quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Puxando e comendo algumas sardinhas.


Mr. Scareclown na versão mais comercial do que nunca!!!

-Chegou o meu novo Blog, uma esponja de aço muito boa, não, não, verdade seja dita... Não é tão boa assim, é feia, e fede a ferrugem...

jesusnaotemdrogas.blogspot.com

Acesse e deixe o seu comentário. " Seja Bem vindo ao mundo dos Caretas!"
-Corta! Perfeito!
-Aff, já não aguentava mais sorrir para as câmeras, merda, bando de imbecis, cadê a porra do meu cigarro negrinha? Cadê caráleo?! Foi vc que roubou não foi sua puta desalmada?! Bando de incompetentes... O que é? Que luzinha é essa? Tá gravando?! Estamos no ar?!

(Mr. Scareclown escancara o seu melhor e mais falso sorriso cor de bufa, e exibe os seus 32 dentes amarelados de cigarro e vinha para o publico alvo)

-Sem Dáblios, dáblios, nem ponto br, por favor...

sábado, 25 de novembro de 2006

Zéfiro


São três e trinta e cinco. Madrugada. Noite e dia.
Não choro mais...
Acendo um cigarro e tomo um café fraco para misturar com o meu estado.
Visto negro para combinar com o meu humor, estou de óculos escuros para me acostumar com essa cor cinza, névoa que se apoia nas minhas pálpebras cansadas.

Estou na sacada do meu prédio, lá embaixo as pessoas parecem felizes, se divertem, estão todas fantasiadas em cúpulas populares... Velhas Convenções.
No rádio toca uma antiga canção do Bob Dylan e sua voz esganiçada, querendo chamar a atenção da cidade.

Mas ninguem liga, ninguem me liga, o telefone não toca.
Eu não sinto ninguem me sentir, estou estático, impuro, sujo, pesado.
Me equilibrando em fios de nylon.
Queria sentir tua mão gelada esquentando a minha, a tua pele, a textura, teu corpo franzino e doce do perfume que eu não sei o nome, o hálito fresco da tua boca milimetricamente perto da minha.

Tua boca cheira a cigarro, e as vezes a maconha, e eu gosto. Gosto do teu olhar sonolento e vermelho, gosto da lingua em que nossas almas se comunicam, gosto das tuas nóias e tú gosta dos meus segredos.

Não responda. Não precisamos saber a pergunta que eu não fiz.

-Falta de coragem? Quer um pouco?
-Me dá um gole disso aí?
-Sabe? Quando eu morrer, eu quero voltar em forma de tranquilizantes...
-Perto de mim. Sempre.

Há coisas que precisam apenas ser sentidas, degustadas, ingeridas. Dou uma tragada profunda no cigarro vaporoso, vejo a fumaça esvair-se no ar, como num dia em que nós dois nos eclipsaremos.
Eu que sempre fui um homem sem intervalos, mas cheios de espaços vazios...
Depois voltaremos em outra vida como gatos, espertos e rebeldes, em plena era de aquário.

Tú estas entre os meus dedos, teu cheiro impregmina minha roupa, meu corpo. Red Holliwood.
Tua lingua descobrindo a minha, causando tentações em meu corpo.
"O Cabo das Tormentas"
Um leve Zéfiro me estremece, me arrepia. Meu sexo viril lateja em meu corpo patético.
Pelo menos consta que há algo vivo, Bob Dylan grita em meus ouvidos, meu corpo renuncia, se aquece, parece que eu fui tomado por uma sucessão de demônios, nem uma puta por aqui.

Assim começo a me beijar, a me acariciar, me arranhar. Sentia um prazer mutuo, continuo...
Como se um outro tivesse me sentindo.

Não era você, não era ninguem.
Era eu.
Sentia uma espécie de narcisismo mórbido, sentia prazer comigo mesmo, pela minha carne fresca e vermelha.
"O Calcanhar de Áquiles"
Antes do gozo, subitamente minha vista embaçou, sentia tudo como se fosse a primeira vez, como se não estivesse ali, surreal. O som parou de tocar. Gozei.
Lá fora os burburinhos, o som escaldante.

Fui para o quarto, acendi a luz. Vi uma barata. Apaguei a luz, deitei, cochilei, acordei, andei pelo quarto, nada fazia sentido, proferia absurdos... O que está acontecendo?
No ar sinto cheiro de auto comiseração, essa cidade e suas pessoas, sempre perdoando suas falhas, ou será que sou eu?
Me sinto podre... Envergonhado... Enrrubecido pelo ato.

Ahnhhhhhhh!!! Minhas Costas! Ahnnnhhh! São elas, são elas!!!! Minhas asas estão nascendo!!!! Por deus, estou nascendo!!!!! Ahnnhhhh!!

