação.

Não que eu seja mediocre, nem uma pessoa dificil de se lidar. Só não procuro sarna pra me coçar, o que é uma ironia literária, pois eu peguei sarna, uma sarna muito virulenta.

mas depois eu conto sobre isso. De como eu me coçava sem pudor, como um pobre europeu que se coça como chimpanzé.

Depois, depois, depois que eu me estabilizar de vez, eu conto da vez que eu fui assaltado e da vez que eu assaltei.

Conto sobre o mais novo casal que eu fiz amizade e que pretendo come-los, juntos, e depois separadamente para distinguir o gosto. numa ménage à trois bem discarada e regada a champanhe.

Conto da vez que fui possuido pelo exu tranca-rua numa festa de caboclo e que fiquei pedindo cocaína para umas velhinhas a margem de toda candura.

Conto também das minhas bebedeiras diluvianas, e das minhas quedas e do meu dente quebrado e de tudo que me deixe mais baixo que um chão.

Não há nada para esconder quando nem eu mesmo tenho vergonha do que faço e quando eu não passo de um rapinante.

Na verdade, depois de ser por muito tempo telespectador inocente de muito baboseira alheia e de muita merda dos outros, eu resolvir ser telespectador das minhas próprias sandices.

Ora, o chão está aí para todos e a gravidade ainda é algo que ajuda.

Não me arrependo das merdas que fiz, e todo mundo me odeia porque não me levo a sério, eu faço troça da situação ridicula que me encontro.

Quando os parentes souberam que eu viria, esconderam todas as bebidas da casa. Não tenho problema com bebidas, mas imagem é tudo e fica encrostada que nem sarna, como percevejos em papel parede. E o que eu posso fazer quando no meio de toda essa lama eu prefira optar por um cambuí ou por um conhaque de alcatrão?

Não farei de novo, não terá um Vale a pena ver de novo, quem viu viu, quem não viu perdeu de erguer apetroches contra um moço como eu, porque não terá replay tão cedo. Fiquei cheio disso, sabe? Cheguei ao limite da resistência.


Mudei-me para uma cidade grande, nova casa, novo rumo. Me sinto meio apreensivo com tudo isso. Sou um animal, um bicho-do-mato, e se não gostasse tanto de dinheiro seria um completo selvagem, as pessoas me intimidam com as suas carapuças, os prédios me intimidam pela sua altura, e eu tô sempre desconsertando a cena toda, as pessoas, elas me olham de soslaio.

As pessoas que me encaram eu devoro-os como um canibal.

Porque daqui para frente será assim, andei poupando meu coro, minha voz, mais do que nunca hoje eu quero as novas experiências, sou todo da sandice.

Mil vezes devassidões! Mil vezes boêmia! Mil vezes ao sexo!
Essa é um cidade mista, uma cidade de pessoas peversas, de pessoas surtadas. Os crimes dessa cidade é fantastico de acreditar. Aqui é até comum em certos lugares encontrar pelo caminho olhos e linguas, cadaveres imersos em esgotos_ passagem para a boca.) Crânio multilado como um bife cru por martelo operário, mulheres a ponto histérico que matam seus maridos a facada.
Certa vez presenciei uma mulher que aparentava ter seus trinta e poucos anos se jogar do alto de uma passarela e se espatifar em cima de um ônibus que passava por baixo. No ônibus estava escrito "Deus é fiel."
A pobre infeliz, até onde eu sei, não morreu. Mas teve danos dolorosos.
A citada suicida frustada, que agora vai ter que encarar a familia e o mundo como um vegetal.
Para morar aqui nem é preciso ter culhões, você tem que ser mesmo é castrado, obediente ao horário.
E no meio dessa realidade sufocante, de pessoas que não se olham_ a não ser para se desejarem uns aos outros. eu marco presença constantemente. Mas há em minha substancia comum algo que faz-me parecer para os meus olhos e aos olhos dos outros que sou um estrangeiro, um Kerouac da vida, o gringo idiota que é quase sempre enganado por gente mais esperta. O antipático.
Aqui tem de tudo; marafonas, burgueses, agiotas, senhorios cabreiros com seus hospedes, safados, sacizeiros, chicanos, gatas extraordinárias, sereias sifíliticas, bichas, bichinhas, pagadores de boquete, canalha, atura-canalha, pessoas de bem e pessoas demais. Todos se cruzam, todos passam pela praça bonita de jatos de aguas luminosos. Esse lugar me relaxa, me relaxa dividir ar com toda essa gente que respira pelos poros. E eu fico a contemplar, e todo mundo pensa que sou um bocó.
Aqui não há herói nem vilão. Há sobreviventes, o sargaço, a fome, há luta. Essa gente que deve obediência particular somente e integralmente ao fluxo e a rotação. O fluxo e a rotação estão por trás de seus chefes e senhorios e imposto de renda.
Pessoas que criaram o hábito de passar de protagonista a coadjuvante todos os dias de sua vida, pessoas que nem assim conseguem ser o centro de suas próprias vidas.
As vezes eu tenho a impressão de que estamos perdidos pendentes nesse mundo, que é um ebrião morto, onde o sol é um cu ensaguentado.
Questionar é bom quando se tem um copo de vinho barato do lado, ao contrário disso você enlouquece, as leis da fisica e metafisica, a charada do existencialismo, o sentido da vida, os eus interiores... Tudo isso eu batia um bolão quando tinha 14 anos.
Hoje não quero mais pensar em nada disso, me acostumei a não levar as coisas tão a serio, e vigiar cada momento que vivo, um após o outro... até ver no que vai dar.
As pessoas, as vezes me seduzem a linha de frente sem saber que sou um franco-atirador daltônico.
A mulher que se atirou da passarela, se atirou por alguma razão, ou por razão nenhuma. Nunca irei saber, e é exatamente isso que me destrói, que me põe a nocaute. Por isso eu invento.
Essa mulher foi protagonista, ela desobedeceu o fluxo natural e foi o mais longo extremo de uma atitude, virou noticia por algumas horas e nunca motivo de pena, aqui as pessoas não perdem tempo com lamentações para com estranhos.
Logo depois ninguém mais se lembrava dela, pois tinham que seguir com suas séries.

Começo amanhã cedo num emprego de entregador de quentinhas numa empresa grande e darei banca para uma pá de crianças peversas inspiradas no pica-pau que assistem em demasia.

Isso é só para me estabelecer e sustentar meus furtivos vicios, comprar livros, e pegar ônibus para ir para Arembepe sempre que quiser.

Isso é só por enquanto, enquanto eu não arrumo um emprego numa livraria ou num Pólo qualquer.

O Henry Miller, sabiamente, tem me consolado.


"(...) parece que isso está acabado, a minha vida na Vila Borguese.

Bem, apanharei estas páginas e mudar-me-ei. Aconteceram coisas em outros lugares. Sempre estão acontecendo coisas. Parece que onde quer que eu vá existe drama.

As pessoas são como chatos_penetram na pele da gente e enterram-se lá. A gente coça e coça até sair sangue, mas não pode livrar-se permanentemente dos chatos. Em toda parte que eu vou, as pessoas estão fazendo uma trapalhada em suas vidas... Todos tem sua tragédia particular. Está no sangue agora_ infortúnio, tédio, aflição, suicidio. A atmosfera está saturada de desastre, frustação, futilidade. Coça-se e coça-se_ até não restar mais pele.

Todavia, o efeito sobre mim é estimulante. Em vez de ficar desencorajado e deprimido, divirto-me. Estou clamando por mais e mais desastres, maiores calamidades, malogros piores.

Quero que todo o mundo se desmantele, quero que todos se cocem até morrer."



Don´t try.

Um comentário:

Polly disse...

Adoro, re-ler-te!
Poque estás sempre diferente.

^-^