Tudo muda.
Tudo ficou mudo. Não consigo mais ouvir os burburinhos, o gemido sangrento da cidade.
Pois ela dorme cansada, você dorme, a insônia dorme, e eu vôo.
Vou até a sacada, olho o céu, vejo à alvorada.
Sentia uma formidável necessidade de me atirar ao abismo, ao desconhecido.
Meus olhos exauridos aos poucos se fecham, e eu pulo no ocaso.
Até hoje ninguem sabe, creio também que ninguem viu
mas eu voei, voei para bem longe, espaços Siderais.
"A Era de Aquárius"...

Quando eu morrer, não quero ser mais uma estrela no céu, o olhar dos mortos.
Quero ser o Zéfiro.
Um vento bom em noite de lua cheia.
Quero tocar seu rosto, assanhar o teu cabelo e beijar a tua face.

Eleanor Rigbh


Conhaque e Rivotril

Eleanor Rigbh morreu com uma dose demasiada de rivotril e do auxílio luxuoso de um bom conhaque.
Morta em sua cama, num quarto abafado e com luz lúgubre, o ventilador ligado espalhando frescor instantâneo, ora direita, ora esquerda...
O som alto toca repetidamente uma canção de Roberto Carlos, uma em que ele dizia ser feliz e que a tristeza nunca mais voltaria...
Pelo quarto, garrafas vazias de cervejas e bitucas de cigarros espalhadas pelo chão, e algumas peças de roupas, poucas, porque a maioria ela ateou fogo num ataque de loucura e desespero.

Seu corpo inerte e ainda quente pesa na cama desforrada. Se arrumara antes de morrer.
Vestira um um vestido negro, maquiagem cor de queijo palmira, jasmim e batom escarlate.
E uma jóia das mais bonitas de sua coleção na época gloriosa de Miss cidade alguma.

Seus olhos inchados e vermelhos de tanto chorar na noite passada, que não dormira um sono, nem aqueles dos malditos, cheios de pesadelos, que ela tanto queria...
Nada, nem um bocejo.
Apenas a insônia e a solidão.

Seus olhos cansados e insanos que muito lembra duas gudes pretas, estão parados numa folha de papel cravado com um punhal no guarda roupa de madeira.
Assim estava escrito de caneta Compactor azul: "Eis aqui a seita satânica da feiticeira"

Eleanor Rigbh morreu com 82 anos porque não tinha mais nada de pior para fazer.

Conhaque e Rivotril

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Da vez em que o meu amigo virou burguês


- Realmente, a burguesia lhe caiu como uma luva!

Eu falo isso pra ele sentado numa poltrona black estolfada, pondo em um copo bonito e detalhado uma dose de Jack Daniel´s.

-Você acha isso mesmo?!
-Claro! Você sempre teve uma pose de rico, mesmo sendo um proletário sofrido! Eu acho que é porque você lia boas coisas...

Passo os meus olhos invejosos ao redor da mansão, procurando um defeito se quer na vida que poderia ser minha, nada, nem uma meleca velha grudada na parede.
James foi o meu professor de teatro, dava aulas de português e matemática, ele amava o paradoxo!
Eu achava um saco ter que ser uma pessoa só, gostava de manifestar o meu pior lado, e fazia isso com as crianças da minha rua, passava com roupas pretas e cabelos desgrenhados, espinha na cara e falava sozinho.

O maluco da Vila.
Poucas que não corriam para dentro das suas casas quando eu passava, vinha receosas e cabreras me observar passar, alterando seus ouvidos para escutar o que eu tanto susurrava....
-Can you feel my love buzz... can you fell my love buzz...
-Psiu! Ele deve tá falando com o demo!
-Que lingua é essa?
-Alô!!! Demonista né idiota?!
-Ahnnn...
-Careta!!! Cadê a greta?!
-Tá no cú da mãe! Eu devia dizer isso.
Mas não. Prefiro sorrir pra eles.Não gosto de crianças, mas gosto da imaginação infantil. Eles se soltam, proliferam absurdos, é tudo a mais completa fantasia...
Ou não.

-Can you fell my love buzz...
-O quê?!
-Hãn? Nada. Tava aqui pensando...
-Uma hora dessas se o meu filho estivesse vivo, ele estaria voltando da faculdade.
-Eu sinto muito pelo o seu filho.
-Todos sentem não é mesmo?

Eu queria escutar alguma coisa alegre, não o silencio brutal daquela mansão que me parecia triste, taí. Triseza é o que tem de ruim nessa casa.Mas a tristeza é nescessária, nada que alguns goles de absinto não resolva.
Mas James não bebe, esse é o problema. Apenas ora.

-Porque você tem um bar se você não bebe?
-E quem disse que eu não bebo? Bebo sim, só que não como você... E também porque a minha mãe disse que era elegante.
-Se você tivesse casado com a crente, sua vida seria completamente diferente.
-Minha vida seria completamente diferente se eu não fizesse muita coisa...
-O crime por exemplo.
-Eu não quero falar sobre isso. Vamos ouvir algum som?
-Posso escolher?
-Claro.

Fui a procura de The Velvet Underground, mas só o que eu achei foi Jazz e Blues.

-Porra bicho, você não esculta mais rock n´roll?!
-Não. Rock n´roll é pra garoto como você... Agora só B.B King, Billie Roliday, Etta James... Esculte, você vai gostar.

Ponho o disco no mega som, e já vou logo me abtuando com as sonoridades lúdicas de Billie Roliday. James cantava e chorava olhando para o retrato do seu filho, aquela nostágia impiedosa dele já estava me dando asco, eu nuca vi James chorar, há não ser no enterro do filho, que morreu com quinze anos atropelado por um opala azul, aquilo tudo não fazia sentido pra mim, ele estava rico! O que mais ele queria?
Eu sei, ele é pai, mas ele sabe o que é perder e tirar alguem querido de outro alguem.

James e eu fomos abordados uma vez por dois homens magros e albinos, eles eram alemões. O mais alto, chamado Tevoawski, convida James para tomar um café.

-Você conhece esse cara?
-Sim. Vai pra casa, depois a gente se fala.

A noite eu encontro James numa praça, desolado, bebendo horrores, falava coisas desconexas, e dizia que o inferno lhe esperava, eu pergunto porque, e ele me responde com um beijo no rosto.
-Eu matei... eu matei... ninguem nunca vai me perdoar, nunca...
-Quem você matou?
-O seu Elizeu, o dono da fabrica de papel... eu matei por dinheiro... eu sou um monstro... eu sou um monstro!
E dizia essas palavras batendo em seu peito com força e pedindo piedade para o seu deus.
Uma semana depois sem ver James, eu tenho nóticia que ele estava rico, negócios...
Bem vestido, de carro, James não trabalhava mais como professor de teatro, nem namorava mais a sua namorada crente, havia abandonado a igreja com a desculpa de estar muito oculpado, mas para mim, que James confiava tanto, ele dizia que não podia ser tão hipócrita, o assassinato já pesava demais na suas costas, e eu perguntava fingindo esquecer.

-Que assassinato?
-Assassinato? Eu falei assassinato?

E riamos da nossa inapreciável hipocrisia.

-Quando eu morrer, você e o meu filho, seram meus herdeiros
-Não brinca.
-Não estou brincando, você é o meu unico e verdadeiro amigo.

E hoje, golando doses de Wisky e vendo uma cena patética de um ser humano rancoroso e triste beijando constantemente o porta retrato do filho morto, eu começo a chorar também, o meu pior lado quer se manifestar e eu não consigo segurá-lo, o aperto contra o meu peito.
As cenas do crime manifestam-se em minha mente numa forma psicodélica.

-Quer ficar rico também não quer? Você tem inveja dele.
-O que você tá falando? Não enche o saco.
-Tá esperando ele morrer pra ficar com a herança?
-Eu não sou o filho dele!
-Vai esperando então...

A ex namorada de James era todo cinismo, alma decrépita presa em um corpo sinuoso e lascivo, maquiagem bem feita, batom vermelho borrado.

-Eu sei de tudo, do crime, da cena, de cada detalhe.
-Como sabe?
-Seria um crime perfeito se o assassino não revelasse tudo no seu diário. É, um idiota, você pode se sair melhor do que ele, eu confio no teu potêncial.
-O que você quer de mim?
-Eu quero a cabeça dele, numa bandeja.
-Você quer eu mate o James?
-Não. Eu quero que você mate o filho dele. O sofrimento as vezes é pior do que a morte... Eu pago muito bem.

Era um dia bonito e fazia sol, o filho de James saía da escola com as outras crianças, acabara de lanchar um cachorro quente numa barraquinha da esquina, eu o observava de longe no opala azul emprestado, eu o matei, passei por cima da sua inofensiva cabeça, e os seus ossos despedaçaram-se.
Eu estraguei o garoto que tinha o futuro pela frente por um destino burguês.

E hoje aqui estou, com uma arma escondida na minha cintura, olhando pra James chorar pelo seu filho morto, pobre de espirito e financeiramente por baixo, cometi o crime que James cometeu e não fiquei rico, a vagabunda fugiu e me deixou com um crime nas costas e uma conciência pesada.

-Porra James, para de chorar caralho! Será que você só sabe chorar? Foda-se seu sofrimento! Acaso você pensou no sofrimento da filha do seu Elizeu?
E James chorava de soluçar...
-Eu não queria... Eu não queria...
-Tarde demais não?

Cinco tiros no peito, James cai no carpete importado ainda vivo e sangrando muito.
Hoje, voltando pra casa sozinho, eu penso em que vou comer quando chegar em casa, preparo um macarrão instantaneo, esculto The Velvet Undergroud e leio Rimbaud.
"Temos fé no veneno. Sabemos dar nossa vida inteira, todos os dias.Eis o tempo dos Assassinos"
Hoje eu sou um burguês, herança do meu velho e bom amigo James.